O País – A verdade como notícia

Por: Helder Martins

DEVOLVER O PARTIDO FRELIMO AO POVO

Camaradas Presidente e Secretário Geral do Partido FRELIMO

Como os Camaradas bem sabem, eu sou um dos quase 300 militantes que fundaram a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), depois de ter sido membro da UDENAMO. Desses 300 membros, só 5 são ainda vivos.

Hoje, inspirando-me dos princípios enunciados no 2º e 3º parágrafos do Preâmbulo, nos nºs 2 e 3 do Artigo 2º e nos Artigo 4º e 6º dos Estatutos do Partido e, usando das prerrogativas que me conferem esses mesmos Estatutos, muito em particular as alíneas c), f), g) e h) do nº 1, do Artigo 14, o nº 5 do Artigo 21 e o Artigo 23, dirijo-me a vós porque estou muito preocupado com a actual situação social, económica e política do nosso País e, como o País sempre foi governado pelo nosso Partido desde a Independência, não podemos culpar os nossos adversários políticos dessa situação desastrosa.

A preocupante situação dos jovens constitui preocupação de toda a Sociedade. As estatísticas oficiais indicam que dos 500.000 jovens que, em cada um dos últimos 3 anos, chegaram aos 18 anos de idade, só cerca de 5 a 7% conseguiram um emprego no sector formal da economia. Isto está a criar um “exército” de desempregados, onde os terroristas do Norte do País, mas igualmente os nossos adversários políticos recrutam livre e facilmente. Ao desemprego somam-se a fome, a insegurança alimentar e a miséria (segundo dados governamentais a percentagem de pessoas em pobreza absoluta, que já era alta, tem vindo a crescer nos últimos anos), a falta de habitação, a fraca qualidade dos cuidados de Saúde prestados pelo SNS, o estado caótico em que se encontra o nosso Sistema Nacional de Educação, a precariedade e insegurança do transporte público, tudo isto é justamente atribuído pelo POVO à ineficácia e incompetência do Governo do nosso Partido.
Por outro lado, o nosso glorioso Partido enfrenta, hoje, a pior crise de sempre, desde a fundação da FRELIMO, em 1962. Uma crise, que ameaça a existência da FRELIMO, como Partido líder do desenvolvimento da Nação.

Toda esta gravosa situação tem feito com que, muitos dos nossos militantes e inúmeros simpatizantes, que votavam no Partido e se reviam nele, se tenham gradualmente afastado.

Durante a nossa rica História de mais de 62 anos, tivemos de enfrentar problemas vários, crises e até traições, mas durante muitos anos soubemos resolver essas dificuldades, primeiro, através da aceitação da existência da crise ou do problema e, a seguir, através da análise e debate profundo e alargado dos problemas, da crítica e autocrítica, e foi assim que as soluções foram sempre encontradas. Soluções nas quais os militantes e os simpatizantes se reviam.

Por isso, negar a existência da crise na FRELIMO, hoje, é uma traição aos nobres desígnios do nosso Partido, porque é condenar, intencionalmente, o Partido à destruição.

O nosso glorioso partido está infiltrado por oportunistas de todos os estilos, meros negociantes, gente que vê na política um meio de enriquecimento com os bens públicos e com o suor do Povo, alguns dos quais chegando ardilosamente, a tomar postos nos órgãos e na direcção do Partido, capturando-os. E como consequência disso, instalou-se no Partido a prática da obstrução ao direito à opinião e o espaço para discussão foi fechado. Hoje, só a voz da bajulação é ouvida no Partido.

Porém, esta crise não é de hoje, embora ela tenha atingido patamares alarmantes nos últimos anos, sobretudo no rescaldo dos 2 últimos pleitos eleitorais: as eleições autárquicas de 2023 e as recentes eleições Presidenciais, Legislativas e para as Assembleias Provinciais.

Na altura da Luta de Libertação Nacional, quando a FRELIMO foi formada, a contradição fundamental era entre o POVO moçambicano e o colonialismo português. Embora não possamos afirmar que não houvesse moçambicanos a explorar outros moçambicanos, esse fenómeno era insignificante e sem qualquer expressão política. Por isso, a atitude correcta foi de criar uma FRENTE ampla, onde pudessem ingressar todos os que se propusessem lutar contra o colonialismo. Essa frente, a FRELIMO, sempre soube definir correctamente o inimigo, desenvolveu um código de ética revolucionária e entrosou se completamente com o POVO, o que lhe valeu a respeitabilidade internacional, a Victória militar contra o colonialismo e, sobretudo, a adesão maciça das massas populares, tanto das zonas em que se travou a Luta Armada, como naquelas que só foram libertas depois dos Acordos de Lusaca.

No imediato pós Independência, a situação alterou-se e surgiram alguns moçambicanos a querer explorar outros moçambicanos, deste modo substituindo-se aos colonos.

Soubemos identificar e reconhecer o problema, logo no início, e houve que operar transformações profundas na natureza do nosso glorioso Partido. Assim, no III Congresso da FRELIMO, em Fevereiro de 1977, decidiu-se criar o Partido FRELIMO, um partido de quadros da vanguarda operário-camponesa, com o apoio da intelectualidade revolucionária. Definiram-se perfis para a admissão de membros e perfis mais rigorosos para dirigentes do Partido. Esses perfis impunham requisitos éticos e comportamentais muito estritos do ponto de vista profissional, económico, de vida social na comunidade e até de comportamento na vida familiar. Assim se conseguiu um Partido de militantes comprometidos em servir o POVO: serem «os primeiros nos sacrifícios e os últimos nos benefícios».

Esse Partido, eticamente dirigido e comprometido com o bem estar do POVO, era a Força Dirigente da Nação e foi determinante para termos sido capazes de enfrentar com sucesso todas as adversidades: as agressões militares do regime ilegal da Rodésia do Sul e do regime do Apartheid da África do Sul, a sabotagem económica interna e externa, a fuga de técnicos e de capitais, a hostilidade de quase todos os países que tinham apoiado o colonialismo português e todas as outras diversificadas formas de destabilização social, económica, política e até armada.

No final dos anos 80 do século passado, o V Congresso da FRELIMO tomou a decisão errada, de voltar a transformar o Partido FRELIMO numa nova Frente ampla, sem que as condições sociais, económicas e políticas assim o recomendassem. Quase coincidentemente, deu-se a introdução da economia de mercado e a adesão ao FMI e Banco Mundial, passando nós a aceitar todas as inapropriadas, desajeitadas e impopulares recomendações destes organismos.

Isto deu origem ao aparecimento da corrupção que gradualmente se foi instalando e que tem vindo insidiosamente a crescer (nos últimos anos, de forma assustadora).

Ao nível do Partido a falta de requisitos para a admissão de membros e a falta de definição de perfis para candidatos a dirigentes do Partido resultou num processo lento, mas gradual, de infiltração no Partido, por todo o tipo de oportunistas, meros negociantes, gente que vê na política um meio de enriquecimento com os bens públicos e com o suor do Povo, alguns dos quais chegando ardilosamente, a tomar postos nos órgãos e na direcção do Partido.

A par disto e talvez como consequência, foram-se abandonando os critérios éticos nas fontes de financiamento do Partido, aceitando-se dinheiro de fontes ilícitas e que, mafiosos sejam tratados com respeito, só porque financiam o Partido.

Eu e muitos outros nossos camaradas temos de admitir que por inércia, inacção e complacência da nossa parte, também contribuímos, ficando calados, para que a situação se agravasse deste modo. Portanto, também temos de admitir a nossa quota parte de responsabilidade nesta situação. Como este processo de degradação das estruturas partidárias e da escandalosa situação social, económica e política do país se desenvolveu lenta e insidiosamente e como a mínima crítica passou a ser malvista e reprimida, fomo-nos acomodando e tornámo-nos cúmplices e covardes.

Deixámos que o verso do nosso Hino Nacional: «Nenhum Tirano nos virá escravizar!» fosse vilipendiado. Desmond Tutu ensinou-nos que: «Se for neutro em situações de injustiça, estará a escolher o lado do opressor» e de Abraham Lincoln também aprendemos que: «Pecar pelo silêncio, quando se deveria protestar, transforma homens em covardes».

Por tudo isso, hoje me levanto e digo BASTA! Não quero ser mais cúmplice, nem covarde!

Camaradas Presidente e Secretário Geral do Partido FRELIMO Todos os relatórios independentes de observadores nacionais e internacionais comprovam que nas Eleições Autárquicas do ano passado e, sobretudo, nas recentes eleições Presidenciais, Legislativas e para as Assembleias Provinciais, houve irregularidades gravíssimas para beneficiar o Partido FRELIMO, por parte dos órgãos eleitorais (CNE, STAE e Conselho Constitucional) que deviam velar pela transparência e justeza do processo e que estão totalmente descredibilizados aos olhos do POVO e dos observadores nacionais e internacionais. Em suma: foi consagrada a fraude eleitoral da forma mais vergonhosa, pelo que não pode ser ignorada pelo nosso glorioso Partido e pelos seus militantes e simpatizantes. Esta é, igualmente, uma das causas de muitos votantes, incluindo militantes e simpatizantes, terem deixado de votar no nosso glorioso Partido.

Essa fraude eleitoral é a causa de toda a instabilidade sociopolítica que se seguiu, e se mantém nas principais cidades do País e ela veio expor uma percepção popular, extremamente preocupante, de que “a FRELIMO abandonou o Povo”. E é necessário não confundir causas com consequências. A agitação social que vivemos actualmente no nosso país é causada pela fraude eleitoral e tentar atacar as consequências sem ir à raiz do problema, a verdadeira causa, é «política de avestruz», mas não resolve nenhum problema.

Por outro lado, os actos de repressão policial, contra manifestações legítimas, de apoiantes de partidos políticos da oposição, com dolorosas, lamentáveis e quão desnecessárias perdas de numerosas vidas humanas e muito elevado número de feridos, são um atentado à Constituição da República e a todas as Convenções internacionais de Direitos Humanos de que Moçambique é signatário, que consagram, de forma expressa, como direito fundamental dos cidadãos, o direito à manifestação e, acima de tudo, o direito à vida. Tais actuações expõem um abominável desprezo pela vida humana, de moçambicanos por outros moçambicanos. A recente ameaça velada de recurso às Forças Armadas para combater manifestações e as declarações autoritárias, próprias de dirigentes fascistas, dos principais responsáveis pela violência policial foram totalmente contraproducentes, pois fazem com que os manifestantes se radicalizem cada vez mais. Pode-se dizer que foi «pior a emenda que o soneto».

Pensar que se pode vencer na política pela tirania é um erro político gravíssimo. A violência desmedida da repressão policial só pode gerar violência e desordem pelos que foram violentados. É bem sabido que, violência gera mais violência.

Na sua génese, nos princípios e valores fundamentais, forjados na Luta de Libertação Nacional e consagrados nos seus Estatutos, a FRELIMO pugna exactamente pela defesa do Povo e promoção dos seus direitos fundamentais, pelo seu progresso, desenvolvimento e bem-estar.
Por isso, hoje, como sempre, cabe aos militantes e à Direcção, com o apoio de todos os simpatizantes, corrigir o perigoso curso em que o Partido, a Sociedade e o Estado se encontram, de modo a recuperarmos a nossa base social popular.

Por outro lado, com preocupante frequência, continuamos a testemunhar actos descarados e arrogantes de delapidação do erário público, incluindo por via de adjudicações directas e multimilionárias, a empresas de existência e competência duvidosas, através de processos de aquisição de bens e serviços do Estado que violam as leis e normas estabelecidas para o efeito. Daí resulta inevitavelmente a forte percepção popular que associa o nosso Partido à corrupção e aos ladrões da coisa pública.

Por todas estas razões, hoje, na percepção popular «os dirigentes são os primeiros nos benefícios e para eles não há sacrifícios. Os sacrifícios são para o Povo»

Camaradas Presidente e Secretário Geral do Partido FRELIMO

Neste momento, em que a situação social, económica e politica do País está num estado catastrófico, com sérias ameaças à paz social e à ordem pública, com o nosso Partido arrastado para uma crise sem precedentes, com a credibilidade completamente destruída, que ameaça a sua própria existência, eu, certo de que muitos militantes e simpatizantes pensam como eu, solicito a intervenção dos Camaradas Presidente e Secretário Geral para a consideração, ponderação e implementação das medidas que a seguir se enunciam, que considero como sendo as MÍNIMAS e URGENTES, para se poder inverter este rumo perigoso e desencadear a reconexão da FRELIMO com o Povo, rumo a um Desenvolvimento Harmonioso e a um Futuro brilhante da nossa Pátria, da Sociedade e do Estado Moçambicano:

1. Ao nível do País e com carácter de EXTREMA URGÊNCIA:

Realização muito URGENTE, duma Conferência Nacional Abrangente, para análise da situação e para que, através do diálogo e conversações francas e honestas, se cheguem a consensos políticos, que possam trazer a Paz e o Desenvolvimento social e económico ao nosso País.

Uma tal proposta já foi feita por outros sectores da nossa Sociedade e merece o meu total apoio, pois através dela se espera chegar a um Consenso Nacional Alargado, única forma de atingirmos a Paz Social e o Desenvolvimento.

Essa Conferência Nacional Abrangente tem um carácter de EXTREMA URGÊNCIA e não deve esperar pelo veredicto do Conselho Constitucional, que já demonstrou a sua incapacidade para considerar o impacto social, económico e político, das suas decisões, na vida nacional.

Bem pelo contrário: Nenhuma lei prevê um prazo para a deliberação do Conselho Constitucional, pelo que este deve esperar pelos resultados do Consenso Nacional Alargado, antes de tomar qualquer decisão.

Nesta Conferência Nacional Abrangente devem participar os candidatos presidenciais, representantes de todas as partes interessadas, nomeadamente, todos os partidos políticos, organizações da Sociedade Civil, todas as Ordens e associações profissionais, associações de jovens e de mulheres, confissões religiosas, Universidades, associações de carácter cultural, científico e desportivo e, para ela, devem ser convidados observadores internacionais.

Quero aqui relembrar que, todos os conflitos no mundo, sempre terminaram em Acordos de compromisso, com cedências de cada uma das partes. Mas temos exemplos concretos da nossa própria História: a chamada «Guerra dos 16 anos», que nos foi imposta do exterior, com moçambicanos como intermediários, terminou com o Acordo de Roma, em que houve cedências de ambas as partes, mas com muitas cedências da nossa parte. E mesmo assim, para terminar o conflito (esperamos que definitivamente), foram necessários mais 3 Acordos.

2. Ao nível do nosso Partido e a Relativo Curto prazo:
2.1. A convocação, logo após a Conferência Nacional Abrangente, de uma Conferência Nacional de Quadros, para uma profunda reflexão sobre:
a) Análise da situação social, económica e política actual do País e das lições a tirar das recomendações da Conferência Nacional Abrangente;
b) Análise da situação interna do nosso glorioso Partido e dos seus métodos de trabalho;
c) A completa reorganização do Partido;
d) Definição de critérios para a purificação das fileiras;
e) Elaboração dum Plano de Acção visando a reconexão do Partido com o Povo e com os jovens em particular;
f) Definição de perfis para candidatos a membros e a órgãos do Partido e do Estado;
g) Diversos.

Chamamos à atenção de que as Conferências Nacionais de Quadros estão previstas nos Estatutos do Partido, no seu Artigo 47 e que o nº 1 do Artigo 50º determina que elas «reúnem, ordinariamente, de cinco em cinco anos, antecedendo os congressos do Partido». Porém, e contrariando a prática de elevado valor político e democrático, estabelecida há décadas na FRELIMO, e enraizada já como cultura do nosso Partido, nos últimos anos não foi convocada nenhuma «Conferência Nacional de Quadros», nem sequer a preceder 12º Congresso que, foi realizado sem que antes, os quadros se tenham reunido para analisar a situação sócio-económica e política do País, para, como sempre fizeram, produzir as grandes recomendações para o Congresso.

Devo aqui afirmar que, ao fazer esta proposta, junto a minha voz à voz da Camarada Graça Machel, que já fez proposta idêntica.
É importante reter que, a Conferência Nacional de Quadros sempre teve a grande virtude da inclusão da diversidade de ideias de elevada qualidade, por quadros competentes e experientes de fora dos órgãos formais do Partido, à escala nacional, reforçando, dessa forma, a qualidade das decisões do próprio Congresso e, também, as estratégias eleitorais e seus manifestos.

2.2. Na sequência imediata à Conferência Nacional de Quadros, a convocação dum Congresso Extraordinário, para:
a) Analisar as recomendações da Conferência Nacional de Quadros e deliberar sobre a sua implementação, sobretudo no que respeita à reestruturação do Partido, purificação de fileiras e métodos de trabalho;
b) Aprovação dum Plano de Acção visando a reconexão do Partido com o Povo e com os jovens em particular;
c) Definição de perfis para candidatos a membros e a órgãos do Partido e do Estado;
d) Diversos.

Estou seguro de que muitos militantes e simpatizantes subescrevem estas minhas propostas e aqueles que têm ideias diferentes da Direcção do Partido devem, igualmente, ser convidados para a Conferência Nacional Abrangente, para a Conferência Nacional de Quadros e para o Congresso Extraordinário e, por isso, devem poder fazer-se representar nas Comissões Organizadoras destes eventos. A logística, incluindo viagens e alojamento dos participantes nestes eventos, deve, em princípio, ser autofinanciada pelos quadros pessoalmente, porém, sem prejuízo da mobilização e disponibilização de meios por outros militantes e cidadãos interessados.

Camaradas Presidente e Secretário Geral do Partido FRELIMO A presente exposição e solicitação decorrem do imperativo político e moral que me confronta, não apenas a mim, mas a muitos militantes e a numerosos simpatizantes e, em geral, não só a todos os militantes e simpatizantes do Partido, mas igualmente, a todos os cidadãos patriotas, de não continuar a assistir a actos que, além de constituírem violações estatutárias, se traduzem em flagrantes práticas ilegais, fraudulentas e antipatrióticas, organizadas e cometidas em nome do Partido FRELIMO.

Nunca me será permitido esquecer que a Independência Nacional, duramente conquistada, com o sangue e sacrifícios consentidos pelos melhores filhos de Moçambique, tinha como objectivo fundamental e irrenunciável, libertar, dignificar e beneficiar todo o Povo Moçambicano, independentemente da cor, raça, região, sexo ou religião.

Não podemos esquecer que, em especial, pretendia libertar e empoderar os desfavorecidos, através de políticas e práticas de ampla inclusão social e económica, como afirmação concreta de Justiça Social, Progresso, Independência económica e Unidade Nacional.
Eu, como cidadão amante da Pátria, da Paz e Progresso do Povo Moçambicano, assim como muitos outros militantes e simpatizantes do Partido FRELIMO, preocupado com o futuro de Moçambique e do nosso Partido, anseio pela urgente ponderação, acolhimento e implementação das presentes propostas, que mais não são do que o ponto de partida de uma dura marcha para devolver o Partido FRELIMO ao Povo Moçambicano.

Tendo o nosso glorioso Partido sido o guia da Nação Moçambicana nos 49 anos e meio da nossa Independência e o legítimo herdeiro da Frente de Libertação de Moçambique que nos levou à Independência Nacional, todo o Povo moçambicano está de olhos postos no que se passa no nosso Partido e a trágica situação em que nos encontramos de divórcio consumado com o Povo moçambicano é vista com preocupação e desgosto pelos milhões de cidadãos, que anseiam por uma reestruturação do Partido no sentido de o levar ao bom caminho de defender os nobres princípios atrás mencionados de Justiça Social, Luta contra as desigualdades, Progresso, Independência económica e Unidade Nacional.

Por essa razão, reservo-me o direito de tornar público este meu grito de desespero, seguro de que ele ecoará fundo nos corações e nas mentes de muitos militantes, numerosos simpatizantes e de inúmeros cidadãos patriotas do nosso país. Considero que isso contribuirá, desde logo, para criar ânimo no Povo moçambicano, de que, apesar dos graves desvios que se têm vindo a verificar na actuação do Partido, no seu seio há militantes e simpatizantes honestos, a tudo dispostos para fazer regressar o nosso glorioso Partido ao caminho, que o fez tornar glorioso.

Maputo, aos 21 de Novembro de 2024

No próximo dia 2 de Dezembro, a partir das 15 horas, o escritor Adelino Timóteo irá lançar o seu mais recente livro na Livraria Castro e Silva, em Lisboa, Portugal.
Intitulado “Jorge Jardim – o ano do adeus ao ultramar”, o autor pretende fazer do livro um farol, com material inédito, buscando iluminar os acontecimentos do pós-25 de Abril de 1974, assim como o episódio trágico de 7 de Setembro, em Lourenço Marques, do mesmo ano.

Com enfoque no Engenheiro Jorge Jardim, trata-se, segundo uma nota de imprensa, de um ângulo inédito e distinto de contar também sobre os derradeiros momentos da luta armada de libertação e os demais acontecimentos que lhe sucederam, vinculando-o a uma tentativa humana e de redenção de se acercar à FRELIMO, através do «Programa de Lusaka», com que buscava evitar a debandada de 250 mil brancos de Moçambique.

Debaixo da lenda desta personalidade e com informação devidamente contextualizada, o autor esmiuça os factos, que marcaram o fim do Ultramar português e a emergência de um novo conflito, debaixo da consigna da guerra fria.

“Afamado como uma das mais ímpares e insignes personalidades da África Austral, purgado pela Junta de Salvação Nacional, dos capitães de Abril, Jorge Jardim, tratado como um monstro, esgrime os seus argumentos, mas não consegue impor o seu plano em cima da mesa, no tratado de Lusaka. Daí resvala-se para um plano secundário e assiste desencantado o processo dramático e trágico da descolonização desde a periferia.

Cinquenta anos depois, olhando para o pensamento de Jorge Jardim, é possível depreender que, mais do que votar-lhe ao ostracismo e ao tabu, Jorge Jardim foi um nacionalista, que pretendeu contribuir com o seu pensar particular, que mantivesse a dignidade da maioria e dos derrotados, numa harmonia comum, sem se ferirem uns aos outros”, lê-se na nota de imprensa.

No seu livro, ao desenterrar o perfil de um homem complexo, de acordo com a sinopse, pretensamente anti-racista, com as suas contradições e partes encantadoras, como todos os seres humanos comuns, o autor oferece a oportunidade de se esgravatar sobre a documentação e testemunhos interessantes de uma figura enigmática, esclarecendo sobre os momentos que mediaram a morte de Eduardo Mondlane, com isto demonstrando que a história é um processo dinâmico, em permanente construção.

“A relevância de documentar com intensidade esse período de ouro da história contemporânea é um serviço à Nação”, assume Adelino Timóteo.

Sobre o autor

Adelino Timóteo nasceu a 3 de Fevereiro de 1970, na Beira. É formado na área de docência em Língua Portuguesa, mas não exerceu a profissão. Ingressou no Jornalismo em 1994, na cidade da Beira, no Diário de Moçambique, e, mais tarde, tornou-se correspondente do semanário Savana, na mesma cidade. É licenciado em Direito e exerce a função de jornalista no semanário Canal de Moçambique. Além disso, é artista plástico e já realizou várias exposições individuais de artes, em Moçambique e no estrangeiro. Obras publicadas, entre poesia, romances e biografias: · Os segredos da arte de amar. Maputo: AEMO, 1998. · Viagem à Grécia através da Ilha de Moçambique. Maputo: Ndjira, 2002. · A fronteira do sublime. Maputo: AEMO, 2006. · Mulungu. Maputo: Texto, 2007. · A Virgem da Babilónia. Maputo: Texto, 2009. · Nação pária. Maputo: Alcance, 2010. · Na aldeia dos crocodilos. Maputo: Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa; Barcelona: Fundació Privada Contes pel Món, 2011. · Dos frutos do amor e desamores até à partida. Maputo: Alcance, 2011. · Não chora Carmen. Maputo: Alcance, 2013. · Nós, os do Macurungo. Maputo: Alcance, 2013. · Livro Mulher. Maputo: Alcance, 2013. · Apocalipse dos predadores. Lisboa: Chiado, 2014. · Corpo de Cleópatra. Maputo: Alcance, 2016. · Os oito maridos de Dona Luíza Michaela da Cruz. Maputo: Alcance, 2017. · Os últimos dias de Uria Simango. Maputo, 2018. · Na aldeia dos crocodilos. Contos de Moçambique, v. 7. São Paulo: Kapulana, 2018. · Os últimos dias de Uria Simango. Maputo, 2018. · Volúpia da pedra. Maputo, 2018. · Afonso Dhlakama – a longa luta em defesa da democracia. 2019 . O Feiticeiro Branco, 2020 .

A Khuzula expande actividades da Incubadora de Negócios Culturais e Criativos, a X-Hub, no âmbito do projecto Advers arts, subvencionado pela embaixada dos Estados Unidos da América em Moçambique e que está a ser implementado na província de Cabo Delgado, com principal incidência na casa Provincial de Cultura e no Distrito de Metuge.

Como forma de expandir actividades da X-Hub, a Khuzula encontra-se a implementar acções de apetrechamento de salas de formação em iniciação artística, onde serão leccionadas disciplinas como dança, artes visuais e música e um estúdio de gravação de conteúdos áudios visuais, com particular enfase na produção de músicas, podcasts, radionovelas e voz offs, audiobooks.

O projecto implementado pela Khuzula inclui igualmente uma académia móvel que levará sessões formativas às comunidades do Distrito de Metuge, local que acolhe deslocados do terrorismo.

Nos aspectos atinentes aos programas de incubação, a Khuzula, por intermédio da X- Academy, iniciativa da X-Hub, desenvolveu módulos de iniciação artísticas destinadas às disciplinas de dança, artes visuais e música, onde experts na matéria participaram com intuito de tornar as formações realística para as comunidades locais, garantindo, deste modo, uma implementação acessível e eficaz em Pemba.

Com a expansão da X-Hub para Cabo Delgado, perspectiva-se a criação de um segmento que facilitará a solidificação de mercados e negócios da indústria criativa, direccionados aos criativos da província para que conheçam e alcance nos nichos de negócios.

Como segmento de suporte, a X-Hub almeja potencializar a indústria com a produção de conteúdos audiovisuais para efeitos de distribuição em diversas plataformas nacionais e internacionais de streaming, criação de lojas virtuais de venda de artes visuais, edição e publicação de obras literárias e prestação de assessoria empresarial e artística.

Estão previstas diversas iniciativas no âmbito do projecto Advers Arts, subvencionado pela Embaixada dos Estados Unidos da América e implementado pela Khuzula, sessões de terapia artística, workshops de expressão criativa, formações em iniciação artistica, realização de espectáculos culturais e exposições de arte.

A implementação deste projeto de caráter social, cultural e de apoio psicológico tem duração de 18 meses. A Khuzula está comprometida em garantir que o projeto atenda às necessidades culturais específicas das comunidades e que haja um envolvimento activo dos membros locais em todas as etapas do processo para que assim se promova o crescimento da economia criativa na província e na região.

A Khuzula é uma empresa vocacionada em produção de eventos, desenvolvimento e agenciamento de artistas, edição de obras literárias, comunicação e consultoria em projectos criativos. No leque das iniciativas que a Khuzula tem levado a cabo, destaca-se a instalação da primeira incubadora de Negócios culturais e criativos- XHUB, a produção do Festival Azgo, por sinal o maior festival internacional de artes que é realizado na cidade e província de Maputo, anualmente, e no âmbito da décima edição, foram criados dois murais onde um homenageia os icónicos músicos nacionais fixado nos pilares do viaduto Alcântara Santos e o segundo resulta de uma residência artística sobre a cidade de Maputo, que juntou cerca de 7 artistas plásticos nacionais e inaugurado a 10 de Novembro de 2023, no âmbito das festividades do dia da cidade das acácias.

Numa outra perspectiva, a Khuzula dedica-se no pleno desenvolvimento das artes e seu negócio inclusivo associado aos seus fazedores como uma ferramenta para criar um impacto positivo nas suas vidas. Através de projectos inovadores e parcerias estratégicas, a Khuzula busca fortalecer as comunidades e promover o bem-estar da criatividade nacional.

Nesta sexta-feira, às 17 horas, a Editorial Fundza vai lançar, na Livraria Fundza, Cidade da Beira, o livro “Bebé O e a descoberta do mundo azul”, da escritora Emília Paulino.

De acordo com o comunicado de imprensa da Editorial Fundza, trata-se de um livro infanto-juvenil que aborda a história inspiradora de um bebé com espectro autista, que, com o apoio de médicos, familiares e, em especial, de sua irmã mais nova, desenvolve habilidades essenciais e valores como o amor, a inclusão e a união.

A autora avança que o livro traz uma mensagem de esperança e reforça a importância do apoio familiar e social no processo de desenvolvimento de uma criança autista, conforme se pode ler na nota de imprensa: “Com esta obra, pretendo abraçar, mesmo que de longe, os pais de filhos especiais e todos os meninos autistas para dizer-lhes que não estão sozinhos, que o autismo não é um segredo e que juntos somos mais fortes”, reforça a escritora.

Na cidade da Beira, a obra será apresentada por Rodrigues Germano, especialista na terapia da fala e que assiste muitas crianças com necessidades especiais.

Emília Paulino, natural da cidade da Beira, é advogada e docente universitária. Tem um mestrado em Direito e outro em Sistemas de Informação Geográfica, além de formação em neurociências do autismo e em ABA e estratégias naturalistas.

A cantora já não vai celebrar os 50 anos de carreira em concerto, este ano. Ao contrário do previsto, Elvira Viegas teve de adiar para o primeiro semestre de 2025 o concerto anteriormente agendado para o dia 21 de Novembro corrente, no Centro Cultural Moçambique-China.

Segundo a organização, a alterção deve-se a sequência de manifestações que estão a decorrer no país, por isso, a cantora, junto da equipa de organização, optou por adiar o concerto para primeiro semestre do proximo ano, com o intuito de melhor celebrar o quinquagésimo aniversario de carreira em verdadeiro ambiente de festa.

“A manunteção da data de celebração não traria melhor sentido de festa, visto que, o país não se encontra em momento oportuno de celebração. Até porque, perspectiva-se que seja uma verdadeira festa que fará uma viagem musical que vai narrar a rica história da carreira de Elvira Viegas, destacando as suas influências e contribuições significativas para a cultura artística do país”, lê-se na nota de imprensa.

A cantora recomenda aos “fãs, admiradores e seguidores que já adiquiriram bilhetes, em diferentes plataformas digitais, estimados em cerca de 400, para conservar muito bem, para aposterior uso na data que será realizada a festa dos 50 anos de carreira.

No concerto não será apenas celebrado o talento inegável de Elvira Viegas, mas também reconhecer a sua dedicação e o impacto duradouro que a cantora teve no panorama musical de Moçambique.
A celebração perspectiva-se que seja única, onde a artista promete proporcionar os expectadores uma noite repleta de emoção e recordações, dos grandes êxitos que perfazem os seis álbuns lançados, intitulados “Ndzi Xikala Vitu”, “Tlanga U Pimela”, “Kusuhi na Mine”, “The Best of Elvira Viegas”, “Tsendeleka” e o ultimo “Ora Chegou”.

O portfólio artístico da Elvira Viegas é composto por mais de 100 músicas registradas. 99% dessas músicas provêm dos poemas escritos em português, que foram posteriormente traduzidos e moldados para composição musical num exercício exclusivamente realizado pela artista.

 

Num contexto em que o país enfrenta uma situação política e social complexa, o artista moçambicano Bruno Akani irá lançar o seu novo single, esta sexta-feira. Intitulado “Give Me The Chance” , a música, que conta com a participação especial do icónico guitarrista Jimmy Dludlu, que também a co-produziu, traz uma mensagem de renovação e esperança, destinada a inspirar pessoas a acreditarem em segundas oportunidades e recomeços.

Escrita há cinco anos, “Give Me The Chance”, em português “Dá-me uma nova chance”, tem um significado especial para Bruno Akani, segundo avança uma nota de imprensa: “Sempre senti que esta música veio até mim por uma razão. É uma música sobre humildade, sobre levantar-se após tempos difíceis e encontrar forças para seguir em frente. A música fala a diferentes pessoas de maneiras únicas: para alguns, trata-se de um novo começo, e para outros, uma chance de se reconectar com seus sonhos e esperanças”.

Além disso, a música também reflecte a visão de Akani sobre a importância de acreditar em dias melhores, particularmente em um contexto em que muitos enfrentam desafios pessoais e colectivos. O cantor enfatiza que “Give Me The Chance” não é uma canção de confronto, mas sim uma celebração da resiliência humana e da capacidade de superar dificuldades com o apoio de outros. Lê-se ainda na nota de imprensa: “Hoje é um momento para olharmos para frente, acreditarmos em nós mesmos e nos apoiarmos mutuamente. Esta música destina-se a todos que precisam de uma palavra de encorajamento, seja a nível pessoal ou no âmbito das suas vidas profissionais e comunitárias”.

A mensagem de “Give Me The Chance” é igualmente relevante no cenário global, num momento em que muitas pessoas continuam a lidar com os efeitos da pandemia, os desafios económicos e a crise financeira mundial.

“Give Me The Chance” será lançada oficialmente pela Bhavani Entertainment and Investments (África do Sul) e estará disponível em todas as plataformas digitais. O single também será transmitido nas principais estações de rádio de Moçambique e da África do Sul.

O lançamento também marca o início da jornada para o tão esperado primeiro álbum de Bruno Akani, que está previsto para ser lançado próximo ano.
 

A Editorial Fundza vai receber, entre os dias 25 e 30 deste mês, originais para publicação ao longo do próximo ano.

A iniciativa, enquadrada na quarta chamada literária da Fundza, pretende seleccionar infanto-juvenis, romances, crónicas, poesias e contos inéditos.

Os autores interessados em participar na quarta chamada literária da Editorial Fundza deverão enviar um projecto de livro em word, uma sinopse de 10 linhas desse mesmo texto e uma biografia de cinco linhas para a editorial.fundza@gmail.com.

Para a organização, o objectivo principal da chamada literária é abrir e ampliar o espaço para a democratização do acesso à publicação de obras literárias no país, o que inclui a participação de autores de todas as províncias.

“A iniciativa tem vindo a revelar novas vozes na literatura moçambicana. Desde 2022, já foram publicados mais de 40 novos autores de todo o país. Entre as publicações, encontram-se Pétalas negras ou a sombra do inanimado (poesia), de Belmiro Mouzinho; Estórias trazidas pela ventania (conto), de Adelino Albano Luís, O encanto da poesia (poesia), de Assane Cadry; O ardina dos sapatos gastos (contos), de Alerto Bia; O dicionário da sobrevivência (contos), de Francisco Raposo; A rapariga sem reflexo (motivacional), de Clévia Guivala; Insiste em ignorar-me (motivacional), de Argentina Banze; O amor que há em ti (romance), de Larsan Mendes; As máscaras da verdade (romance), de Almeida Cumbane; O Príncipe Suehtam e a Aruella no Tulipix (infanto-juvenil), de Andreia Edna da Silva; O peixe que sonhava comprar um barco (infanto-juvenil), de Japone Arijuane; e Makhalelo (crónicas), de Adriano Félix”, avança a nota de imprensa da Editorial Fundza.

Os originais submetidos à chamada literária da Fundza são seleccionados por um júri competente identificado pela editora.

Antes de serem publicados, todos os originais passam por um cuidadoso processo editorial. Garante a editora.

A Embaixada da Itália em Maputo e o Ntsindya – Centro Cultural Municipal, em colaboração com o Centro Cultural Franco-Moçambicano (CCFM), vão apresentar, pela primeira vez em Moçambique, o deslumbrante espectáculo de circo contemporâneo “Love”.

O espectáculo “Love” é da companhia ítalo-francesa Circo Zoé, e a apresentação terá início às 20 horas desta sexta-feira, na Sala Grande do Centro Cultural Franco-Moçambicano.

Segundo um comunicado de imprensa, “Love” convida o público a embarcar numa viagem visual e emocional, onde um grupo de viajantes explora as profundezas da conexão humana e o verdadeiro significado das suas vidas.

Com uma fusão hipnotizante de dança, acrobacias e movimentos aéreos, os artistas expressam sentimentos de solidão e a alegria dos reencontros.

O espectáculo é enriquecido por um repertório de músicas antigas, que dá vida a histórias carregadas de drama e humor.

 

O poeta Álvaro Fausto Taruma é um dos 10 finalistas do Oceanos – Prémio de Literatura em Língua Portuguesa.  O autor destaca-se na edição 2024 da iniciativa brasileira com o seu mais recente livro de poesia, Criação do fogo, editado pela Alcance Editores.

 

A notícia chegou-lhe de forma inesperada. Já tarde, a dormir, Álvaro Fausto Taruma  recebeu ligações de amigos. Quando viu que as ligações eram provenientes de pessoas do meio literário, intuiu imediatamente que se tratava de algo relacionado ao Prémio Oceanos. Até  porque o poeta sabia que a lista dos finalistas seria publicada em Outubro.

A intuição, de facto, comprovou-se. Na curta lista de 10 finalistas do Prémio Oceanos, um dos mais importantes em língua portuguesa, Criação do fogo, de Álvaro Fausto Taruma, é um dos livros cuja qualidade é reconhecida pelos membros do júri. Por isso mesmo, o poeta recebeu a notícia com muito agrado, mas sem euforia desmedida. “Acho que, depois de uma caminhada literária que já se faz longa, uma nomeação assim é, claro, algo gratificante, mas tento manter a serenidade e as expectativas equilibradas. Para mim, o mais importante é ver que o livro está a seguir o seu próprio curso, a encontrar o seu público e a realizar a sua própria viagem. Essa independência da obra é fundamental para mim, enquanto autor, e receber esta nomeação só reforça essa sensação”.

Desde que o livro foi incluído na lista dos 60 semi-finalistas do Oceanos, em Agosto, houve um momento em que Taruma pensou que poderia chegar ao fundo do oceano, quer dizer, à final do prémio. Mas esclarece: “Não é uma questão de falsa modéstia – eu confio na qualidade do livro e acredito no conceito e na mensagem que carrega. No entanto, decidi deixar que tudo seguisse o seu próprio fluxo. Curiosamente, o livro passou quase despercebido em Moçambique, até diria mal recebido, uma vez que aparentemente ninguém quer falar dele, o que poderia até desmotivar-me, mas, para mim, isso não define o seu valor”.

Na percepção de Álvaro Fausto Taruma, estar na final é, acima de tudo, uma confirmação de que vale a pena acreditar no próprio trabalho, na dose de criatividade e imaginação que deposita, mesmo que leve tempo até ser plenamente compreendido. E acrescenta: “Sinto que esta nomeação transcende o meu nome; ela representa um movimento, uma geração de escritores que está a emergir com força em Moçambique, como a malta do Kuphaluxa, que, através da dedicação e criatividade, prova que a literatura não tem idade. Esta é uma conquista para todos os que acreditam no poder da palavra e no trabalho persistente, assim como para quem tem na poesia o seu lugar de fala e de participação cívica”.

Taruma acredita, com efeito, que qualquer autor gostaria de ganhar o prémio, e, claro, essa possibilidade traz uma satisfação especial. Entretanto, mais do que o prémio em si, o autor de Criação do fogo pensa que a nomeação simboliza algo maior para a literatura moçambicana e para os leitores. “Este tipo de reconhecimento serve como um farol que nos encoraja a acreditar no nosso potencial. Estar nesta lista é, para mim, uma maneira de inspirar e de criar essa ligação com o público. Além disso, esta nomeação chega num momento especial, pois tenho um livro a ser publicado em breve, no Brasil, e, quem sabe, o facto de estar entre os finalistas ajude a abrir portas e a dar visibilidade ao meu trabalho. Sinto que, de uma forma ou de outra, esta nomeação já trouxe ganhos importantes para mim e para a literatura que represento”.
Nesta edição do Oceanos, há três africanos na final. Além de Taruma (único autor moçambicano), há um romancista, Germano Almeida (Cabo Verde) e mais um poeta, José Luiz Tavares (Cabo Verde). Rodeado de bons nomes da arte africana e da CPLP, Taruma sente orgulhoso pelo caminho que percorreu até aqui.

Nesta edição, o Prémio Oceanos recebeu 2619 livros de autores residentes em 28 países. Desse universo, 1204 são poesias, 836 são romances, 389 são contos, 156 são crónicas e 34 são dramaturgias. Os livros foram publicados por 459 editoras de seis países: Angola, Brasil, Cabo Verde, Itália, Moçambique e Portugal.

Apurados os finalistas, o júri vai eleger dois vencedores, um de poesia e outro de prosa, que serão anunciados em Dezembro, em cerimónia realizada no Itaú Cultural. A premiação é de 150 mil reais (cerca de 1 650 000 meticais) para cada um dos laureados.

O Oceanos – Prémio de Literatura em Língua Portuguesa foi criado no Brasil, em 2003, inicialmente com o nome de Prémio Portugal Telecom de Literatura Brasileira.

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