O editor Celso Muianga considera que Moçambique está a produzir mais e melhores poetas ao nível dos PALOP. Ainda assim, para o académico Elídio Nhamona, há maus livros poeticos no país.
A 21 de Março (amanhã) celebra-se o Dia Mundial da Poesia. Considerando a importância do simbolismo por detrás da efeméride, O País ouviu alguns intervenientes da arte literária ao nível nacional. Todos eles, consideram que têm aparecido grandes produções literárias em Moçambique, nos últimos anos. Todavia, há sempre um “mas”.
Dos entrevistados, o primeiro a referir-se à arte poética produzida no país foi Celso Muianga. Na óptica do editor da Fundação Fernando Leite Couto, a poesia moçambicana respira boa saúde por se ter renovado bastante em todos aspectos nos últimos 15 ou 20 anos. Inclusive, realça Muianga, há novos centros de produção a considerar fora de Maputo. “Por exemplo, o último vencedor do Prémio Literário Fernando Leite Couto, Otildo Guido, nasceu em Inhambane e está a estudar em Xai-Xai, onde existe um movimento literário forte”.
Na sua análise, Celso Muianga acrescenta que Moçambique recuperou a classificação “País dos poetas”, quer pela quantidade de autores, quer pela qualidade. E não se fica só por aí: “Ao nível temático, por exemplo, há uma preocupacao dos poetas no sentido de garantir maior rigor estético e apurado. A propósito, neste 2020 celebra-se 40 anos de Monção, de Luís Carlos Patraquim, um livro que é divisor de águas, com um pendor lírico muito longe de compromentimentos de ideais políticos. Esta geração que está a progredir nos últimos 15 a 20 anos ancorou-se, de alguma forma, no estilo de Patraquim, do mesmo modo que ele ancorou-se num Rui Knopli”.
Outro elemento que contribui para que o editor da Fundação Fernando Leite Couto considere que a poesia moçambicana está saudável é o Prémio Glória de Sant’’Anna. “Em poucas edições, conseguimos colocar muitos poetas na lista de finalistas, o que demonstra a nossa qualidade”.
Ainda assim, Celso Muianga entende que o país tem o desafio de investir mais em número de poetisas. “Seja como for, comparando com os anos 80, temos muitas mais mulheres”.
Nas contas do editor, o número de poetas com qualidade que Moçambique possui supera e muito o dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). “Se fosse um jogo de futebol seria uma goleada”. E Muianga destaca alguns nomes: Sónia Sultuane, Rinquel, Sangare Okapi, Andes Chivangue, Mbate Pedro, M. P. Bonde, Chagas Levene, Jaime Munguambe, Hirondina Joshua, Rogério Manjate, Japone Arijuane, Amosse Mucavele e Álvaro Taruma.
Quem também entente que Moçambique vive um bom período em termos de produção poética é o escritor Juvenal Bucuane. “Tenho testemunhado textos com muita qualidade literária dos jovens autores, o que me faz acreditar que a poesia moçambicana tem continuidade. Nota-se que os novos poetas preocupam-se em dar qualidade ao que escrevem e com conhecimento de técnicas literárias. Se faço prefácios e apresentações dos livros dos novos poetas é por ter confiança neles”.
Por sua vez, na sua apreciação ao cenário poético, o professor de Literatura, Elídio Nhamona, primeiro, concorda que há qualidade: “Pelo que vejo, há no país uma poesia muito bem feita e escrita, que demonstra bom gosto dos seus autores”. A poesia em causa, para Nhamona, é produto de muita leitura de livros de autores antigos, moçambicabos e estrangeiros.
Segundo, nem tudo é um mar de rosas. Elídio Nhamona adianta que, no meio da boa poesia, há, igualmente, muita que é má, feita de forma apressada, apenas a pensar-se na publicação. “Ou seja, temos uma mistura de boa e má poesia. Mas acredito que o tempo vai ajudar a seleccionar os melhores, que se vão destacar e tornar-se novos poetas. Os maus irão desaparecer”.
Enquanto os bons poetas amadurecem e os maus não desaparecem, um pouco por todo o mundo celebra-se a 21 Março o Dia Mundial da Poesia, data instituída pela UNESCO, em Novembro de 1999, com o intituito de promover a leitura, a escrita e a publicacao de textos poéticos.