O País – A verdade como notícia

A Educação Como Algemas do Povo

“A maior arma de um opressor é a mente do oprimido.” — Steve Biko

  1. A Ignorância Como Política de Estado

A história de um povo é escrita nas salas de aula. O destino de uma nação não se decide apenas nos palácios ou nas urnas, mas sim, nos livros que são colocados nas mãos das crianças, nas palavras que lhes são ensinadas como verdades absolutas, nos limites impostos aos seus pensamentos, antes mesmo que possam questioná-los.

Em Moçambique, a ignorância não é um acidente. É uma construção. Os conteúdos escolares são cada vez mais superficiais, distorcidos e, muitas vezes, deliberadamente falsificados. Os jovens aprendem que Moçambique faz fronteira com o Mar Vermelho, que Azagaia, o maior rapper e activista da sua geração, era um mero consumidor de drogas, que é normal adolescentes do mesmo sexo desenvolverem desejos sexuais um pelo outro. Não sei como pode isso ser descrito como educação. Livros com erros grotescos são distribuídos nas escolas e, quando são expostos ao público, o Ministério da Educação alega desconhecimento. Mas a questão essencial permanece: se ninguém aprovou os manuais, como chegaram eles às mãos das crianças?

A resposta não está na incompetência, mas na intenção. Manter o povo na ignorância é o primeiro passo para garantir que ele não questione, que não lute, que não se rebele. A falta de uma educação de qualidade não é um descuido, mas sim um projecto de poder. 

  1. A Polícia e o Estado: A Violência Como Método

A consequência directa de uma população mal instruída é um sistema de justiça brutal e primitivo. A polícia moçambicana não investiga crimes, não respeita procedimentos legais, não consulta peritos forenses ou linguísticos. Não porque não queira, mas porque não sabe. A Constituição, que deveria ser o pilar do seu trabalho, é um livro desconhecido para a maioria dos agentes. Sem conhecimento da lei, aplicam apenas a força.

Os casos de abuso policial são incontáveis. A prisão arbitrária e a tortura tornaram-se ferramentas comuns para extrair confissões, e qualquer voz dissidente é silenciada. Um exemplo recente foi o famoso caso de Unay Cambuma (Wilson Matias), que foi espancado e humilhado publicamente. Mas parece que seu processo desapareceu nos corredores obscuros da impunidade. Está preso? Vai a julgamento? Ninguém sabe.

E poucos se atrevem a perguntar.

A impunidade é a lei silenciosa que governa Moçambique e a falta de conhecimento da população torna-a possível. Como exigir justiça quando não se conhece os próprios direitos?

III. A Mídia: A Verdade Silenciada

Se a educação fracassou e a polícia governa pelo medo, restaria ainda um último reduto de resistência: a imprensa. Mas o que acontece quando até a mídia é controlada?

A televisão estatal moçambicana (penso, única estatal), há muito, perdeu credibilidade.

Pressionada pela população a ser menos “mentirosa”, continua a operar sob uma única perspectiva: a que favorece o poder. A notícia não é um reflexo da realidade, mas sim, um espelho distorcido, uma narrativa cuidadosamente construída de modo a manipular a opinião pública.

Como alternativa, surgiram canais independentes, como a TV Sucesso, de Gabriel Júnior.

Mas dizer a verdade tem um preço. O sinal do canal foi removido da DSTV, sem explicação, deixando milhares de moçambicanos sem acesso a uma das poucas fontes de informação confiáveis. 

  1. O Custo de Dizer a Verdade

A censura à imprensa independente e a perseguição de activistas são sintomas de um governo que teme a consciência do seu povo. Mas nem todos se calam. Movimentos de jovens como os de Nádia Munguambe, Quitéria Guirengane, continuam a lutar pelos direitos humanos, mesmo sabendo que a batalha é desigual.

A luta pela verdade não é apenas uma questão de coragem. É uma questão de sobrevivência. Enquanto a informação for suprimida, enquanto a educação for manipulada, enquanto a violência policial for normalizada, Moçambique permanecerá refém de um sistema que prospera à custa da ignorância.

  1. A Última Pergunta

E então, o que fazer?

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos