Alguns sobreviventes dos ataques terroristas em Cabo Delgado, querem voltar a Mocímboa da Praia o mais urgente possível e pedem ao Governo para abrir as portas da vila que abandonaram, há mais de dois anos.
“Estamos cansados do sofrimento que estamos a passar nesses acampamentos, onde há fome, doenças e somos humilhados pelas comunidades que vivem perto dos centros de reassentamento. Por isso, estamos a pedir ao Governo para deixar-nos ir para Mocímboa da Praia”, implorou Fátima Anli, uma deslocada que perdeu o marido, durante um dos assaltos armados à vila. Fátima escapou com suas quatro filhas, sem especificar o tipo de problemas com a população que as acolheu nas zonas seguras.
Além da ansiedade de ver o que sobrou das suas casas, os deslocados pretendem regressar à origem por alegadamente não estar a suportar a vida nos centros de acomodação e de reassentamento, onde a ajuda humanitária tende a escassear.
“Desde que viemos à Pemba com meu marido e sete filhos, há dois anos, recebi donativos duas vezes só. Agora nossos nomes não aparecem na lista dos deslocados beneficiários de ajuda, e as senhas são vendidas a 2500 Meticais, denunciou Liança Salibo, outra deslocada ansiosa em regressar à sua terra natal.
Mocímboa da Praia foi a primeira zona livre do grupo armado depois de Moçambique ter lançado uma operação militar com ajuda da República do Ruanda e dos Países de Desenvolvimento da África Austral, que recuperaram a vila em Agosto de 2021. Por razões de segurança, a população ainda não foi autorizada oficialmente a regressar.
“Uma boa parte dos deslocados de outros distritos estão a regressar para as suas casas, menos nós de Mocímboa da Praia, que todos os dias ouvimos brevemente voltaremos à terra, mas até hoje nada. Para nós isso é estranho e complicado”, reclamou Manuel Correia, natural e empresário de Mocímboa da Praia, que está ansioso em recomeçar a vida.
Informações não confirmadas indicam que a vila de Mocímboa da Praia já começou a ser reocupada pela população, mas por razões estratégicas o regresso dos deslocados continua condicionado.
“Alguns já começaram a regressar paulatinamente, mas o processo ainda é lento por causa das medidas de segurança. O que nós queremos é uma autorização oficial do Governo para, de uma vez só, pegarmos as malas para Mocímboa”, confirmou Paulo Weng, Presidente da UMOJA Associação dos Naturais, Amigos e Simpatizantes de Mocímboa da Praia.
As preocupações dos deslocados foram levantadas na cidade de Pemba, capital de Cabo Delgado, durante as comemorações de mais um aniversário de Mocímboa da Praia, que foi elevada à categoria de vila a 7 de Março de 1959.
Até Agosto de 2020, a vila de Mocímboa da Praia, contava com cerca de 80 mil, mas devido aos ataques terroristas, hoje, vivem menos de 5000 pessoas.
O conflito armado começou em Outubro de 2017, em Mocímboa da Praia, e em quatro anos foram registados cerca de três mil mortos e mais de 800 mil deslocados.