Ataque cibernético protagonizado por piratas informáticos bloqueou e tornou inoperacionais e inacessíveis várias páginas de internet de instituições do Governo de Moçambique, com destaque para as do Ministério da Defesa Nacional, Gabinete de Informação e INGD. Entretanto, o Governo garante ter a situação já sob controlo.
Na tarde desta segunda-feira, o Executivo, através do Instituto Nacional do Governo Electrónico (INAGE), convocou uma conferência de imprensa para explicar os contornos do ataque cibernético de que foram vítimas cerca de 30 portais de instituições governamentais.
É verdade que a entidade que tutela as páginas electrónicas do Governo diz não ser trinta o número de páginas atacadas, porém há ainda dados por apurar, mas confirma que o hakers estiveram em acção.
“De facto, houve um incidente, houve um ataque informático, um ataque cibernético que nós notamos através dos nossos sistemas de monitoramento. Neste momento, o servidor está online e os portais estão todos acessíveis. Ainda não tivemos muito tempo para passar para a fase da pesquisa de verificação. Quando detectamos o problema, a nossa maior preocupação foi de fazermos um diagnóstico em primeiro lugar, depois de identificar o problema, as equipas começaram a trabalhar para a reposição”, explicou Hermínio Jasse.
O director-geral do Instituto Nacional de Governo Electrónico disse que não houve pagamento de resgate para a recuperação da informação e não foram igualmente perdidos dados que estavam disponíveis nos portais que foram atacados.
“Não houve nenhuma situação de perder dados pessoais, mesmo que eles tenham conseguido, copiaram aquela informação posta para ser consumida de forma pública. A recuperação do conteúdo não foi por via de pagamento de resgate”, avançou.
O sistema está, neste momento, blindado para resistir a ataques cibernéticos nas próximas ocasiões, segundo o director-geral do Instituto Nacional de Governo Electrónico.
“Houve um trabalho de blindagem para protecção da nossa infra-estrutura, de modo a que não volte a acontecer nas circunstâncias em que aconteceu”, garantiu.
Espera-se que, nos próximos dias, haja mais desenvolvimento em torno desta informação, visto que as equipas estão ainda a trabalhar para clarificar a situação.
TERRORISTAS DIGITAIS PARARAM POR MAIS DE 4H
Cerca de trinta sites de instituições do Governo ficaram mais de 14 horas indisponíveis, depois de um ataque cibernético do grupo Yemeni Hackers, um exército de terroristas digitais. Não há registo de um ciber-ataque desta dimensão em Moçambique.
O site do Instituto Nacional de Transportes Rodoviários (INATRO) foi a “cara” de um ciber-ataque que atingiu muitas páginas. Agora está tudo resolvido, mas, durante quase 24 horas, a mensagem que aparecia dava conta de que a página tinha sido tomada por criminosos digitais.
O invasor chama-se The Yemen Cyber Army, em português, o Exército Cibernético do Iémen, um grupo que actua no obscuro mundo do terrorismo digital.
Como já ficou claro, este não foi o único portal invadido. Da lista, publicada num dos sites onde grupos de hackers anunciam as suas vitórias (https://cybersharafat.com), constam trinta páginas. Lá estão portais do Governo central, órgãos de governação descentralizada e institutos que prestam serviços públicos essenciais.
Na tarde desta segunda-feira, o Instituto Nacional do Governo Electrónico anunciou a recuperação dos sites, mas as sequelas ainda são visíveis. Por exemplo, ao tentar aceder à página do Instituto Nacional de Gestão e Redução de Risco de Desastres (INGD), o conteúdo que aparecia, pelo menos até às 17 horas, era – “Hackeado pelo Yemeni Hackers”.
Há casos mais graves! Mesmo depois do anúncio da recuperação, o site da ARA-Sul continuou indisponível por muito tempo. As outras páginas, na sua maioria, eram lentas a abrir.
Depois de avaliar, especialistas dizem que os sitesestavam com as portas praticamente abertas.
“Isto prova que o nosso Governo não tem o mínimo de segurança possível. Temos simplesmente páginas disponíveis, mas, sob o ponto de vista de segurança, não temos nada”, disse José Barramo, especialista em Cibersegurança.
E esse é um terreno fértil para aqueles que invadem os sites com três objectivos fundamentais.
“Ou motivações políticas, religiosas ou económicas. Geralmente, tem sido por motivações económicas. Nessas investidas, os hackers tomam as informações e cobram resgate”, explicou o engenheiro informático, Dário Maxaeie.
Dário Maxaeie avisa que o grupo já faz ataques a Governos desde 2010 e pode estar relacionado aos que fazem terror na terra, como acontece em Cabo Delgado.
“Aparentemente, este é um grupo extremista. Alguns especialistas dizem que está relacionado com o Irão e, se calhar, pode também ter uma relação com os ataques que ocorrem no Norte do país”, desenvolveu Dário Maxaeie, que trabalha com Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) há mais de quatro anos.
O especialista em Cibersegurança, José Barramo, prefere não ir tão longe, mas diz que o Estado deve sentir vergonha da sua fragilidade.
“Devíamos preocupar-nos, porque, sob ponto de vista reputacional do próprio país, sob ponto de vista das TIC, mostra que somos ainda muito frágeis e precisamos de investir muito na área de segurança”, sugeriu.
Na história do país, não há registo de um ciber-ataque desta dimensão, sobretudo tendo o Governo como alvo. Moçambique faz parte da lista de países que menos investem na cibersegurança. De acordo com o Índice Global de Cibersegurança, em 2018, Moçambique caiu 23 posições, saindo do lugar 109 para o posto 132.