O projecto “Música para Todos”, apoiado pelo programa PROCULTURA – financiado pela União Europeia e cofinanciado pelo Camões, I.P. teve impacto relevante em Moçambique e Angola, promovendo a empregabilidade de professores de música, formação artística de jovens, bolsas de estudo internacionais, inclusão cultural e o fortalecimento das economias criativas locais.
No contexto mais amplo do PROCULTURA PALOP-TL, que tem impulsionado o sector cultural nos países lusófonos de África e em Timor-Leste, destaca-se também o apoio das Embaixadas da Irlanda e da Suíça (através do programa SDC), que cofinanciaram actividades voltadas para soluções culturais sustentáveis. Estas acções fizeram face a desafios humanitários com abordagens criativas e ecológicas e abriram caminhos para a criação de empregos e sustentabilidade futura no sector artístico.
O projecto foi concebido por um consórcio de cinco instituições de Moçambique, Angola e Portugal: a Escola Artística do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian de Aveiro, a Fundação MUSIARTE – Conservatório de Música e Arte Dramática (Maputo), a Fundação Hakuna Matata (Pemba), a Direcção Provincial de Cultura e Turismo de Cabo Delgado (Pemba) e a Casa da Música de Benguela.
Em 2019, teve início o exigente processo de concepção e definição da visão do projecto, marcado por um planeamento cuidadoso e uma intensa colaboração entre os parceiros. Esse trabalho permitiu estabelecer objectivos claros, responsabilidades e benefícios esperados, além de implementar mecanismos de gestão eficazes e consolidar uma visão estratégica de longo prazo. A coordenação, atribuída à Escola Artística do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian de Aveiro, permitiu que as instituições do consórcio de Moçambique e Angola beneficiassem de experiências consolidadas no ensino artístico, contribuindo para objectivos comuns: desenvolver a educação musical, profissionalizar o sector e criar oportunidades de emprego.
Com o encerramento desta fase, partilhamos com o grande público os resultados alcançados, num exercício de transparência e balanço na visão da MUSIARTE, sem imputar responsabilidades a parceiros ou financiadores. Assim, este balanço insere informações sobre a (i) Monotorização e avaliação; (ii) Síntese dos principais resultados; (iii) Sustentabilidade; (iv) Desafios e (v) Conclusão.
- Monitoria e Avaliação: Estudos de Base e de Impacto
Em linha com boas práticas, o projecto contou com um Estudo de Linha de Base (2022), focado na empregabilidade dos professores de música em Moçambique e Angola, e um Estudo de Impacto Final (2024-2025), com amostras em Maputo e Cabo Delgado. Estes estudos, incluindo o relatório do caso de Angola, estão disponíveis em www.conservatorio.org.mz/publicações.
- Síntese dos Principais Resultados (2021-2025)
- O projeto alcançou 90% das metas previstas para o período 2021–2025;
- Empregabilidade: 42 postos de trabalho foram criados (acima dos 40 previstos);
- Formação: 10 bolsas de estudo para Portugal e Itália; 11 professores participaram em job-shadowing; dois cursos de curta duração em pedagogia e didática de música realizados na MUSIARTE (Maputo), com participação de professores de várias instituições privadas e públicas.
- Infra-estruturas: 4 salas de aula construídas em Pemba; 1 atelier de construção de instrumentos musicais totalmente equipado no Centro Yopipila (Pemba) construído com materiais ecológicos e recicláveis; 1 palco móvel solar concebido e construído para actividades em zonas remotas.
- Currículo: Desenvolvido 1 currículo de iniciação musical e 1 currículo metodológico avançado em parceria com os conservatórios de Calouste Gulbenkian de Aveiro (Portugal) e Agostino Steffani de Castelfranco, Veneto (Itália).
- Outreach e Acções de Advocacia: 1300 crianças beneficiaram de aulas de iniciação musical; destaque em advocacia junto das autoridade para a necessidade de reintegração da disciplina de música no ensino público. Diversos workshops de formação em instituições de educação pública e Ministério da Terra e Ambiente na sensibilização de reciclagens criativas e mudanças climáticas.
- Gestão Institucional: Embora tenham sido alcançados avanços, persistem desafios em recursos humanos e autonomia financeira que permitam melhor gestão de recursos humanos e retenção dos mesmos para algumas entidades beneficiárias.
iii. Sustentabilidade
A sustentabilidade foi considerada desde o início do desenho do projecto uma prioridade estratégica que incluiu: a) Formação de quadros locais; b) Criação de estruturas permanentes (salas e atelier); c) Desenvolvimento de equipamentos próprios (palco móvel solar); d) Parcerias com governos, escolas e conservatórios internacionais.
iv. Desafios e Caminhos Futuros
A continuidade requer o compromisso dos parceiros locais e o reforço de políticas públicas.
Recomenda-se:
- Fortalecer redes culturais;
- Firmar parcerias com instituições locais, regionais e internacionais;
- Investir em formação em captação de recursos;
- Atrair o apoio de empresas e instituições locais. Nem sempre as ajudas chegam por meio de financiamento directo. É preciso criar mecanismos inovadores que reforcem a sustentabilidade do sector cultural e das indústrias criativas.
v. Conclusão
O projeto “Música para Todos” evidenciou que, para além do financiamento inicial, é fundamental investir em estruturas duradouras, no fortalecimento dos recursos humanos locais e na consolidação da capacidade institucional. A verdadeira sustentabilidade marca o
início de um novo ciclo de autonomia e transformação no sector artístico e educativo dos PALOP. Para que essa sustentabilidade seja efectiva e duradoura, é indispensável promover o conhecimento, a formação e a inclusão activa dos cidadãos e talentos nas áreas artísticas.