Celebra-se hoje o Dia Internacional do Algodão. Em Moçambique, esta cultura de rendimento gera receitas para o Estado na ordem de mais de 30 milhões de dólares anuais. O grande desafio é a criação de fábricas de fiação para o aproveitamento completo das potencialidades que podem ser geradas pela cultura.
Produzido maioritariamente na região norte, principalmente nas províncias de Nampula, Cabo Delgado e Niassa, o algodão é uma cultura que gera rendimentos para mais de 200 mil produtores rurais. A produção e comercialização dessa cultura não obedece a lógica de outros produtos, sendo que esse que neste caso usa-se o sistema de concessão.
“O Estado assina contratos de fomento e extensão rural, atribuindo áreas para a promoção desta cultura às empresas concessionárias, as quais assistem as famílias que estejam directamente envolvidas na produção e comercialização desta cultura. As províncias da zona Norte contribuem com mais de 70% do total da produção nacional, sendo que pela densidade de empresas que lá existem, o maior número de produtores está nessas províncias”, explicou Frei Sualé, delegado do Instituto de Algodão e Oleaginosas na província de Nampula.
O interlocutor, que superintende as províncias do norte e parte da província da Zambézia, avançou que “em Moçambique, o algodão é praticado por cerca de 250 mil famílias, representando uma fonte segura de rendimento para mais de 1.500.000 habitantes rurais”.
“Mais de um milhão de meticais constitui a receita resultante da produção do algodão, valor através do qual as famílias conseguem” enfrentar a “insegurança alimentar. Têm acesso ao vestuário, a instrumentos agrícolas, à saúde e educação, entre outros bens. Ao longo da sua cadeia de produção e manuseamento, o algodão cria mais de 20.000 postos de trabalho assalariado, incluindo os sazonais”, disse a fonte.
Segundo o delegado do Instituto de Algodão e Oleaginosas em Nampula, mais do que gerar renda para as famílias rurais, o algodão produz receitas para o Estado.
“O algodão é grande contribuinte do Produto Interno Bruto (PIB), capta divisas, gera uma receita de 30 a 50 milhões de dólares anuais, contribuindo positivamente para o equilíbrio da balança de pagamentos”, detalhou o responsável.
Nesta época, devido à oscilação do valor dessa matéria-prima no mercado internacional, o quilograma do algodão de primeira deveria ser comercializado a 19 meticais. Entretanto, o Executivo decidiu subsidiar os produtores com acréscimo de seis meticais, passando a custar 25 meticais o quilograma.
“Trata-se de uma medida que satisfaz o produtor, pois com essa intervenção do Governo, o produtor não sai lesado e pode ter rendimentos para fazer investimento familiar. Com essa intervenção, o Governo pretendia, também, viabilizar a produção do algodão caroço e estimular a rotatividade de culturas, através do incentivo de culturas de ciclo rotativo, para aumentar e salvaguardar a renda das famílias rurais. Consequentemente, espera-se um efeito positivo na produção da próxima campanha, através do aumento do número de produtores e de áreas de produção”, explicou Frei Sualé.
ALGODÃO GERA 50 BILIÕES DE DÓLARES NO MUNDO
Vista como uma matéria-prima que pode ser utilizada em vários sectores, muitos países têm apostado na produção do algodão, sendo que a China aparece como uma referência global na produção deste produto.
“A importância deste produto à escala global é notável, considerando que 75 países nos cinco continentes produzem esta cultura, envolvendo cerca de 100 milhões de famílias, com uma produção mundial de 25 milhões de toneladas. O algodão produz uma receita anual de 50 biliões de dólares, sendo que a China é o maior produtor e consumidor do total da fibra produzida anualmente, enquanto os Estados Unidos da América são o terceiro maior produtor e o maior exportador”, disse Sualé.
MOÇAMBIQUE PRECISA DE INDÚSTRIAS PARA APROVEITAR O ALGODÃO
Manuel Delgado, gestor de uma das empresas que fomenta o chamado ouro branco, processa e vende fibra de algodão, na província do Niassa e considera que o país tem potencial para ter mais rendimentos com esta cultura.
“Temos que correr para a industrialização do nosso país. Com a quantidade de algodão que se produz temos que ter indústrias de fiação, indústrias têxteis, roupa e fardamento. Só assim iremos multiplicar os benefícios do algodão com a geração de mais empregos, dinamização da economia do país e da vida de todos os envolvidos na cadeia de produção dessa cultura”, entende Manuel Delgado.
O algodão produzido e processado em Moçambique é vendido para países como Vietname, Malásia, Tailândia, China, Singapura, Bangladesh e Japão.
VIDAS TRANSFORMADAS PELO ALGODÃO NO NIASSA
A cultura do algodão está a transformar a vida de produtores no norte do país. Rasul Wiliam é disso exemplo. Produtor de referência no distrito de Mecanhelas, província do Niassa, tem duas esposas e oito filhos.
O agricultor contou que o algodão está a trazer benefícios na sua vida. “Graças a essa actividade consegui comprar uma motorizada, consegui tratar a minha carta de condução em Lichinga, construí uma casa melhorada coberta de chapas de zinco e consigo alimentar a minha família e os meus seis trabalhadores”, disse alegre.
Graças ao seu empenho, há um ano, o cidadão beneficiou de um trator, no âmbito do fomento da cultura, com o qual pretende aumentar a sua produção, pois tem uma meta: “comprar um carro porque tenho muitas dificuldades de transportar a minha produção”.
“Mais ainda, tenho muitas dificuldades quando saio para a província da Zambézia, onde procuro trabalhadores para o período de colheita. Tenho que depender de “chapas” para os transportar e tenho que percorrer toda essa distância de motorizada. Acredito que com um pouco mais de esforço irei conseguir”, afirmou o agricultor, esperançado.
Quem também está a lutar é Xavier Nloco. Produtor do distrito de Cuamba, localidade de Timane. Ele encontra no algodão um produto que impulsiona outros negócios.
“Tenho duas lojas e procuro diversificar as minhas actividades. Todas eu consegui graças ao algodão. Com esta cultura consegui construir três casas melhoradas, construí um muro na minha casa, tenho corrente eléctrica e consigo alimentar os meus filhos”, alegrou-se Xavier.
Mesmo sendo uma referência na comercialização de peças de bicicletas e produtos alimentares, ele não pára de sonhar. “Quero uma viatura. Com ela poderei desenvolver melhor a minha actividade. Esses produtos que tenho na barraca compro em Nampula e no Malawi” mas “tenho enfrentado dificuldades para trazer até aqui à localidade. Com uma viatura, a minha vida seria mais facilitada”, terminou.