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PR diz que bancos provocam escassez de divisas para criar oportunidade de negócio

O Presidente da República, Daniel Chapo, afirma que não há falta de divisas em Moçambique. Segundo Chapo, a escassez é criada pelos bancos, para a transformarem em oportunidade de negócio. O Chefe de Estado falava na noite desta segunda-feira, num encontro com empresários na cidade da Beira.

No prosseguimento da sua visita à província de Sofala, o Presidente da República manteve encontro com empresários locais na cidade da Beira, que apresentaram as suas preocupações.

Foi da voz do presidente da Associação Comercial da Beira, Félix Machado, que ficaram três pontos de preocupação dos empresários de Sofala. Aliás, Machado começou por pedir condições claras para trabalhar, competir e gerar oportunidades reais para o povo. “Queremos ser parceiros do Estado, e não dependentes dele. Queremos contribuir para trazer soluções, e não para apontar problemas”, disse.

E apresentou as preocupações começando pela questão de divisas, que considera serem escassas quando os empresários procuram.

“Excelência, nenhuma economia cresce sem produção e nenhuma produção avança sem acesso previsível das divisas. Mas hoje, em Moçambique, vivemos uma contradição preocupante. Empresas que geram divisas para o país através de exportação, prestação de serviços internacionais ou investimento de direito enfrentam enormes dificuldades para aceder a essas mesmas divisas quando precisam de importar matéria-prima, tecnologia ou insumos essenciais”, disse, realçando que sem divisas não há produção e sem produção não há economia.

Para Machado “até mesmo transacções locais entre bancos da mesma praça não são processadas em tempo real, levam 24 a 48 horas”, e isso cria outros constrangimentos, dentre eles “trava negócios, cria ineficiências, penaliza quem cumpre, quem investe e quem tenta formalizar-se”.

Mas há também a questão da corrupção. Félix Machado diz que a corrupção funciona como um imposto invisível, “que não aparece nas contas públicas, mas pesa fortemente sobre quem empreende com ética, limita o investimento, mata o mérito, afasta a confiança do empresário sério, tanto nacional assim como estrangeiro”.

Outra preocupação é o investimento estrangeiro no país. Os empresários de Sofala dizem que o capital estrangeiro é necessário e é bem-vindo, sobretudo quando traz consigo conhecimento, tecnologia, emprego e produção. “Mas esse capital deve vir para acrescentar valor à economia nacional e não para ocupar espaços que pertencem a pequenos empreendedores moçambicanos”.

Os empresários dizem que esta prática desincentiva o empreendedorismo nacional e acentua as desigualdades que são vividas no dia-a-dia. Por isso “propomos que Moçambique estabeleça critérios claros para o investimento estrangeiro”, segundo Félix Machado.

NÃO HÁ FALTA DE DIVISAS, DIZ DANIEL CHAPO

Daniel Chapo ouviu atentamente as preocupações e respondeu a todas. Sobre a falta de divisas, Chapo diz tratar-se de manobras dos bancos para aumentarem seus negócios.

“É que realmente quando há escassez da moeda estrangeira começa-se a transformar essa escassez em oportunidade de negócio. Isto acontece até nos bancos comerciais, vocês que fazem negócio todos os dias. Não há uma verdadeira escassez, é uma escassez criada para depois criar essa oportunidade de negócio”, disse Daniel Chapo.

Para justificar esta posição, Chapo diz que os próprios agentes do banco não têm problemas de divisas para suas preocupações. “Por exemplo, nunca faltaram dólares para se entregarem dividendos entre eles. Nunca faltou dólar para pagar salário a eles. Alguma vez ouviu que faltou? Só vai faltar para Félix Machado quando quiser importar algum bem. Então, é realmente uma situação que temos de continuar a trabalhar para ultrapassar”, assegurou.

Relativamente à corrupção, o Presidente da República diz ser um mal, mas disse ter ficado satisfeito com as propostas apresentadas de criação de canais de denúncias.

“Mas a única coisa que eu queria dizer é que aqui o combate tem que ser de todos nós. Portanto, tanto o corruptor como o corrupto devem ser combatidos. Porque o problema não está só no lado do corrupto, está também no lado do corruptor”, disse destacando a importância de se ter em conta este aspecto.

Sobre a proposta apresentada de canais de denúncia, Chapo diz que foi o motivo da criação do Ministério de Comunicações e Transformação Digital. “A digitalização e simplificação dos procedimentos pode diminuir o nível em que nos encontramos, em termos de corrupção”, explicou Chapo.

Quanto à questão do investimento estrangeiro, Daniel Chapo diz que o Governo já trabalha para acomodar os interesses dos empresários moçambicanos. Deu como exemplo os negócios que são feitos dentro de uma província, onde as compras começam da base até chegarem ao empresário, quer seja moçambicano ou estrangeiro.

“Fizemos o lançamento da comercialização agrícola em Manica. E deixamos de forma clara e inequívoca que é preciso proteger o investidor nacional, principalmente o pequeno”, disse.

Chapo diz que, através destas práticas, o dinheiro distribui-se para muitos moçambicanos. “Antes do produto chegar aqui na capital da província há uma cadeia aqui de distribuição de dinheiro, e isto dinamiza a economia. Então, achamos que isto é legítimo e já começamos a fazer esse trabalho, e é normal, porque em países aqui da região fazem isso”, disse.

Mas também, de acordo com Daniel Chapo, “é preciso rever o valor do investimento estrangeiro”, porém esclarece que para isso tem de haver um debate muito sério, “porque não basta só elevar. Nós não somos uma ilha”, apela.

Para além dos empresários, estiveram presentes no encontro o governador e a secretária de Estado da província.

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