Era assim chamada a dona Lodina, pela distância que percorria de casa à paragem.
Lodina, a mãe já dizia, você foi um fruto da ilusão.
Em 1983, Angélica conheceu Bartolomeu, seu marido por 23h. Foi mesmo uma ilusão de meninice, dizia a avó já cansada da vida madrasta lá em Xikodwene.
A Angélica percorria distâncias em busca de água e foi assim que sucedeu a diegese.
A Angélica engravidou e logo pôs-se a correr para Maputo com um mujonijoni que a encontrou 23h chorado sem saber o que fazer. Assim, Angélica deixou a mãe já velha, para descansar nos braços do mujonijoni.
Lodina, sua filha, já crescida, vê o seu lar na Matola em Mumemo, lugar esse novo, sem muita gente e em via de desenvolvimento, é como se ela estivesse voltando à sua origem, lá em Xikodwene.
Lodina caminhava durante 10 horas para a paragem, tinha uma vida dividida entre dois espaços, Maputo-Matola, vivia uma vida de estrada, saía de casa à madrugada e chegava em Maputo ao meio dia e logo tinha de pegar o transporte para voltar a casa e só chegava às 23:55 minutos, com muitos filhos de nacionalidades diferentes, diziam as vizinhas, em risos e gargalhadas, meninos de todas as cores, mal viam a mãe.
A avó Angélica não gostava da filha desde o dia do seu nascimento, em 1984, porque se parecia bastante com o pai.
Sem ninguém, Lodina fazia dos seus filhos a sua única família, a família onze mulheres.
No dia 25 de Maio, pelas 6 horas, dia do seu aniversário, a última filha indo a escola, vê a sua mãe jogada, perto do instituto de mumemo, sem ninguém, as 10 meninas enterram a mãe e a sua filha mais velha, a Admira, nome dada pela mãe, porque a mãe admirou-se ao ver que no seu ventre carrega uma branca de raça.
Admira foi obrigada a fazer o mesmo percurso da mãe para poder garantir o pão de cada dia das nove irmãs.