Com a participação de Venâncio Calisto como actor, a Companhia de Teatro da Rinha, em Portugal, estreia, amanhã, às 21h30, no Parque D. Carlos I, na cidade Caldas da Rainha, a peça A cidade dos pássaros, de Bernard Chartreux, adaptada do texto de As aves, de Aristófanes, com 2500 anos.
A cidade dos pássaros tem 100 minutos de duração e estará em cena no mesmo horário e no mesmo local, nos dias 4, 5 e 6 deste mês. Esta é uma colaboração do Teatro da Rainha e a Câmara Municipal da Caldas da Rainha, e a iniciativa explora palcos alternativos, envolvendo a comunidade, inclusive na representação.
De acordo com o encenador da peça, Fernando Mora Ramos, A cidade dos pássaros “é um espectáculo sobre a corrupção da democracia, sobre a sua degeneração e sobre o modo como, em nome de uma alternativa, o que se gera é uma ditadura. É um texto – cómico – sobre os populismos. Sobre as derivas autoritárias que vestem a pele das regenerações, das utopias regeneradoras demagocráticas”. E o encenador adianta o enredo: “Evélpidos e Pitesteros, este com vocação de ditador, virando as costas à Atenas corrupta, fundam junto dos pássaros uma nova cidade, depois de convencerem estes das suas origens nobres – filhos da realeza, como o galo e a sua crista, a carriça real – e depois de, por assim dizer, os colonizarem, alterando os seu modo de vida ancestral pelo moderno modo de vida dos homens, centrado na produção em grande escala, nos impostos e na militarização da sociedade.
Os do Olimpo – Zeus e a pandilha – pagam agora impostos para que os fumos sacrificiais que os humanos lhes dedicam possam atravessar as alfândegas da cidade fortificada e instalada nas nuvens, assim como os humanos passam a sacrificar aos pássaros e não aos velhos deuses.
É claro que Zeus se chateia e a tentativa acaba mal”. O resto é o suspense. Não vai o leitor querer que fique aqui tudo dito, afinal sempre pode entrar num avião para ir ver a peça. Ali tão perto. Em Portugal.
Sobre o mesmo espectáculo, Venâncio Calisto entende que o mesmo dialoga em muitos aspectos com Moçambique, desde o tema abordado, a questão da política, a degradação da democracia assim como da manipulação do povo: “faz-nos repensar no rumo da nossa democracia e alerta para que o povo esteja mais consciente do seu poder e não se deixe manipular”.
Já agora, em A cidade dos pássaros há uma referência a Moçambique na trilha sonora do espectáculo. Algumas músicas usadas para o ambiente da cena foram recriadas a partir de ritmos músicas tradicionais nacionais. Logo, também por isso o leitor há-de querer entrar já num avião para ir ver o actor moçambicano e ouvir os sons da sua terra valorizados no estrangeiro.
Além de Venâncio Calisto, a interpretação do espectáculo conta com Alexandre Calçada, Fábio A. Costa, Isabel Leitão, José Carlos Faria, Carlos Borges, Mafalda Taveira, Cibele Maçãs, António Plácido, José Ferreira, Manuel Freire, Adélia Duarte, Nuno Machado, Victor Duarte e o coro: Cacilda Caetano, Fernando Mendes Rodrigues, Filipe Ferreira, Luís Couto, Manuel Gil e Teresa Xavier. A equipa inclui ainda Luís Varela (tradução), José Serrão (cenografia), Francisco Leal (desenho de som), Filipe Lopes (Desenho de Luz) e Margarida Araújo (fotografia).