A vida das cerca de 2100 pessoas reassentadas em Corane/Nampula tende a normalizar-se, mas alguns vivem angustiados por terem os seus familiares nas zonas sob controlo dos terroristas em Cabo Delgado.
Foi o primeiro centro de reassentamento aberto no país para acolher os deslocados internos que deixam as zonas de conflito, em Cabo Delgado, à procura de segurança e sossego. Passam 40 dias após ter iniciado o reassentamento. As tendas disponibilizadas e montadas pelo Governo servem de primeiro abrigo. A instrução é cada família, no seu talhão de 20 por 30 metros, ir construindo uma casa transitória para libertar a tenda para outros necessitados.
Tenta-se reconstruir a vida destruída pelos terroristas nos distritos a norte de Cabo Delgado.
Samine Mahando, vem de Mocimboa da Praia. Há um mês e quatro dias que vive em Corane, com mais três filhos. “Tenho muito interesse em voltar para Mocímboa da Praia”, diz com nostalgia e fundamenta porquê: “deixei muita coisa lá”.
Valoriza o esforço feito pelas autoridades do Governo em Nampula na disponibilização de condições básicas para o recomeçar da vida. Entretanto, não deixa de lamentar o desconforto de dormir na esteira, dentro de uma tenda, cujo chão é a própria tenda. “Há muitos bichos debaixo destas tendas. Escorpiões, maria-café. Peço ao Governo para nos ajudar com colchão ou pelo menos aquelas camas tradicionais”.
Renita António faz parte de um agregado de 7 pessoas. Agradece o acolhimento, mas não esconde a angústia porque parte da família está nas matas de Macomia até hoje. “Já sobressaíram em Macomia-sede, mas estão no mato. Minha mãe está na aldeia Nova Zambézia. Estão no mato por causa do medo do que viram lá no posto administrativo de Chai. Não sei o que faço para essa minha família chegar aqui”.
Manuel Miguel chefia um agregado de cinco pessoas. A cada dia tentam integrar-se no novo lugar. “Desde que chegamos aqui nunca ficamos mal, mas o que nos preocupa aqui é a chuva e vento que ‘arranca’ as nossas tendas”.
O Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) é que lidera a parte operacional do processo de reassentamento. “Temos stock suficiente para podermos fazer assistência regular, mensal. Sabemos que as famílias querem mais, mas garantimos a ração mensal onde cada pessoa numa família tem 10 kg de cereais; 2 kg de leguminosas e 1 litro de de óleo – isso vamos conseguir realizar, pelo menos nos próximos tempos”, assegurou Alberto Armando, delegado provincial do INGC em Nampula.