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Discurso tomada de posse AEMO SG 2025

Caras confreiras e caros confrades

Queridas e queridos convidados

Jubiloso, ocorre-me um poema do nosso amigo Eduardo white, inserido no livro Homoíne, que tem um verso que diz qualquer coisa como, “Os nossos mortos são muitos. São muitos os nossos mortos.” 

À luz deste poema, no lugar de pedir um minuto de silêncio, peço um frémito pelos nossos mortos. 

É longa a lista dos nossos mortos. Queremos, contudo, evocá-los e convocá-los para que continuem a inspirar-nos no seu melhor. 

(Passo a ler a lista)

Agradecemos a confiança que depositaram em nós para juntos levarmos avante o que temos vindo a construir em comum, a nossa AEMO. Estamos cientes das mazelas que descaracterizaram a nossa agremiação, mas também sabemos que “não há mal que perdure”. Quer dizer que estamos cientes dos enormes desafios, ainda que tenhamos a certeza da nobreza da nossa missão: trazer de volta a aura da AEMO. Isso significa que temos que fazer jus ao ethos, ao espírito e à letra que nos caracterizam como grupo.

Foi por isso que aceitamos o convite formulado por membros representativos da AEMO, dos mais jovens aos fundadores, para juntos mudarmos o status quo na nossa agremiação. 

Anuímos ao desafio e desde logo elegemos 4 objectivos estratégicos a perseguir, mormente:

  • Coesão de grupo; 
  • Sustentabilidade inter-geracional; 
  • Sustentabilidade económico-financeira.

(Estes são factores extra literários)

  1. O fenómeno literário ele próprio (o escritor, o livro e os vários públicos fruidores).
  • Coesão de grupo

Vale lembrar as conversas tidas com o nosso Primeiro SG, Rui Nogar, que insistia: 

“Sejam o que quiserem ser, mas respeitem as idiossincrasias uns dos outros.” 

Nada mais certo, grande Rui, assertivo como nunca!

Sim, é esse o ADN que deve caracterizar a AEMO, esta instituição de pensamento, de debate, de artes e cultura.

Esta é uma instituição que sempre se assumiu activa no exercício da cidadania, no sentido de pensar e agir juntos, e individualmente, para o bem da confraria, contribuindo assim, modestamente, para que Moçambique mantenha vivo o sonho, a esperança, a utopia, a poeisis, o mirandum, o onírico das nossas gentes e da nossa terra. Assim revisitamos e reconfiguramos a nossa memória colectiva descrita no labor da escrita e da leitura. É isso que é esperado de nós. É esse o desafio, o empreendimento com que todos juntos estamos confrontados.

No decorrer da nossa campanha dissemos que queremos devolver a aura à AEMO. Portanto, reconhecemos que estamos perante uma aporia, uma realidade disfuncional. Por um lado, sabemos que algo vai mal na nossa Instituição literária, o que põe em causa a nossa identidade de grupo e o fenómeno literário em si. Portanto, a imagem da AEMO foi chamuscada.

Por outro lado, aceitamos o desafio de refundar a AEMO, revisitando os seus alicerces, seus objectivos e seus valores. Esta é a tarefa que temos em mãos. Todos nós. Repito, todos nós, juntos!

Reafirmamos que assumimos o compromisso de que a AEMO deve resgatar o prestígio que a define como uma agremiação, não unanimista, mas, sobretudo, de fraternidade. De civilidade. De interpelação. De valores nobres, tais sejam, a convivência sã, o respeito mútuo e o espírito gregário que nos caracteriza. 

Definimo-nos como confraria. A confraria implica comunhão de valores, partilha de significados, que ocorrem num campo comum de fraternidade e de reconhecimento mútuo.

A nossa associação é uma família de escritores, e como tal, devemos trabalhar juntos para fortalecer nossos laços e promover a literatura moçambicana. Resulta que a coesão de grupo é fundamental para o sucesso da nossa associação. Vamos trabalhar juntos para superar nossos desafios e alcançar os nossos objectivos.

É hora de reunir os nossos membros e fortalecer a nossa comunidade literária.

Vamos pugnar por trazer de volta aqueles, que por um motivo ou outro se afastaram da AEMO. 

Vamos promover um ambiente acolhedor para todos.

Acreditamos que a diversidade de vozes e perspectivas é fundamental para o enriquecimento da nossa literatura. 

Vamos trabalhar para incluir todos os membros e promover a colaboração.

Actualmente somos apenas 187 membros efectivos. Quantos mais formos, mais estaremos em condições de alargar o debate, melhorar os termos e a qualidade desse mesmo debate.

 Por isso vamos encorajar a admissão de novos membros de reconhecido mérito oriundos dos diferentes campos das artes, da cultura e da academia, sempre tendo em conta os referenciais do nosso passado, do nosso presente e do nosso devir. Afinal, existimos desde 1982. 

Dito de outro modo, temos um passado de glória atribulada, e reconhecemos este atribulado presente que vivenciamos. Contudo, Acalenta-nos a ideia desse futuro risonho que os sujeitos poéticos e personagens que povoam os nossos livros nos segredam. Esta é a nossa utopia, ainda que sonâmbula. É por isso que estamos aqui.

Estes são, quanto a nós, desafios extra literários estruturantes para os quais todos juntos somos intimados a dar o nosso contributo já que encimam toda a nossa acção, toda a nossa utopia. Sem coesão não há fruição.

  • Sustentabilidade Inter-geracional

Outra verdade a la palisse: o velho nasce do novo e vice-versa. Claro que sim!

É tendo essa verdade como premissa que vamos encorajar e promover a participação e a iniciativa criadora dos mais novos. 

Vamos, por isso, promover a partilha de experiências entre os mais novos e os mais velhos. 

Vamos propiciar momentos nos quais mais novos e mais velhos troquem experiências, vivências – alargando, assim, o nosso imaginário colectivo.

Vamos retomar a colecção Início, especificamente para os jovens.

Vamos retomar o nosso órgão oficial, Quenguelequezé, onde os jovens participarão numa rubrica criada para o efeito. 

Vamos criar uma comissão de leitura formada por individualidades de mérito e credenciais para aferir da literariedade dos textos; (regulação estética, cânone, entre outros elementos que apimentam a nossa criação).

Vamos retomar o Gabinete técnico (sugestões gráficas).

Vamos promover oficinas de escrita criativa. 

  • Sustentabilidade económico-financeira

Temos que ter Parceiros de diversa índole. Nacionais e internacionais. 

Temos que tirar mais proveito da lei do mecenato. 

É imprescindível a Parceria com o Ministério da Educação e Cultura.

É obrigatória a Parceria com o Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação. Que o Ministério dos Negócios Estrangeiros nos facilite contactos com as Embaixadas acreditadas pelo mundo. 

Parceria com a LAM. O nosso livro deve saber viajar com os pés da nossa moçambicanidade. 

Parceria com Ministérios e outras instituições. Podemos levar o poema para os Ministérios. Podemos levar o teatro para a Assembleia. Podemos levar o texto literário para os banquetes da Presidência. 

Parceria com as escolas, Universidades…

Parceria com agentes económicos e outras instituições.

Parcerias com Editoras.

Parceria com Fundo Bibliográfico.

Outras parcerias que ao longo do nosso mandato tornar-se-ão possíveis e possíveis.   

  • Fenómeno literário

Quanto ao fenómeno literário em si, vamos ter que prestar mais atenção a tríade escritor, livro e leitor. Para nós isso significa: 

– Promover a publicação e a distribuição dos livros moçambicanos, tanto dentro quanto fora do país;

– Prestar mais atenção ao livro escrito nas línguas locais;

– Incentivar traduções nas diferentes línguas;

– Trabalhar na criação e educação de públicos.

Teremos que promover contactos com escolas primárias, secundárias, Universidades. 

Há que valorizarmos a Biblioteca da AEMO, e desde já aceitamos a doação de livros de quem tem mais em sua casa. Há que reconstituir esse espaço que já foi muito importante para todos nós, incluindo leitores de fora. 

Fundo Bibliográfico (parceria)

Temos em manga propostas de criação de programas de literatura junto as TVs, e já temos experiências dos programas que já foram concebidos pelos escritores Sara Jona e Jorge Oliveira. 

Em jeito de fecho

Vamos operacionalizar o nosso manifesto, traçando indicadores, dimensões e acções concretas.

Vamos continuar a ser o xiphefo, a charrua, a ECO, o oásis do nosso sonho, num processo dialógico.

Acabou a campanha, houve Assembleia Geral e com ela acabaram as listas A, B e C. A única lista agora é a dos nossos mortos, dos nossos membros efectivos, membros de honra e membros beneméritos. É essa a coligação que fará da AEMO uma instituição prestigiada, pertinente, que contribua, modestamente, para o crescimento de Moçambique, na senda do que nos diz o nosso hino: pedra a pedra construindo novo dia!

Pela confiança e carinho, muito obrigado a todos!

Vou chamar um a um os membros do secretariado que se apresentem e digam um parágrafo sobre o seu pelouro. 

Obrigado! Obrigado mesmo caros confrades pelos sonhos que semeiam em mim. 

Maputo, aos 28 de Agosto de 2025

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