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Futuro incerto para famílias nos centros de acomodação

“Nós somos como rebenta minas. Estamos a socorrer pessoas e só depois é que vamos ver o que fazer com as famílias”. Esta é a posição do Conselho Municipal da Matola sobre o futuro das cerca de mil famílias que estão reassentadas nos centros de Acomodação de Dlhavela, no bairro com o mesmo nome, e da Organização dos Trabalhadores Moçambicanos (OTM), na cidade da Matola.

Toda abordagem sobre o futuro é prematura, tão prematura que, segundo o pelouro de Saúde, Acção Social e Sociedade Civil do Município da Matola, ainda há muitas famílias que estão por decidir se vão deixar as zonas inundadas ou não.

“Ainda estamos a fazer trabalho de base porque para podermos saber onde é que vamos levar as famílias temos que saber quantas famílias é que temos. Até hoje ainda não temos o número real”, disse Paula Jacute, vereadora da área.

Realidade, porém, que as famílias não param de chegar aos centros de acomodação. Os reassentados não param de chegar. Fogem das suas casas, casas invadidas pela água da chuva e que não oferecem condições de habitabilidade.

De sexta-feira até hoje (três dias) quase duplicou o número de reassentados que estão no Centro de Acomodação de Dlhavela, no Município da Matola. Residente no quarteirão três do bairro Dlhavela, Catarina Mathusse até resistiu por alguns dias e depois refugiou-se na vizinhança. Mas com a pressão psicológica que viver fora de casa e todos os dias assistir impacientemente a água que, na sua casa, teima em não baixar acabou por ceder, tendo chegando no último sábado ao centro de acomodação.

“Para que eu chegasse aqui no sábado foi graças a intervenção do Chefe de Quarteirão que ao passar da minha casa e encontrá-la alagada, contactou-me onde estava hospedada. Já estamos há três anos a conviver com água dentro do quintal sempre de chove”, explica a mãe de dois filhos, com os quais passa o dia no centro.

Depois de ser transferido para o centro, o senhor Armando Mathusse de 72 anos idade ainda regressou para casa pensando que a água tivesse baixado, mas deparou-se com o mesmo cenário. “Ainda está cheio de água e nem tem tendência de baixar. Para entrar dentro da casa é preciso mergulhar na água”, confessa.

Em termos globais, o Centro de Acomodação de Dlhavela conta agora com 260 famílias, que fugiram de um problema mas agora encontraram outros.

“Estamos a pedir que nos ajudem criando condições para que nossos filhos continuem a frequentar a escola, pois muitos acabaram de iniciar as aulas e correm risco de perder muita matéria”, conta Elisa Mateus.

Já no bairro da Matola G, foi instalado o Centro de Acomodação da OTM, até agora com 14 tendas. Estão instaladas 104 pessoas, provenientes do bairro Fomento também afectado pelas inundações. Quando visitamos o centro, ontem, técnicos da Eletricidade de Moçambique montavam tendas para o recinto e estava em curso o descarregamento de mais redes mosquiteiras. É que as pessoas não para de chegar, inclusive por iniciativa própria.

“Cheguei na madrugada de ontem e vi a situação crítica em que está a minha família e decidi aproximar-se para saber das condições necessárias para receber ajuda aqui no centro. Fui aceite e vou buscá-los para aqui ficar”, explicou ao nosso jornal Vasco Corneto.

Vasco, como outras centenas de reassentados ganharam um alívio temporário. Agora seu futuro está dividido em duas hipóteses: esperar a chuva baixar e regressar aos bairros problemáticos e receber espaços para recomeçar.

Reassentados chegam saudáveis aos centros de acomodação

Embora cheguem aos centros de acomodação depois de semanas vivendo mergulhados na água da chuva, maior parte dos reassentados gozam de boa saúde. “Não temos registo de casos graves de problemas de saúde. Tivemos apenas registo de 27 pessoas é que aproximaram-se a tenda dos serviços de saúde com sintomas de malária mas receberam medicação e estão a registar melhorias no seu estado de saúde”, explica António João Pedro, técnico da Cruz Vermelha de Moçambique em serviço na manhã de ontem.

No geral as autoridades sanitárias recomendam às pessoas que ainda se encontram em zonas alagadas a tomarem cuidados de higiene ou deixarem os locais com maior urgência para não correr risco de contrair doenças hídricas.

 

 

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