Reintegrar ex-terroristas nas comunidades é um problema complexo que precisa ser consensual e aprofundado concordam os analistas Moisés Mabunda, Fernando Lima e Samuel Simango. Os mesmos defendem igualmente que o que interessa neste momento é como será feita esta reintegração que algumas comunidades recusam.
Receber os ex-integrantes dos grupos terroristas não de forma discriminatória, da forma mais sustentável possível para evitar que voltem e a necessidade do perdão são as três fundamentações que sustentam a criação do programa de reintegração social de pessoas que fizeram parte dos grupos terroristas no país.
Em seguimento do recente decreto presidencial, o anúncio foi feito pelo Secretário de Estado da província de Cabo Delgado, António Supeia, que apesar de reconhecer que há discordância das comunidades, pelo menos as de Nangade e Palma, onde houve recusa em receber os “ex-terroristas”, o mesmo reforçou que a medida é necessária, pois que não existem “cadeias suficientes para todos”.
A ideia foi recebida por António Matimula, Juiz presidente do Tribunal Judicial de Cabo Delgado que defendeu ser imperiosa a participação da comunidade neste processo de reintegração.
A ser possível reintegrar os ex-terroristas, o Conselho Cristão de Moçambique denunciou o desaparecimento de alguns reintegrados e disse que estes estarão expostos a uma ameaça tripla da parte das comunidades, das Forças de Defesa e Segurança e também dos próprios terroristas, ou seja, não estarão seguros.
Sobre a “insegurança dos ex-terroristas” causada pela chamada “tripla ameaça”, Moisés Mabunda disse que é legítimo que se sintam ameaçados pois cometaram os “piores crimes” contra as comunidades e é mesmo das comunidades onde esse processo de reintegração deveria partir.
Deste pressuposto, Mabunda disse que o anúncio do presidente foi “precipitado” e começou de “frente para trás”, por ter anunciado a medida sem referir como será feita a sua execução.
“Não é só as pessoas reaparecerem. Devia haver primeiro um guião de como é que se faz para apresentar um grupo que estava no terrorismo as comunidades. Este guião ser consensual onde deve-se saber de quem é a responsábilidade, ao contrário do papel que o SGE de Cabo Delgado está a assumir (de questionador), sobre o que se faz?. A questão não é o que mas como se faz?, porque o que o chefe do Estado já disse, devemos perdoar.”
É um assunto que Mabunda considera “muito complexo” e é urgente que seja consensual e aprofundado. Mesmo com vista ao aprofundamento do processo de reintegração, sugeriu que o primeiro passo deve ser o perdão público dessas pessoas diante das comunidades. “Para se perdoar alguém que nos ofende é preciso que a pessoa confesse e dê a dimensão do arrependimento”, disse.
Fernado Lima concordou com Mabunda, porém, trouxe outros elementos e um dos quais a razão que leva as pessoas a se juntarem aos grupos radicais, que segundo defendeu, “cerca de 70% das pessoas que se juntam ao terrorismo são forçadas”, entre si mulheres e crianças, grupos que deverão ter um tratamento diferenciado.
Outro ponto avançado por Lima, que sustenta a ideia de implementação do programa de reintegração é que “as prisões são lugares que podem efectivar a radicalização”.
Já Samuel Simango, alertando que o processo não deve servir aos interesses políticos secundou também que o processo é “complexo”, por conseguinte deve envolver a todos os actores da sociedade moçambicana.
Ao contrário de Lima e Mabunda que não sabem qual é o melhor modelo de reintegração entre a passagem directa para as comunidades e a reintegração por via de um centro transitório, Simango disse que é contra devido a falta de informação clara sobre “como e quem” vai gerir os centros de reintegração.