Numa centena de páginas, o reitor da Universidade Pedagógica, Jorge Ferrão, trata da distribuição dos animais mamíferos no território nacional e refere-se aos bichos em extinção.
Logo após a hora do almoço de sexta, Jorge Ferrão lançou a obra Mamíferos – uma selecção da nossa fauna. A cerimónia do lançamento do livro que chama atenção para a protecção dos animais, sobretudo os que estão em vias de extinção, aconteceu no Auditório do BCI, na cidade de Maputo, tendo como apresentador Mia Couto.
Referindo-se ao livro publicado sob a chancela da Texto Editores, Mia Couto começou com uma pergunta retórica, ao questionar por que é necessário a preocupação pelos bichos, se há problemas maiores que afectam as pessoas. Respondendo a si próprio, o escritor e biólogo logo rematou que a questão, colocada daquela forma, está mal feita, porque a separação sobre o que é das pessoas e o que é dos bichos não deve ser feita daquele modo. Na percepção do Prémio Camões 2013, a humanidade adquire uma personalidade graças a sua relação com os bichos: “Nós aprendemos a ser pessoas através dos animais. Uma grande parte dos nossos valores humanos e morais nascem quando nos contam histórias. E em todas as culturas do mundo as histórias da infância são muito fundadas nos animais, de onde saem os valores positivos. Os animais ajudam-nos a construir a nossa própria humanidade”. Para Mia, assim é porque, em diversos países, com particular destaque para Moçambique, a riqueza está na vida, que é feita com base em todos os seres vivos: “os homens, sozinhos, nem que por segundos, não conseguiriam sustentar-se neste planeta”.
No livro de Jorge Ferrão estão 45 espécies de mamíferos, dos quais o autor destaca a extinção do rinoceronte preto e branco ao longo do território nacional. Por isso, advertiu o apresentador da obra, quem quiser ver esse bicho só pode ir a África do Sul ou ao Quénia. “E a pergunta que se coloca é: Quem é que se beneficiou com isso? Ganhamos? Perdemos todos”, frisou Mia Couto.
Mamíferos – uma selecção da nossa fauna é um livro composto por 128 páginas, e, de acordo com o autor, surge, igualmente, da necessidade de contribuir para corecção de equívocos relativos à fauna moçambicana, perpetuados com a chegada dos portugueses. “A presença colonial em Moçambique também teve muitos erros”, começou por dizer Jorge Ferrão. “A administração colonial, não conhecendo a fauna que tinha, pegou em nomes portugueses e tentou adaptá-los aos animais moçambicanos. Era a única forma deles poderem mostrar algum conhecimento, porque não ficaria muito bem ir ter com os nativos para perguntar o nome de um animal. Foi nesta senda que eles começaram a tratar o nosso cabrito do mato por gazela, mas, na verdade, o nosso ecossistema não tem gazela. Nós estamos a perpetuar um erro, de alguém que nunca conheceu um animal africano”. E Ferrão apontou mais um erro colonial, ao referir-se que Moçambique não tem javalis, que esse bichinho é da Europa. Logo, assim entende o autor de Mamíferos – uma selecção da nossa fauna, há que se recuperar os nomes certos dos animas.
A cerimónia de lançamento do livro, que teve animação humorística e musical, de Pedro Muiambo e Roberto Chitsondzo, respectivamente, não terminou sem antes Jorge Ferrão acrescentar mais uma informação, ao dizer que o pangolim é um animal que sofre em maior escala os efeitos da caça furtiva, embora, de forma generalizada, só se fale de elefantes e rinocerontes. De acordo com Ferrão, o pangolim é traficado vivo e morto e passa despercebido porque ninguém cuida do animal.