A Organização dos Trabalhadores Moçambicanos Central Sindical diz que o último ajuste salarial continua a colocar o trabalhador moçambicano, sobretudo as classes mais baixas, numa situação de vulnerabilidade. Alexandre Munguambe condena ainda a decisão da CTA de adiar o debate sobre o aumento salarial para Agosto.
Mais uma vez o mundo parou para celebrar o dia do Trabalhador e em Moçambique as cerimónias centrais aconteceram em Maputo, na praça dos herois Moçambicanos.
É um novo ano, mas com velhos problemas, multiplicados pelas recentes manifestações pós-eleitorais, conforme defendeu Alexandre Munguambe, secretário-geral da OTM-central sindical, após a deposição da coroa de flores.
“milhares de trabalhadores viram os seus contratos rescindidos, deixando suas famílias vulneráveis e na incerteza sobre o futuro. Devido aos desafios colossais que o país enfrenta actualmente, infelizmente estamos a celebrar o primeiro de Maio perante o crônico problema do alto custo de vida, baixo poder de compra da maioria da população, deficiências no transporte de pessoas e bens nas zonas urbanas e peri-urbanas, vias de acesso insuficientes e precárias em quase todo o país, entre outros problemas que afligem a sociedade moçambicana, custo de vida em particular, constitui hoje um autêntico sufoco para a maioria da população Moçambicana”, afirmou o SG, num tom de quem quisesse dizer muito mais do que disse.
Munguambe lamentou o facto de a retirada do IVA nos principais produtos alimentares de primeira necessidade ainda não se fazer sentir na prática, pois, segundo entende, “o que caracteriza o mercado hoje são preços exorbitantes e proibitivos para o bolso da maioria dos moçambicanos e é urgente corrigir ou fazer valer a decisão tomada”.
Na sua intervenção por ocasião da data, o gestor denunciou ainda o facto de existirem empregadores que pautam pela contratação de contratos precários, como forma de fugir às suas obrigações. Munguambe disse mais: “Continuamos a ver o governo inflexível no reconhecimento jurídico e na revisão da Lei 18/2014 de 27 de Agosto, que permita o exercício livre da actividade sindical na Função Pública. Esta inércia, se continuar por muito mais tempo, vai afectar o sector público e provocar problemas no país, certamente que vai concorrer para a Iista negra na arena internacional com as consequências daí decorrentes”.
A falta de mecanismos de revisão anual das pensões de reforma dos trabalhadores do sector privado, pago pelo INSS é outra preocupação apresentada.
A revisão do salário mínimo, cujo debate foi adiado para Agosto, não é bem vista pela central sindical.
“Nós fomos forçados a aceitar isso, porque alegam que as empresas foram sabotadas e que eles tiveram que despedir muitos trabalhadores, mas nós continuamos a dizer que não estamos satisfeitos com esta posição, porque o custo de vida é bastante elevado. E se fosse por vontade deles, era que este ano não se mexessem os salários, nós batemos com o pé e dissemos que não, é preciso que se mexa salário por um lado, por outro lado é preciso que trabalhemos para reenquadrar os trabalhadores que perderam os seus postos de trabalho, é preciso também que trabalhemos no sentido de criar novos postos de trabalho”, revelou Munguambe.
Marcha dos trabalhadores, entre cartazes e cânticos
Apesar de muitas reivindicações e descontentamento, centenas de trabalhadores desfilaram pelas avenidas de Maputo, cantando e portando dísticos, por ocasião do primeiro de Maio. Melhores salários, contratos de trabalho dignos e respeito pelos direitos trabalhistas são algumas das exigências da classe.
Entre cânticos, apitos e dísticos com mensagens diversas, funcionários de dezenas de empresas públicas e privadas inundaram parte das avenidas 25 de Setembro, Guerra Popular, Karl Marx e Vladimir Lenine, para celebrar o primeiro de Maio.
É o habitual desfiles dos trabalhadores, num dia em que as mensagens variam, entre doces e amargas e destaca-se o posicionamento de Jaime Kibe, trabalhador da Teixeira Duarte.
“A nossa preocupação é que a divisão da riqueza deve ser transparente. Deve ser transparente, o governo deve ser transparente de tudo o que está a fazer. Envolver mais os trabalhadores. É vergonhoso ver os trabalhadores nessas condições. Vai estralar essas condições. Os trabalhadores estão mal. Muito mal. E ninguém vê a vida dos trabalhadores. É só ver mesmo aqui, pode estar o ministro, pode estar qualquer uma pessoa do governo. Não é para representar o governo frente aos trabalhadores. O trabalhador não é inimigo”, disse.
A cada metro uma preocupação diferente, mas há outras que são comuns, salários melhores.
E é também preocupação dos trabalhadores a actual situação financeira das Linhas Aéreas de Moçambique, por isso exigem combate cerrado contra os corruptos.
“A empresa não está boa. Neste momento estamos atravessando uma fase não muito boa, tanto como os trabalhadores, assim como a empresa. E não estamos a ter resposta do que está a acontecer. Estamos sem equipamento. Sabemos qual é o sofrimento dos nossos irmãos, porque pretendem viajar de uma província para outra, tem assunto para tratar e não consegue chegar lá. E nós sentimos isso como trabalhadores, porque o nosso foco é sair todos os dias para trabalhar, mas sem equipamento não temos como trabalhar. Ainda não temos uma resposta exata do governo, só sabemos que estão a trabalhar no sentido de fazer a reposição dos equipamentos e estamos à espera disto”, desabafou Acássio Massingue.
As empresas de comunicação social também desfilaram e apresentaram o seu descontentamento.
Mas o dia não foi só de reclamações. Há pessoas que lá foram para reafirmar o seu amor pela profissão, foi o caso das colaboradoras do Hospital Central de Maputo.
“O próprio salário não ajuda, mas nós não vamos deixar de cuidar dos doentes. Estamos esperando para eles. É mais um dia para mostrarmos a nossa gratidão pela empresa, pela população e pelos nossos próprios pacientes. Estamos aqui por eles”.
As crianças, no seu melhor, também estiveram presentes para agradecer aos trabalhadores pelo esforço e dedicação na busca pelo seu bem estar e das famílias moçambicanas.