Sonhei… Sonhei que, no meio do impasse político, os líderes do país decidiram declarar um Dia Nacional de Oração e Perdão. Não era feriado. Era um chamamento de alma. Nesse dia, algo profundo e comovente aconteceu.
Sonhei que todos os que tinham cometido erros lesivos à pátria, intencionais ou não – governantes, dirigentes, empresários, políticos, combatentes, manifestantes, cidadãos comuns – pediam desculpas. Não por pressão política, não por cálculo estratégico, mas por arrependimento genuíno. Os líderes clamavam a Deus e ao povo.
A Renamo pedia desculpas pelos horrores da guerra. Os que dispararam contra cidadãos indefesos durante as manifestações violentas pós-eleições de Outubro de 2024 pediam perdão pelas vidas interrompidas. Os que desviaram recursos públicos enquanto gestores curvavam-se em vergonha e aplicavam o dinheiro em território nacional em programas definidos pelo Governo, gerando emprego e renda para milhares de famílias. Os que lideraram manifestações violentas que geraram caos, paralisação da economia e luto em centenas de famílias penitenciaram-se diante de Deus e do povo pela responsabilidade moral de tudo quanto aconteceu. O povo pedia desculpas a Deus por ter abandonado os caminhos da justiça, do amor ao próximo, da solidariedade.
Vi homens e mulheres abraçarem-se em lágrimas. Pais a pedir perdão aos filhos. Filhos a pedir perdão aos pais. Vi o país a lavar a alma.
No fim, o Presidente da República, ladeado pelos líderes dos principais partidos, pelo segundo candidato mais votado nas eleições presidenciais, pelas lideranças religiosas, das academias e da sociedade civil, levantava a mão direita e proclamava:
“Hoje declaramos o início de uma nova era. Uma era de reconciliação, de responsabilidade, de reconstrução. Uma era para Renovar Moçambique, resgatando a liberdade, justiça e prosperidade para todos os moçambicanos.”
O povo respondia com um só clamor: “Estamos juntos!” E todos se engajavam e trabalhavam, nas cidades e vilas, nos bairros, nos distritos, no campo, nas escolas, nos hospitais. Reunificados por dentro. Regenerados por dentro.
Foi então que despertei.
E, ao despertar, vi outro cenário: um grupo a fazer chacota do sonho, a desconstruir cada palavra, a dizer que perdão é fraqueza, que reconciliação é ilusão, que o poder vale mais do que a verdade. E caí em mim: estava em Moçambique.
Peguei na Bíblia. Clamei a Deus. E Ele respondeu-me com firmeza e ternura:
“Enviarei uma praga para limpar os arrogantes, corruptos, escarnecedores e antipatriotas. Mas tu, não pares de orar! Não pares de trabalhar! Não faças nada para a tua exaltação. Tudo quanto faças que seja para minha honra e glória. Onde fores, leva a minha palavra. Eu prometi bênçãos e maravilhas a todas as nações da terra. A tua pátria, eu abençoei como nenhuma outra desta terra. Olhai e vede como sois abençoados.”
Desde então, sigo orando. E sigo lutando por Moçambique.
Não escrevo estas linhas para comover. Escrevo para desafiar. Que país queremos construir? Um país onde cada grupo se fecha na sua razão, na sua dor, na sua verdade isolada, um país em que os que têm medo do debate e de uma sociedade aberta assassinam o carácter de quem analisa objectivamente os fenómenos tendo presente que há outros olhares sobre o mesmo que devem ser respeitados, ou um país onde finalmente ousamos dizer uns aos outros: “Errei. Perdoa-me. Vamos recomeçar?”
O perdão não apaga o passado, mas pode limpar o terreno onde se constrói o futuro.
Este sonho não é ingenuidade, é visão. E, se há coisa de que Moçambique precisa neste momento — 50 anos depois da independência — é de uma visão corajosa, disruptiva, generosa, transformadora. É desta vontade de renovar Moçambique, esta vontade de fazer diferente para alcançar resultados diferentes, uma vontade que precisa de engajamento e suporte de todos os moçambicanos. As reformas que geram renovação só acontecem com engajamento e suporte popular.
Sonhei com um país que não tem vergonha de pedir desculpas. Sonhei com um país que decide reconciliar-se consigo mesmo. Sonhei com um país onde a humildade guia os líderes e a verdade liberta os oprimidos.
Pudera esse sonho tornar-se real. Pudera…