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A corrupção está na moda

Quem quiser desmentir esta afirmação arrisca-se a não ser convincente. A corrupção está mesmo na moda. Desde que o país experimentou a democracia que ela se evidenciou, entranhando nos mais finos tecidos da sociedade, até se auto-afirmar independente e livre de sanções. Já de barba branca e altamente nociva, ela torna-se um trunfo político, uma arma de guerra com balas de borracha que ferrem, mas não matam.

A corrupção como uma acção ou mesmo um conjunto de letras que produzem um significado constrangedor para quem o decifra longe do contágio social de um povo embriagado pela prática, é uma triste realidade nacional que repele o desenvolvimento do país.

Na eloquência dos seus discursos “cor-de-rosa”, o Presidente da República tem falado da luta contra a corrupção como um pastor quando prega a Palavra de Deus na luta desesperada pela conquista de fiéis. Quanto mais emocionante e embalador for, melhor. Assim foi no discurso de 15 de Janeiro de 2015, reeditado a 26 de Setembro de 2017 – para os camaradas no 11º Congresso – e agora com mais feitiço, no dia 13 de Outubro de 2017, para uma plateia de dirigentes intermédios da Função Pública.

Enquanto uns socorrem-se do ditado popular que diz “cão que ladra não morde”, outros, viciados de esperança, encontram na sabedoria popular a teoria que diz “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. O ângulo da verdade está na rigidez da crença individual; a crença directamente proporcional à verdade. Portanto, dispensa discussão – diriam os sábios.

O Orçamento do Estado para o próximo ano denuncia, em simples leitura, que poucos esforços serão encetados na luta contra a corrupção. O Presidente Nyusi quer instituições da Justiça fortes e independentes. Estas clamam por fundos para que tenham mais pujança e o Orçamento pouco altera no que aloca ao sector. E a grande corrupção vai-se enraizando, com a anuência objectiva das ferramentas cirúrgicas obsoletas.

Em voos rasantes, também se contempla o agudizar da pequena corrupção. A tesoura entrou no sector dos transportes, retirando mais de metade do valor que lhe foi atribuído no ano passado. Se indigna é a forma como são transportadas as pessoas, pior é o fomento das teias da corrupção. Os “my love” – salva-vidas – passam por inúmeras chantagens no trajecto em que actuam. Enquanto operam como alternativa possível, são cobrados formalismo, como se os desejássemos legalizar.   

Não pretendo ser a uma antítese à governação do dia, mas ainda que emocionalmente embale como os melosos discursos anestesiantes, passado o finito efeito insciente, afogo-me na arrepiante realidade, que aponta para mais décadas com esta moda em alta.

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