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“Formadas e transformadas” é o título do espectáculo teatral que as reclusas de Ndlavela vão estrear este sábado, a partir das 15h30, no Cine Teatro Gilberto Mendes, na Cidade da Matola

Durante uma actuação prevista para durar aproximadamente uma hora, 11 reclusas-actrizes vão subir ao palco de uma das maiores companhias nacionais de teatro, Gungu, para apresentar uma peça que, essencialmente, retrata o quotidiano das detentas/internas, incluindo o estigma e os constrangimentos que as mulheres enfrentam na sociedade, depois de cumprirem a pena na prisão.

Para tornarem o espectáculo teatral algo atractivo, às 11 internas do estabelecimento prisional de Ndlavela, no Município da Matola, harmonizam representação com canto e dança, o que vai gerar uma atmosfera típica de bailados.

“Formadas e transformadas” é um espectáculo teatral escrito pelos professores de Teatro Marino Zacarias e Justina Palmira. A ideia da peça surgiu ano passado, depois de as reclusas lançarem o disco de música intitulado “Sonhos entre muros”.

Para a ArtMud, promotora da iniciativa que contribui para garantir a integração social das reclusas, “Com a estreia da peça pretendemos confirmar, de forma definitiva, que às meninas em comprimento de pena nada impede de saírem para fazer actuação, receberem o subsídio e voltarem ao estabelecimento penitenciário”, esclareceu a artista plástica Bena Filipe.

De igual modo, a ArtMud admitiu que espera que a estreia teatral sirva para inspirar diferentes grupos da sociedade. “Esperamos que os outros estabelecimentos e pessoas singulares façam e repliquem este tipo de ideias em outras regiões do país”, disse a artista plástica.

De acordo com Bena Filipe, as reclusas de Ndlavela estão muito ansiosas em apresentar o seu espectáculo teatral. “É uma experiência que elas entendem que devem dar o seu máximo”.

No Cine Teatro Gilberto Mendes, Baixa da Cidade de Maputo, todas as reclusas vão representar em palco pela primeira vez. Das 11, quatro fizeram parte do disco “Sonhos entre muros”, lançado ano passado.

A entrada do Cine Teatro Gilberto Mendes será paga, de modo a garantir algum estímulo financeiro às reclusas.

 

A convite da Embaixada de Moçambique em Gana, Fauziya Fliege inaugurou a exposição intitulada “Moçambique em Gana”, que marcou uma celebração dos 50 anos de independência de Moçambique e destacou as conexões entre as duas nações africanas.

O evento contou com a presença de dignitários, incluindo o embaixador da República de Moçambique, Fortunato Albrinho, embaixador da República do Líbano e Decano do Corpo Diplomático, Maher Kheir e o ministro das Comunicações, Tecnologia Digital e Inovações da República de Gana, Samuel Nartey George, para além de embaixadores e altos-comissários de vários países, incluindo Angola, Marrocos, Brasil e Espanha, avança uma nota de imprensa.

A exposição de Fliege apresentou 11 peças, nas quais se destaca a obra “Carregamento de esperança”, peça que encapsula uma visão de um futuro mais brilhante para a África.

Por meio do uso de plantas verdes, Fliege simboliza a vida e o crescimento, sugerindo um futuro onde a natureza é próspera. As figuras retratadas na obra, carregando vasos, representam esperança e sustento, reflectindo um mundo onde a água é abundante e acessível. As cores alegres e brilhantes transmitem um senso de optimismo, incorporando o potencial para mudanças positivas à medida que Moçambique e Gana continuam suas jornadas de crescimento económico.

A exposição teve a curadoria de Henry Duah, enquanto Fauziya Fliege participou noutra exposição em Roma.

O embaixador de Moçambique expressou a sua gratidão pelas contribuições de Fliege à embaixada e o seu papel em promover o intercâmbio cultural por meio da arte.

Em suas próprias palavras, Fliege enfatizou o poder transformador da arte,  afirmando: “A arte é a chave para a expressão. Onde há arte, há vida!” Este sentimento ressoa profundamente, lembrando-nos do papel vital que a arte desempenha em conectar culturas, inspirar esperança e celebrar valores compartilhados.

À medida que Moçambique e Gana navegam por seus caminhos rumo ao progresso, exposições como “Moçambique em Gana” servem como um lembrete contundente da força da unidade e colaboração dentro do continente africano. Por meio da arte, não apenas reflectimos sobre nossas histórias, mas também vislumbramos um futuro repleto de esperança e possibilidade.

Por: Albino Macuácua

 

Todos os textos lato sensu dialogam uns com os outros ou, como afirmam as autoras Graça Paulino, Ivete Walty e Maria Zilda Cury, “[…] cada produção humana dialoga necessariamente com as outras” (PAULINO; WALTY & CURY, 1995, p. 13), o que não é diferente da literatura. Esta asserção é, no fundo, a extensão ou paráfrase do clássico conceito de intertextualidade pelo qual Julia Kristeva é bastante conhecida que diz que “todo o texto se constrói como um mosaico de citações, todo o texto é absorção e transformação de um outro texto” (KRISTEVA, 1974, p.64).

Esta breve introdução justifica o título que atribuí a esta também breve apresentação com a qual gostaria, sobretudo, de partilhar a minha experiência ao ler Canção de Setembro para Zamuzaria Maria, de Rafael da Câmara, e os diálogos para os quais me apelavam os vários poemas deste livro. O pressuposto fundamental que orientou a minha leitura é o de que os vários diálogos que esta Canção de Setembro… estabelece com os autores e as obras que vou apresentar concorrem para a construção das diferentes temáticas cultivadas nesta obra.

O primeiro autor – não pela ordem de aparição, mas pela reconhecida grandeza – que entremeia os poemas desta Canção de Setembro… é José Craveirinha, poeta em grande medida transversal à inteireza da obra –, por um lado pelas características temáticas absorvidas e, por outro lado, pela invocação de outras figuras e autores que Da Câmara faz, mas “retirados” de certa poesia do nosso poeta maior. Craveirinha surge aqui como que a sustentar ou reforçar o retrato da condição humana que, segundo a filósofa alemã, Hannah Arendt, é diferente da natureza humana. A natureza humana corresponderia ao conjunto de elementos sem os quais a existência do homem deixaria de ser humana, e a condição humana é explicada pela autora ao afirmar que “[o]s homens são seres condicionados: tudo aquilo com o qual eles entram em contacto torna-se imediatamente uma condição de sua existência” (ARENDT, 2007, p. 17), o que significa que a condição humana é resultado das circunstâncias em que o homem vive e, por essa razão, é influenciada pelas coordenadas tempo e espaço (o cronótopo). O retrato da condição humana em Craveirinha recai, com a devida empatia e até identidade, quase sempre sobre figuras/personagens que povoam os seus poemas como, por exemplo, a prostituta e a criança, ambas igualmente presentes nesta Canção de Setembro…, o carregador, a dançarina do cabaré, o magaíza, etc. Em Da Câmara, não só recai sobre diferentes figuras/personagens, marcadas por diversos circunstancialismos, como também sobre os sujeitos poéticos da obra, imersos nos diferentes dramas que matizam o “nosso” tecido social que, não obstante, e nisso Craveirinha e Da Câmara são parecidos, levam os referidos sujeitos poéticos a questionar a prevalência, por exemplo, das desigualdades sociais, da indigência, do sofrimento, da guerra, da governação, da violação dos direitos humanos, da corrupção, etc. Para exemplificar, podemos citar poemas como “Moscas gémeas de Bié” (p.13): “Certa vez/Na boca da noite/Sob as asas negras/Vi pela janela duas moscas gémeas/Lambendo merdas bem perto da casas ao lado/Duas moscas gémeas tímidas e parecidas/Riam-se das vozes que vinham do outro lado”; “Aqui ninguém morreu” (p. 43): “[…]//Nossa cidade pintada a cores/Negro e branco e amarelo/O projéctil aceso e lustro/Vem rente a cabeça dos meninos de Bié/E zás!…//Recolheram a arma do crime?/Os bandidos foram caçados e calcinados?/Os marginais foram julgados e presos? […]”; “Partido Político da Oposição” (p. 58): “Baixa esse machado de guerra traidor/Filho da puta!/Senta-te à mesa/Junta-te aos bons/Mesmo o Judas Iscariotes sentou-se à mesa na última ceia/Apesar da traição com trinta dinheiros/Vem…/Puxa a cadeira e senta/Os nossos parceiros já assinaram o cheque/Revemos a Constituição?/Revogamos o mandato (sic) de captura? Fomos todos amnistiados?”; e ainda o poema “Um 25 de Junho estilo a besta que pariu” (p. 70): “E a tocha vem aí/[…] Tende infinita piedade senhor: porque deles só esperamos vozes desquitadas/Vomitando cólera e parindo desilusão!//E a tocha vem aí/Faça frio faça sol/A mágica magia da chama vermelha/Vem aí…/Vem aí…/Vem aí…”

Alguns poemas desta Canção de Setembro… – como sejam “Cantiga para o meu país” (p.17), “Carcaça de tractor numa concha de caracol” (p. 18) –, remetem também para Craveirinha, quando Da Câmara invoca artistas (músicos, em particular) como, por exemplo, Daíco e Fany Mpfumo.

Um outro autor é Luís Bernardo Honwana, com o texto “Papá, cobra e eu”, título parecido com o título do primeiro poema do livro de Da Câmara, “A papaia, o menino e o cão”(p. 11). E por que me lembrei do conto de Luís Bernardo Honwana? Justamente por causa da personagem infantil, cuja construção, neste conto, é revestida de grande complexidade, distante da ingenuidade que se esperaria de uma criança, muitas vezes tomada como simples. Ginho, protagonista da história (que também é narrador), só a título exemplificativo, faz perguntas e afirmações ao pai que tacitamente questionam a não acção de Deus quando o seu pai, o Sr. Tchembene, faz a sua oração, após o episódio em que é enxovalhado pelo Sr. Castro que exige dele uma indeminização pelo cão morto, após ter sido picado por uma cobra que andava na capoeira da casa do Ginho. O pai do Ginho procura, em conversa com o filho, passar a ideia de que tal acontecimento só houve porque Deus assim o quis, mas Ginho desresponsabiliza Deus, dizendo que ele podia ter evitado que o cão do Sr. Castro fosse mordido. Podemos afirmar que Da Câmara revisita, através do poema “A papaia, o menino e o cão”, a complexidade a que me refiro no retrato e construção da personagem infantil, ao colocar a criança como força centrípeta (que atrai para si) e força centrífuga (que tira para fora de si) reflexões inimagináveis, aparentemente banais, mas que, no caso concreto, se relacionam com o conhecimento sobre a essência das coisas e dos seres/entes e sobre a Natureza enquanto entidade suprema:

[…]

De repente, não sei porquê, lembrei-me

Da história da papaia

Do menino e do cão

Estavam juntos sentados à mesma mesa

Estavam divertidíssimos

Conversavam de coisas banais

Diziam, por exemplo

Que todas as papaias maduras são amarelas

Que o cão quando é cachorro

É amigo dos meninos

Os meninos adoram cachorros e papaias.

 

Certa vez!

Aprendi que quando os meninos

Estão sentados à mesma mesa

Devem saber cantar e

Contar histórias

Do nascer e do pôr-do-sol

Que se um menino achar um búzio na praia

Deve dizer que é casa de um bichinho entre os milhões que vivem no mar

Equinodermes, Plâncton, Sirénios, Crustáceos, Celenterados

[…] (p. 11)

 

Eugénio de Andrade, poeta português, também parece presente nesta Canção de Setembro para Zamuzaria Maria. O poema de Da Câmara, dedicado a Sebastião Alba, que me lembrou o poeta português tem como título “Carcaça de tractor numa concha de caracol” (p.18):

Sabe: gosto dos meus amigos

Modelam a vida sem interferir

Gosto deles quando cantam e encantam

Inventam canções de embalar a alma

E sabem que também é branca a luza da madrugada

[…]

Sabe: gosto dos meus amigos

Aqueles que pintam interiores e modelam a ferrugem

Almas insípidas no exílio à luz da cidade nocturna

Onde marulham outras águas

Outras caças no sorriso irónico (p. 18)

 

Este retrato eufórico (e carregado de lirismo) da amizade que até, num outro viés, lembraria o “Poemazinho eterno” de Craveirinha, lembra o poema “Os amigos”, de Eugénio de Andrade, sobretudo no que à partilha de amor e alegrias diz respeito: Os amigos amei/despido de ternura/fatigada/ uns iam, outros vinham,/a nenhum perguntava/porque partia,/porque ficava;/era pouco o que tinha,/pouco o que dava,/mas também só queria/partilhar/a sede de alegria —/por mais amarga.

Como já dissemos, a construção de considerável parte das temáticas da obra de Da Câmara está ligada às intersecções que ela estabelece com vários outros textos, conscientemente ou não, e, neste domínio, podemos alagar tais intersecções referindo-nos, por exemplo, ao livro de poemas de Filimone Meigos, Globatinol – Antídoto – Ou o Garimpeiro do Tempo, presente no poema “Chamadas telefónicas (ii)”, (p. 23) que funciona, como o próprio poeta afirma, como um oráculo de Muxúngue, remetendo, por conseguinte, para os ataques armados nesta região do país, iniciados em 2013, e autorizados, teórica e paradoxalmente, por um “garimpeiro do tempo” ou, se quisermos, um dos garimpeiros da nossa história.

Com De Medo Morreu o Susto, de Aurélio Furdela, em particular com o conto “A minha morte”, o diálogo é estabelecido através do poema “Epitáfio” (p. 26), em que a morte é descrita sobretudo como um estado de sensações: “Só sei que já parti/E que vou chegando devagar/Singrando na fuligem melancólica/Sobre a planície verde com espigas de bronze/A densa madrugada tamborilando as sete balas vazias”. Além disso, o poema “Fim de citação” (p. 28) revela, por um lado, um diálogo com Chitlango, Filho do Chefe, de Chitlango Khambane e André-Daniel Clerc, precisamente com o capítulo primeiro deste livro, denominado “O escorpião dentro do pilão” e tal se pode ver pela epígrafe “Um escorpião dentro do pilão”. Por outro lado, e isto mostra a preocupação do poeta com temáticas mais universais, há um subtil diálogo com o filósofo austro-britânico, Karl Popper, a quem o poema é dedicado, cuja reflexão sobre a tolerância – conhecida como o paradoxo da tolerância – na sua obra A Sociedade Aberta e os Seus Inimigos, já foi usadas para analisar a guerra entre Israel e Palestina que, no poema em causa, se resumiria na questão “A guerra próxima: o próximo judeu?”, em que, tal como o protagonista de Chitlango, Filho do Chefe esmaga um escorpião no pilão, esta seria provavelmente uma analogia do que a história nos legou até agora sobre esta guerra.

Temos ainda, neste livro, o “Let my people go” que nos lembra Noémia de Sousa (e também o Livro de Êxodo, da Bíblia Sagrada e até a canção de Louis Armstrong), “inserido” num poema intitulado “Maçanica para uma mulher de Misrata” (p. 38) que fala sobre a cidade líbia, Misrata. No poema é criticada a acção do Ocidente que muito bem se revela numa metáfora que gera uma ironia que atinge o sarcasmo nos versos seguintes: “O tanque subtil do diabo-mor ocidental/Toca piano no centro da cidade de Misrata”.

Os diálogos são vastos. Há outros com escritores e músicos que não podem ser desenvolvidos nem explicada a sua natureza e papel nesta Canção de Setembro… (como, por exemplo, diálogos com escritores como Rui Knopfli, Eduardo White, João Paulo Borges Coelho, com o músico Alexandre Langa, etc.). O importante talvez seja compreender a poesia de Da Câmara como que revestida de subtilezas diversas e de uma certa dose de lirismo, mas também de uma contundência (esta que se vê em Craveirinha), ao, por exemplo, abordar questões sociais actuais, desde problemas da maioria anónima do nosso país às atitudes e posturas reprováveis dos nossos governantes que mantêm este estado de coisas, e é provavelmente por estas e outras razões que o poeta afirma num poema com cujo título termino esta apresentação: “Sinto que este momento presente me assassina” (p. 67-68). No fundo, os momentos presentes que vivemos assassinam-nos a todos, todos os dias.

Muito obrigado pela atenção!

Fundação Fernando Leite Couto, aos 3 de Julho de 2025

 

Referências bibliográficas

ANDRADE, Eugénio. (1956). Até amanhã. Lisboa: Guimarães Editores.

ARENDT, Hannah. (2007). A Condição Humana. 10.ª ed. Trad. Roberto Raposo. Rio do Janeiro: Forense Universitária.

CÂMARA, Rafael da. (2023). Canção de Setembro para Zamuzaria Maria. Maputo: Gala-gala edições.

KRISTEVA, Julia. (1974). Introdução à Semanálise. Trad. Lúcia Helena França Ferraz. São Paulo: Perspectiva.

PAULINO, Graça; WALTY, Ivete & CURY, Maria Zilda. (1995). Intertextualidades: teoria e prática. Belo Horizonte: Editora Lê.

 

O filme “O Ancoradouro do Tempo”, realizado por Sol de Carvalho, estreou no dia 26 de Junho, em salas de cinema de várias cidades portuguesas. A longa-metragem é uma adaptação do romance “A Varanda do Frangipani”, da autoria de Mia Couto, e integra as comemorações dos 50 anos da independência de Moçambique.

Segundo um comunicado de imprensa, as sessões de exibição decorreram em sete cidades, com destaque para os debates promovidos com o realizador e convidados. Segundo Sol de Carvalho, “os debates foram riquíssimos, mas constatei uma grande falta de informação sobre a realidade moçambicana e o dia a dia das pessoas”.

A mesma nota adianta que o cineasta sublinhou a importância de promover mais conhecimento e representação da actualidade moçambicana: “É preciso pensar em formas de promover informação real sobre o país”, Sol de Carvalho.

A digressão pelas cidades portuguesas terminou em Tomar, num encontro marcado pela forte participação do público e pelo interesse demonstrado nas questões sociais, culturais e políticas de Moçambique.

A estreia oficial de “O Ancoradouro do Tempo” em Moçambique está prevista para muito em breve, com planos para levar o filme a diferentes regiões do país.

O realizador explicou os motivos que levaram à estreia em Portugal: “No contexto das comemorações dos 50 anos da independência e por obrigações contratuais, o filme foi lançado primeiro em Portugal, mas a estreia no país está para muito breve”, reiterou.

Rodado na histórica Fortaleza de São Sebastião, na Ilha de Moçambique, o filme acompanha Izidine (interpretado por Tomás Bié), um jovem inspector da polícia encarregado de investigar o assassinato de Vasto Excelêncio, director de um asilo situado numa antiga fortaleza colonial. Combinando realismo mágico, crítica social e introspecção histórica, a obra propõe uma leitura profunda da memória colectiva e da identidade moçambicana.

A direcção do filme é de Sol de Carvalho e o roteiro de Mia Couto e Sol de Carvalho. 

Quanto ao elenco, o filme conta com Maria Adamugy, Tomas Bie, Horácio Guiamba, Mário Mabjaia, Josefina Massango.

A produção é da Real Ficção, co-produção é da Promarte (Moçambique), Autentika Films (Alemanha), Gamboa & Gamboa (Angola) e Caméléon Production (Maurícias).

“Sussurros do tempo – lendas e mitos” é a exposição que se segue na Galeria da Fundação Fernando Leite Couto, Cidade de Maputo.

A inauguração está marcada para esta quarta-feira, às 18 horas. A mostra reúne obras de pintura e desenho de autoria de Bruno Chichava e tem a curadoria de Yolanda Couto.

Trata-se da terceira exposição individual de Bruno Chichava, um artista multifacetado, actuando nas áreas de pintura, desenho, ilustração, design gráfico e grafíti (arte urbana).

De acordo com a nota de imprensa da Fundação Fernando Leite Couto, em “Sussurros do tempo – lendas e mitos” há uma atmosfera que conduz a um universo amplo da visão do artista, entre obras monocromáticas de desenho ou a pinturas que oscilam entre o suave e o grotesco. 

Nos desenhos, adianta a Fundação Fernando Leite Couto, Bruno Chichava prefere a linguagem dos corpos, o traço, a silhueta, a nuance, ao tijolo ou ao betão armado a edificar palavras com o peso que elas transportam.

Bruno Chichava, moçambicano, nascido em Maputo no Bairro da Mafalala, Cidade de Maputo, é formado em Artes Gráficas pela Escola Nacional de Artes Visuais. Tem obras com coleccionadores de arte de Moçambique, Senegal, África do Sul, Suécia, Estónia, Inglaterra e Portugal. Participou em diferentes exposições, festivais e oficinas de arte.

Nesta terça-feira, às 18h, será inaugurada, no Centro Cultural Franco-Moçambicano (CCFM), Cidade de Maputo, a exposição “Idas e Vindas”, que ficará patente na Sala de Exposições até ao dia 4 de Agosto.

A mostra apresenta uma selecção de 49 fotografias de Ricardo Rangel, resultado de um trabalho desenvolvido por quatro estudantes finalistas da Escola Superior de Artes, da Ilha da Reunião, no âmbito do seu programa de pesquisa “Artes, Paisagens e Insularidades”.

“Acompanhados pelas suas professoras, os estudantes realizaram uma viagem de estudo a Maputo no final de 2024, onde mergulharam no vasto acervo de Ricardo Rangel, preservado no Centro de Documentação e Formação Fotográfica de Moçambique, fundado pelo próprio fotógrafo. Entre mais de duas mil imagens digitalizadas, seleccionaram aquelas que melhor dialogam com os temas explorados nos seus percursos artísticos — como o quotidiano urbano e rural, os gestos simples, a memória colectiva e as ligações entre território e identidade — propondo uma leitura contemporânea do legado de Rangel e cruzando olhares entre Moçambique e o Oceano Índico”, pode-se ler na nota do Franco.

“Idas e Vindas” foi apresentada pela primeira vez na Ilha da Reunião, durante o colóquio “Formas e Memórias de Moçambique e da Reunião: histórias cruzadas e paralelas”, e chega agora a Maputo, abrindo um novo capítulo de diálogo em torno da obra de Rangel.

Na quarta-feira, às 18h30, o Auditório do Franco, acolhe uma mesa-redonda intitulada “Travessias Visuais: Memórias e Resistência no Olhar de Ricardo Rangel”, que parte da exposição para promover uma conversa aberta a investigadores, estudantes, fotógrafos e ao público em geral.

A mesa-redonda propõe um diálogo sobre a Cidade de Maputo como território de observação crítica, memória e resistência, a partir das fotografias de Ricardo Rangel apresentadas na exposição “Idas e Vindas”.

O painel contará com a participação de Rafael Bordalo (CDFF), Belchior Canivete (investigador) e Isaias Fuel (pesquisador e docente).

A realização desta exposição conta com o apoio do Millennium bim, parceiro do CCFM na promoção das artes e da cultura em Moçambique. Com este apoio, o banco reafirma o seu compromisso com o incentivo à criação artística e ao diálogo intercultural, contribuindo activamente para a valorização do património cultural moçambicano.

RICARDO RANGEL

Nascido em 1924 em Maputo (antiga Lourenço Marques), Moçambique. Faleceu em 2009 em Maputo.

Ricardo Rangel foi fotojornalista. O seu trabalho orientou-se para a denúncia da colonização, o que lhe valeu várias detenções. As suas fotografias contam a história de Moçambique através dos gestos e das actividades quotidianas da população. 

Centradas no ser humano, as suas imagens são documentais, comprometidas e críticas. Em torno de Ricardo Rangel formou-se uma escola moçambicana do “real”.

Mestiço de origem grega, chinesa e africana, foi, em 1952, o primeiro não branco a trabalhar como fotojornalista no jornal moçambicano Notícias da Tarde. Considerado um dos pais da fotografia africana, Ricardo Rangel contribuiu também para o desenvolvimento, profissionalização e promoção da fotografia em Moçambique, ao fundar, no início dos anos 1980, a Associação Moçambicana de Fotografia, e posteriormente o Centro de Documentação e Formação Fotográfica.

Está representado pela AFRONOVA GALLERY (Joanesburgo).

O académico e representante da Comunidade de Santo Egídio em Sofala, Nelson Moda, lançou recentemente o livro Xibalo, quando Moçambique era uma província, onde afirma que “o Xibalo e a colonização ainda não terminaram” em Moçambique. A obra literária resgata a memória dos tempos coloniais e presta homenagem aos moçambicanos que resistiram de forma corajosa ao trabalho forçado imposto pelo regime português.

O termo Xibalo, de origem bantu, era utilizado para designar o sistema de trabalho forçado aplicado durante a administração colonial portuguesa. Milhares de moçambicanos foram obrigados, sob violência e repressão, a trabalhar em plantações agrícolas, obras públicas e minas sem qualquer remuneração. Para Moda, os traços deste passado continuam presentes no tecido social e económico do país.

“O Xibalo não foi apenas físico, mas também psicológico e institucional. Há mecanismos de exploração hoje que ainda carregam a mesma lógica”, afirmou o autor durante o lançamento do livro.

A apresentação da obra esteve a cargo de Félix Machado, presidente da Associação Comercial da Beira, uma instituição que, segundo explicou, surgiu na luta contra o trabalho forçado, especialmente nas zonas sob concessões açucareiras em Manica e Sofala. Para Machado, a escolha do título Xibalo “não foi meramente simbólica”, mas sim uma afirmação de denúncia e memória histórica.

O livro foi prefaciado pelo antigo Presidente da República, Joaquim Chissano, cuja mensagem destaca a importância de preservar a memória coletiva como base para uma cidadania consciente.

O sociólogo Pedrito Cambrão considerou a obra de Moda como um contributo valioso para clarificar o presente e o futuro dos moçambicanos, para que os erros do passado não se repitam.

O edil da Beira também marcou presença no evento e enalteceu a iniciativa, apelando às universidades moçambicanas para integrarem obras como esta nos seus currículos. 

Mais do que um livro de memórias, Xibalo é um apelo à reflexão sobre o passado colonial e suas permanências no quotidiano moçambicano, 50 anos após a independência nacional.

A Associação Kulemba, em parceria com Cornelder de Moçambique, abriu, no 11 de Abril de 2025, as inscrições para a 3ª edição do Prémio Literário Mia Couto, que distingue as melhores obras literárias publicadas anualmente por autores moçambicanos. Para o efeito, foi constituído um colectivo de júri, que, esta sexta-feira, apresentou a lista de 10 finalistas do concurso.

Para a categoria de poesia, foram seleccionadas as seguintes obras: As coisas do morto, de Francisco Guita Jr.; Instalação do corpo, de Léo Cote; O pouso do casco, de Lino Mukurruza; Tocar o ser, de Sánia Iacuti; e Um umbigo arde na boca, de M. P. Bonde.

Já para a categoria de prosa, foram escolhidos os livros: A queda do Macombe Chipapata: tramas e revoltas, de Celestino Joanguete; As origens, de Lavimó da Verónica; Névoa na Sala, de Mélio Tinga; O código das serpentes, de Hélder Muteia; e Última Memória. Entrevista com Sthoe, de Lucílio Manjate.

O anúncio das obras vencedoras será feito em Agosto e a cerimónia de premiação terá lugar no dia 05 de Setembro do corrente ano, na cidade da Beira. Cada vencedor do Prémio Literário Mia Couto será agraciado com valor pecuniário na ordem de 400.000 MZN (quatrocentos mil meticais), financiado pela empresa Cornelder de Moçambique.

O júri da 3ª edição do Prémio Literário Mia Couto é constituído por Nataniel Ngomane (presidente), Teresa Noronha, Vanessa Riambau Pinheiro, Joaquim Arena e Marcelo Panguana.

“Terra sonâmbula”, de Mia Couto, foi distinguido, ​​​esta quarta-feira, em França, com o prémio Laure-Bataillon, atribuído ao melhor romance estrangeiro traduzido em língua francesa. 

O romance de estreia do escritor já tinha sido publicado em 1994 naquele país europeu, pela editora Albin Michel. No entanto, adianta uma nota de imprensa, este ano, o romance foi reeditado pela editora Metaillé, numa tradução de Elisabete Monteiro Rodrigues.

O prémio Laure-Bataillon foi estabelecido em 1986, numa iniciativa conjunta das cidades de Nantes e Saint-Nazare e destina-se a contemplar autores estrangeiros e os respectivos tradutores em língua francesa.

Publicado em 1992, “Terra sonâmbula” reflecte sobre a esperança entre o fim de uma era e o começo de outra, numa marcada e devastada por um conflito armado.

Em Moçambique, a Fundação Fernando Leite Couto, actualmente conta com uma reedição da obra no formato de “bolso”, na expectativa de que mais leitores, sobretudo jovens, possam ter acesso a um clássico moçambicano, considerado um dos melhores livros africanos do século XX.

 

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