Um homem procurado por liderar um grupo que fazia raptos com pedidos de resgate em Moçambique foi detido no sábado à noite num condomínio de luxo próximo de Pretória, anunciou, este domingo, a Polícia da África do Sul.
“Uma equipa multidisciplinar liderada por membros da Célula de Planeamento Trilateral (TPC) e da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) invadiu uma propriedade de luxo em Centurion onde deteve o alegado líder, procurado por casos de rapto em que pedidos de resgate foram feitos em Moçambique”, referiu o comando nacional da Polícia Sul-Africana (SAPS), em comunicado, divulgado ontem.
Centurion é uma área residencial com mais de 200 mil habitantes situada entre Pretória, a capital do país, e Midrand, na província sul-africana de Gauteng.
O comunicado da Polícia sul-africana, a que a Lusa teve acesso, sublinha que as forças de segurança sul-africanas “agiram com base num mandado de prisão e num pedido de extradição do Governo de Moçambique”.
“No sábado à noite, a equipa que também integrou a ‘Task Force’ Especial (STF), e a unidade de Inteligência Criminal e Crime Organizado prendeu Esmael Malude Ramos Nangy, de 50 anos, numa residência em Centurion”, salientou.
“A Polícia apreendeu na sua posse uma arma de fogo 9mm licenciada, catorze munições de 9mm, cinco telemóveis, vários cartões bancários de bancos sul-africanos, bem como vários cartões SIM moçambicanos e sul-africanos”, adiantou a nota da polícia sul-africana a que a Lusa teve acesso.
O homem comparecerá no tribunal da magistratura de Randburg, em Joanesburgo, na segunda-feira, segundo a Polícia sul-africana.
Contactada pela Lusa, a porta-voz do comando nacional da Polícia da África do Sul, Athlenda Mathe, explicou que a detenção foi efectuada cerca das 19:00 (17:00 em Lisboa) de sábado.
Segundo a porta-voz policial, as autoridades moçambicanas solicitaram em Julho do ano passado a prisão e extradição do suspeito para “ir a julgamento por crimes de sequestro e conspiração cometidos em Moçambique”, acrescentando que Maputo não especificou os alegados crimes de “conspiração”.
“Claro que vamos também investigar possíveis ligações do suspeito com os sequestros que têm sido perpetrados no nosso país”, frisou Athlenda Mathe à Lusa.
O TPC é uma estrutura de policiamento que foi criada pelos governos da África do Sul, Moçambique e Tanzânia para combater o crime organizado transnacional na região.
SUPOSTO MANDANTE DE RAPTOS DETIDO NA RAS PODERÁ SER EXTRADITADO PARA MOÇAMBIQUE
A ministra do Interior confirma a detenção, na África do Sul, de um suposto mandante dos raptos em Moçambique, e o implicado é de nacionalidade moçambicana, pelo que poderá ser extraditado para o país. Arsénia Massingue diz, entretanto, que o país ainda não foi notificado sobre a detenção para início da extradição do indiciado.
Em 2022, foram registados, em todo o país, 13 casos de rapto, dez dos quais já esclarecidos, segundo a informação prestada pela ministra do Interior. Arsénia Massingue avança, também, que há 36 detidos em conexão com o crime de rapto.
Neste fim-de-semana, as autoridades sul-africanas e a INTERPOL detiveram um moçambicano de 50 anos, de nome Ismael Nagy, implicado em vários casos de rapto.
“Naturalmente, como os casos não foram todos esclarecidos, foi emitido um mandado de captura internacional de um dos envolvidos nestes casos de rapto, e a resposta é esta que acompanhámos da detenção deste cidadão na África do Sul para poder responder ao que pesa sobre si”, confirmou Arsénia Massingue, ministra do Interior.
O suspeito de liderar raptos em Moçambique foi ouvido, esta segunda-feira, pela justiça sul-africana, onde poderá ser decidida a sua extradição, mas a ministra do Interior diz que as autoridades moçambicanas ainda não foram notificadas.
“Os passos a seguir como devem calcular é que as nossas instituições da administração da justiça sejam notificadas formalmente, porque todos nós acompanhámos pela imprensa. Ainda não houve uma notificação formal, e o passo seguinte será esse e, depois, seguir-se-ão outros”, referiu.
Entretanto, o Ministério Público esclarece que a detenção do suposto raptor envolveu a Polícia moçambicana, sul-africana e a INTERPOL e, neste momento, decorrem démarches com vista à extradição para Moçambique do indiciado.
Quanto ao empresário raptado e depois entregue à família morto, alegadamente após tortura, a titular da pasta do Interior pediu paciência e garantiu que o caso será esclarecido.