O Presidente da Frelimo diz que os partidos libertadores da África Austral enfrentam vários desafios por lidarem com forças imperialistas e neocolonialistas que querem derrubar e tirar do poder esses partidos. Ainda assim, Daniel Chapo diz que é possível continuar a ter credibilidade perante os seus apoiantes
Cimeira dos líderes dos partidos e movimentos de libertação de África Austral, em Gauteng, África do Sul, com o lema “Defender as conquistas da libertação, promover desenvolvimento socioeconômico integrado e fortalecer a solidariedade para uma África melhor”.
Daniel Chapo foi um dos participantes no encontro que contou com a participação dos líderes dos países da região, com destaque para os presidentes da África do Sul, Zimbabwe e Tanzânia.
Uma cimeira que para Daniel Chapo realiza-se num contexto particularmente marcante da história compartilhada dos povos de África Austral, sendo por isso, um tributo aos líderes fundadores das lutas que travaram e que tornaram a África Austral mais unida e solidária.
“Um momento em que celebramos décadas de independências dos nossos países, conquistadas com sacrifícios e sangue dos melhores filhos que ousaram lutar contra a opressão, a dominação e a exploração do homem pelo homem, a que os nossos povos estiveram sujeitos durante séculos. Lutas essas que custaram altos sacrifícios dos melhores filhos nacionalistas que fundaram e lideraram os movimentos de libertação da região e cujo legado hoje celebramos”, destacou Chapo.
O presidente do partido diz que o momento actual é desafiador para os partidos libertadores, que enfrentam forças imperialistas e neocolonialistas que investem numa estratégia total para tirar do poder e acabar com os partidos libertadores.
Para Chapo “não se trata de uma estratégia nova”, mas sim de uma “continuidade da estratégia total concebida e implantada pelo Apartheid contra os países da linha da frente na década de 1980. Uma estratégia de desestabilização que visava travar nossa solidariedade para com as lutas pelas independências do Zimbabwe, da Namíbia e da África do Sul”.
Chapo destaca que na actual fase, as forças imperialistas e neocolonialistas continuam a usar a mesma estratégia, ainda que com métodos diferentes, “em especial através da subversão do verdadeiro sentido de democracia multipartidária”.
Para Chapo, esses grupos recorrem às redes sociais, à inteligência artificial, e outras plataformas para difundir a desinformação através de discursos de ódio e desqualificação das realizações dos governos e das conquistas dos povos.
“Está cada vez mais claro que o seu principal objectivo é usar as eleições para forçar o tão propalado regime ‘change’, mesmo contra a vontade popular. A sua tática consiste em tentar separar o povo dos nossos partidos, para fragilizar os nossos partidos e colocar no poder governos fantoches e empobrecer continuamente os nossos povos. Assim, eles acreditam que poderão facilmente delapidar os nossos recursos estratégicos, como os minerais críticos, a terra, os hidrocarbonetos, os recursos minerais e florestais, sem benefícios para os nossos estados e povos”, disse.
Outro dos desafios apontados por Daniel Chapo são as lutas internas nos próprios partidos, caracterizadas por conflitos entre quadros de direcção dos partidos. “Por um lado, estes conflitos acabam criando divisões, desunião e graves problemas de disciplina interna nos nossos partidos”, destaca.
Daniel Chapo diz que os membros dos partidos libertadores são forçados a renunciar para outros partidos e até a formar os seus próprios partidos. Aqueles que permanecem no partido, segundo Chapo, tomam posicionamentos críticos fora dos órgãos, por vezes quebrando o sigilo de questões estratégicas dos partidos.
“Na verdade, a questão interna tem fragilizado o desempenho dos nossos partidos, em particular nos momentos eleitorais, uma vez que, perante os nossos conflitos internos, projecta-se para a sociedade uma imagem negativa do partido e dos seus dirigentes, afugentando membros simpatizantes e potenciais eleitores”, disse Chapo acrescentando que por outro lado, “a questão interna desvia a atenção do partido e do nosso governo das questões centrais de desenvolvimento dos nossos países e dos nossos povos para a melhoria contínua das condições de vida dos nossos povos”.
Ainda assim, Daniel Chapo diz que é possível ultrapassar as diferenças internas e continuar a ter credibilidade nos seus apoiantes, até porque “estamos convencidos de que, apesar das manobras das forças imperialistas e neocolonialistas, o nosso povo ainda acredita na justeza da nossa causa, que nos levou a lutar contra o colonialismo e contra o apartheid”.
Chapo diz acreditar que o povo compreende as manobras do inimigo “e tem certeza de que somente nós, os partidos libertadores, somos verdadeiros defensores das mais legítimas aspirações do povo, pelas quais lutamos contra os regimes coloniais e contra o apartheid”.
O Chapo disse ainda que é fundamental haver reflexão sobre as vicissitudes do passado, adaptar-se à nova era digital e garantir que os partidos libertadores continuem a ser a referência e a esperança concreta dos povos.
“A promoção de um ambiente de estabilidade e harmonia na nossa região exige a aplicação plena dos marcos legais em vigor. Exige também uma acção decidida no combate aos males que ameaçam a unidade interna dos nossos partidos e minam a confiança do nosso povo”, frisou o chefe do Estado.
Alguns dos males que precisam ser combatidos dentro dos partidos libertadores, para Daniel Chapo, é a corrupção, o nepotismo, o clientelismo e outras manifestações da má governação. “Como partidos libertadores devemos nos orgulhar das nossas conquistas até aqui alcançadas e ao mesmo tempo encontrar formas de aproveitar plenamente o nosso potencial regional”, concluiu.
Chapo expressou a total disponibilidade da Frelimo em materializar os compromissos da Declaração de Joanesburgo na convicção de que a cimeira seja um marco histórico na consolidação das relações de cooperação e amizade.