A Associação dos Escritores Moçambicanos lamenta a escalada de violência pós-eleições em todo o território nacional, com perdas de vidas de cidadãos. Por isso, através de um comunicado apresentam algumas propostas para parar a violência que tem caracterizado os últimos dias.
Através de um comunicado, enviado ao Jornal O País, A Associação dos Escritores Moçambicanos lamenta o clima de violência, que “tem vindo a ceifar vidas humanas”, envolvendo cidadãos que protestam contra os resultados eleitorais, anunciados pela Comissão Nacional de Eleições e agentes das Forças da Lei e Ordem, nomeadamente da Polícia.
” A violência, venha ela de cidadãos civis, venha ela de agentes da Lei e Ordem, constitui um mecanismo errado para abordar desavenças na sociedade, pois ela apenas serve para aumentar sentimentos de ódio e vingança”, lê-se no comunicado.
Por acompanhar a larga escalada de violência, segundo o documento, os escritores moçambicanos decidiram vir a público para contribuir com propostas tendentes a solucionar o presente conflito e para a criação de um Moçambique de Paz, Concórdia, Reconciliação e Unidade, mas não sem antes apresentar as suas causas.
“O presente conflito pós-eleições tem as suas raízes, dentre outras causas, no sistema político moçambicano, onde os poderes dos diferentes órgãos do Estado acham-se confundidos e não se têm mostrado independentes, criando relações de promiscuidade e de ingerência nefastas uns sobre os outros”. Aliado ao facto de existir uma camada social, sobretudo jovem, penalizada pelas consequências da má gestão da coisa pública, sobretudo a Corrupção e consequente elevado e insuportável custo de vida. E ainda com o funcionamento dos órgãos eleitorais, cuja conduta tem sido apontada como fonte constante de suspeições dos cidadãos, que não acreditam na sua independência e credibilidade. Os órgãos eleitorais são percebidos como partes importantes, fontes de criação e manutenção destes conflitos, entre vários outros factores.
Os escritores propõem a realização de um encontro urgente, entre os dois candidatos presidenciais mais votados, nomeadamente Daniel Francisco Chapo e Venâncio António Bila Mondlane, com uma agenda de três pontos: acordar em terminar com o actual clima de instabilidade e violência, para evitar mais perda de vidas humanas e destruição de infraestruturas, com o compromisso sério e verdadeiro de que, no encontro, se devem fazer cedências mútuas e jamais pautar pela arrogância ou posições radicais; Iniciar o Processo negocial para a criação de uma plataforma de entendimento que inclua a constituição de um Governo de inclusão efectiva, com vista a abrir portas para um processo de reforma profunda do Estado, envolvendo e beneficiando toda a Sociedade, sem exclusão, com particular realce para a camada jovem que é a mais numerosa e indiscutivelmente a mais penalizada pelas diferenças sociais; e a constituição de um Comité de Sábios, para desenhar a arquitectura do diálogo entre os dois candidatos presidenciais mais votados, fazer a moderação dos encontros entre ambos e comunicar ao povo sobre o seu progresso.
A Associação sugere ainda que os dois candidatos presidenciais venham rapidamente a público exprimir o seu compromisso com a paz, a estabilidade e o desenvolvimento harmonioso do país, ultrapassando expressões de ódio ou outras que incitem à violência.