Uma contradição autêntica. Na cidade de Nampula, o número de novos casos da COVID-19 disparou nos últimos 10 dias, passando da média semanal de 10 a 15 para mais de 100. Entretanto, quase todos que se fazem à via pública não usam máscaras. O pessoal da saúde está preocupado com a nova vaga da pandemia.
Nas ruas da cidade de Nampula a vida corre como se tudo estivesse bem. Na zona de maior agitação por conta do comércio informal, a nossa equipa de reportagem registou um cenário flagrante de total desleixo, perante a pandemia da COVID-19 que mesmo não dando trégua, quase ninguém se comove.
O uso da máscara é ignorado pela maioria. Pior porque os aglomerados populacionais também não são evitados. Um ambiente propício para a propagação do novo Coronavírus.
Quando questionados sobre a não observância das medidas de prevenção, a justificação é surpreendente. “Por estes dias não se usa máscara aqui”, diz Sérgio Eduardo, vendedor ambulante, e como ele também era dos tantos sem máscara, questionamos a razão dessa atitude e a resposta foi surpreendente: “estou a ver que esta coisa de corona não existe. Não existe porque nunca vi um caso”.
Isac António, outro vendedor ambulante, preferiu dizer que não tem 20 meticais para comprar uma máscara. “Não tenho dinheiro para comprar uma máscara”, abreviou.
Nem os vendedores de máscaras se protegem. Outros usam apenas quando se apercebem da presença de uma equipa de reportagem, tal como o fez Luís Dionísio, também vendedor ambulante. “Como tenho problemas de asma, quando uso máscara durante o dia não respiro bem, por isso, às vezes tiro para conseguir respirar”.
As poucas pessoas que se fazem às ruas com máscara de protecção facial usam-nas de forma indevida. Ou seja, não protegem a boca e o nariz, conforme se recomenda.
Nalgumas mesquitas, também observa-se o mesmo comportamento do não uso da máscara, apesar de se respeitar o distanciamento social.
O delegado do Conselho Islâmico de Moçambique em Nampula, Juma Cadria, reconheceu a fragilidade no controlo dos fiéis e reafirmou que este comportamento não se compadece com os ditames da religião islâmica.
A lavagem das mãos também deixou de ser obrigatória à entrada de muitos estabelecimentos comerciais.
O pessoal de Saúde está preocupado com a não observância das medidas de prevenção porque nos últimos 10 dias, a média semanal de novos casos positivos subiu para mais de 100, contrariando a anterior média de 10 a 15 casos por semana.
“Pensava-se que já tivéssemos atingido o pico da infecção. Era suposto que neste período do Verão o número de infecções por via aérea respiratória tivesse reduzido, decorrente do aumento da temperatura. Era suposto que estas infecções respiratórias tivessem se manifestado no Inverno”, aconteceu “o contrário”, assinala Geraldino Júlio Avalinho, médico de clínica geral e chefe do Departamento de Saúde Pública na Direcção Provincial de Saúde em Nampula.
Nampula tem um saldo de oito óbitos por COVID-19 e conta com cinco internados no centro de isolamento. Até sábado, tinha um cumulativo de 879 casos positivos, dos quais, 159 activos.
“A vaga de infecções que vínhamos assistindo no passado, a virulências não era similar a assistida noutros países, pese embora, agora tenhamos uma nova vaga de infecção que por sinal é mais virulenta, é muito fácil de se contrair, razão pela qual há necessidade de as pessoas, de forma consciente, pautarem pelo uso obrigatório das máscaras e seguirem à risca todas as recomendações que são deixadas pelo sector de saúde para a prevenção da infecção do novo coronavírus”, alertou o médico.