O município de Maputo não faz limpeza em algumas valas de drenagem de águas pluviais há quase um ano. A situação está a deixar agastados os munícipes, que relatam cenários dramáticos em dias de chuva. A edilidade afirma que enfrenta dificuldades de efectuar as limpezas de uma vez só, devido ao baixo número de funcionários.
As valas de drenagem de águas pluviais na Cidade de Maputo estão cheias de capim, que condiciona o curso normal de águas turvas que saem dos bairros da capital do país.
O cenário mais gritante regista-se ao longo da avenida Acordos de Lusaka, a mesma que dá acesso à Praça dos Heróis Moçambicanos. Nas referidas valas, além do capim, há lixo no meio das valas, segundo relato de um cidadão que preferiu o anonimato.
“Esse lixo está cheio há bastante tempo, desde quando estavam cheios aqueles contentores de lixo. Então, quando choveu, todo o lixo entrou na vala e ficou lá. Significa que aqui embaixo já está entupido”, contou um residente do bairro de Maxaquene.
A situação provoca uma vegetação que ganha espaço nos canais concebidos para direccionar as águas residuais, um processo que decorre com grandes dificuldades há quase seis meses, de acordo com os moradores.
De acordo com Aparício Mugabe, também residente no bairro Maxaquene, desde o ano passado não se faz limpeza nas valas de drenagem. “Ainda não fizemos limpeza. Raramente fazem limpeza aqui nesta vala. Esta vala aqui é uma vala muito importante, porque recebe todas as águas que vêm de lá de cima (Jardim e Machava)”, disse Mugabe.
A não realização de limpezas nas valas causa vários impactos sanitários, sendo que, em dias de chuva, a situação piora, pois, segundo os residentes, as águas estagnadas transbordam e regressam às residências.
“Quando chove, a água acaba por sair, entra nos bairros. Então, passamos mal. Aqui, no bairro, estamos cheios de crianças, então depois passamos mal aqui. Principalmente nós, aqui mesmo, que estamos perto da vala. Porque essa vala recebe todo o lixo daqui do bairro”, conta Aparício Mugabe.
A vala de drenagem na Avenida Milagre Mabote, atrás da Shoprite de Maputo também está cheia de capim e em péssimo estado. No local, são tratados os canais de escoamento das águas na capital.
Mas há mais. O capim também abraça a vala de drenagem na Avenida de Angola, um dos corredores para a entrada no centro da cidade. Na avenida de Angola, as águas que saem das comunidades são travadas pelo capim, mas também pelos resíduos sólidos que são jogados nas valas de drenagem. E, com a falta de limpeza, a situação piora em dias de chuva.
Castigo Paiva trabalha nas proximidades há mais de cinco anos e já vivenciou um incidente associado ao transbordo da vala. “Em dias de chuva é complicado. Pior, nós que trabalhamos aqui, isso fica cheio de água. Além de água, há um dia que estava cheio e acabou por entrar um carro lá, dentro daquelas valas”, contou Castigo Paiva.
O munícipe diz ainda que não é frequente fazer-se limpeza naquela vala, até porque circula por aquela zona há muitos anos. “Só vieram aqui um dia, que colocaram aquelas tampas e depois não voltaram a fazer as limpezas”, revelou Paiva.
No interior dos bairros, as valetas que conduzem as águas residuais ficam entupidas, o que provoca estagnação das águas e imundície.
Edilidade promete trabalho
Confrontada com a situação, a empresa municipal de saneamento e drenagem não vê problemas. Borges da Silva, PCA da Empresa Municipal de Saneamento e Drenagem, diz que é uma situação normal, tendo em conta a época chuvosa em que o país se encontra.
“É normal. É preciso lembrar que, no fim do ano passado, lançámos a campanha de limpeza das valas, justamente como acção de prevenção da época chuvosa. Se forem verificar, nesta época chuvosa, em muitas artérias da cidade, não tivemos grandes problemas de inundação, tirando a chuva do dia 5 ou 6, ao nível da baixa de Maputo. E mesmo na baixa de Maputo, depois dessas chuvas, intensificámos as acções de limpeza das valas, das valetas”, destacou Borges da Silva.
A edilidade afirma que enfrenta dificuldades de efectuar as limpezas de uma vez só, devido ao baixo número de funcionários, e é por isso que vai avançar com a terceirização da actividade.
“No contexto em que estamos a trabalhar, de brigadas internas de manutenção, o número de homens, o número de brigadas que nós temos para fazer esses trabalhos ainda é reduzido, na medida em que, num contexto de chuvas, a vegetação cresce muito rapidamente”, disse Borges da Silva, que acrescentou ainda que “quando nós estamos a limpar uma vala, a vala que já limpamos anteriormente, imediatamente cresce a vegetação.”
Ainda assim Borges da Silva diz que há um calendário bem definido para a limpeza das valas em toda a cidade.
Quatro meses para terminar obras do projecto urbano
Neste momento, decorrem as obras de materialização do projecto urbano iniciadas no ano passado e que estavam previstas para terminar no presente mês de Março. Para já, a edilidade vai precisar de mais três a quatro meses para finalizar as obras e Borges da Silva justifica: “Não digo que esteja atrasado. O que aconteceu é que, por conta das manifestações, que temos cerca de três meses sem acções, tivemos essas paralisações e contribuiu para esta demora. Portanto, é uma demora não técnica, mas é uma demora associada a manifestações”.
Entretanto, segundo o PCA da Empresa Municipal de Saneamento e Drenagem, a edilidade vai continuar a trabalhar para concluir o mais rápido possível a execução das obras. “Uma vez que o processo e a conclusão das obras estavam previstas para Março, o que está em curso neste momento é a negociação com o financiador para extensão de prazo por mais quatro meses, de modo que consigamos concluir as obras”, concluiu Borges da Silva.
As obras são financiadas pelo Banco Mundial e estão avaliadas em cerca de 13 milhões de dólares.