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Letela e Nhatitima consideram inaceitável “despejo” da selecção de basquetebol no Zimbabwe

Foto: O País

Os antigos jogadores da selecção nacional de basquetebol sénior masculino, Sílvio “Nelinho” Letela e Helmano Nhatitima, mostram-se agastados com o tratamento dado ao conjunto que se qualificou, terça-feira, para a segunda edição do Afrocan. Letela e Nhatitima consideram inconcebível que uma selecção seja “despejada” do local de hospedagem por falta de pagamento de taxas de participação no torneio.

Os ex-atletas dizem estar na hora de dizer basta a esta situação, que não é a primeira, e devolver dignidade à selecção que tem sido “marginalizada” em relação à sénior feminina, que dispõe de melhores condições em face do apoio que recebe de uma multinacional.

“É lamentável e triste o que aconteceu em Bulawayo. Acredito que nenhum ser humano deve passar por aquilo. Quanto mais atletas de alta competição, que carregam a bandeira de um país”, lamentou Sílvio Letela, antigo capitão da selecção nacional de basquetebol sénior masculino. Letela, como que a antever a qualificação de Moçambique para o Afrocan, mesmo depois do momento conturbado, disse: “Mas eu acredito que a equipa tem uma estrutura mental bastante forte para passar por cima destas adversidades”.

Nelinho, como também é conhecido, disse que o momento que o basquetebol atravessa não é dos melhores sob o ponto de vista de gestão da modalidade da bola ao cesto: “Este acontecimento veio, mais uma vez, expor o défice no que concerne à gestão desportiva dos nossos dirigentes. É inconcebível, a 24 horas de um jogo bastante importante, que definiria a equipa que representa a zona VI no Afrocan, termos uma situação que envergonha o país”, frisou o também antigo jogador do Maxaquene, Desportivo e Costa do Sol.

Sílvio Letela não tem dúvidas: urgem mudanças para dar outro rumo ao basquetebol moçambicano. “É altura de dar um basta a este tipo de situações. Acredito que a Secretaria de Estado [do Desporto] vai intervir para responsabilizar quem criou esta situação.”

Por sua vez, Helmano Nhatitima, considera que o basquetebol moçambicano está a regredir. Para o antigo jogador da selecção nacional, há uma crescente preocupação com o rumo que o basquetebol está a tomar no país. “No que diz respeito à selecção nacional de basquetebol, diríamos que alguns fazedores da modalidade estão preocupados com a situação do basquetebol. Os fazedores estão preocupados com o quadro degenerativo que tomou o basquetebol ao nível de Moçambique por conta da selecção nacional masculina”.

Para Nhatitima, “alguns podem dizer que a selecção de basquetebol feminino está bem, mas o espelho de um país no final do dia é uma selecção masculina. O que temos assistido, no cômputo geral, é uma selecção masculina a cair. Uma selecção masculina a apresentar um quadro degenerativo e a perder o barco em África. Estamos a dizer que Moçambique, desde 1995, participa em todas as competições africanas de basquetebol. Estamos a dizer que durante algum tempo sempre tivemos uma selecção competitiva. [Importa] Lembrar que Moçambique fez o seu primeiro ‘Afrobasket’… penso que em 1983. (…) Temos selecções que estão a investir e a aparecer enquanto vemos Moçambique a perder o barco”, lamentou o antigo basquetebolista.

A selecção cabo-verdiana de basquetebol qualificou-se este domingo, pela primeira vez, para o Campeonato do Mundo, ao vencer a Costa do Marfim, por 79-64, em Luanda, Angola, na terceira jornada da quinta e última fase de apuramento. Este feito não passou despercebido a Helmano Nhatitima, que fala do grande investimento que outros países estão a fazer na modalidade da bola ao cesto, enquanto Moçambique “vê o barco a passar”. “É preciso lembrar que esta será a primeira participação de Cabo Verde no Campeonato do Mundo. Olhamos para Moçambique, que tem tradição no basquetebol. Há cerca de 25/30 anos vem participando em ‘africanos’ de forma consecutiva. Moçambique não está a lutar para se qualificar para o Mundial, mas sim para um campeonato interno. Mesmo nesta prova está a ter dificuldades para se impor perante selecções como Zâmbia e Zimbabwe”, exemplificou.

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