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Radiografia da cobertura jornalística da corrupção apresentada em livro

O docente universitário Ernesto Nhanale encoraja à classe jornalística moçambicana a continuar firme e incansável na cobertura sobre a corrupção em Moçambique. O académico fez esta quarta-feira, a abordagem, na sequência do lançamento em Maputo, de uma obra da sua autoria

Ernesto Constantino Nhanale, docente universitário em Ciências de Comunicação lançou ontem, na capital do país, Maputo, um livro com o título interrogador: “A cobertura dos Media sobre a Corrupção em Moçambique: Um Contra-Poder abalado?” Uma questão cuja resposta é encontrada nas 190 páginas da obra de sua autoria.

Em abordagem comparativa sobre como os jornais semanários Domingo e Savana fizeram a publicação dos seus artigos sobre a corrupção entre 2008 e 2015, a contar pelos antagónicos espectros nas linhas editoriais, o académico “oferece uma proposta de debate sobre o sentido que se pode atribuir a responsabilidade social dos media em contextos de democracias de partidos dominantes, como Moçambique”, consta do posfácio da obra.

“Este livro é de cidadania. Mais do que ser um livro que nasce da universidade e para a universidade, é, igualmente, um estímulo de debate para os meios de comunicação social. Temos que compreender que os media são uma profissão próxima às pessoas”, salientou o autor.

“É uma contribuição que pretende dar um olhar sobre o que é o jornalismo em Moçambique e, quais são as deficiências e os seus méritos. Basicamente, há nele um trabalho de análise dos casos de corrupção como uma amostra de qualidade”, afirmou Nhanale, acrescentando que “visa essencialmente estudar a cobertura da corrupção e, desta forma, captar de forma perfeita a responsabilidade social dos meios de comunicação social no país”, disse o académico, em notas explicativas ao “O País”.

Apesar dos desafios, o académico tem notado que os jornalistas moçambicanos têm abordado de forma corajosa assuntos sobre a corrupção e, por isso, encoraja a classe a continuar.

“Há coragem sim, o que nós queremos é mais profissionalismo; uma agenda mais sistematizada, uma maior qualidade e uma maior pressão na agenda, de modo a garantir de casos não apenas começados pelos outros, só assim vamos combater este mal”.
Já para Adriano Nuvunga, que fez a crítica da obra, para além dos jornalistas moçambicanos, quem também exibe sua coragem é Ernesto Nhanale, a contar pela publicação do livro com conteúdo considerado controverso.

“No ano passado um vice-ministro disse para mim que o meu assunto em relação ao trabalho que faço se resolvia com bala. Era um vice-ministro a falar assim”, narrou o episódio Nuvunga, para depois sustentar que “era para mostrar a coragem por Nhanale ter escrito o livro sobre uma temática ‘proibida’, em Moçambique.

Na sua obra, Ernesto Nhanale aponta que “um conjunto de factores políticos, sociais, económicos e legais, acoplados aos baixos níveis de profissionalismo, bem como a polarização dos media são os factores que abalam os órgãos, enquanto o contra-poder em Moçambique”.

O lançamento do livro de Ernesto Nhanale teve lugar ontem, em Maputo, num evento que contou com diversas personalidades.

Nhanale é doutorado em Media, Comunicação e Cultura pela Universidade Autónoma de Barcelona. Actualmente é docente na Universidade Eduardo Mondlane, Universidade Pedagógica de Maputo e na Escola Superior de Jornalismo. Este é o primeiro livro que lança.

 

 

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