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35 anos de percurso literário e mais três livros de Armando Artur

O poeta Armando Artur comemora 35 anos de percurso literário com a publicação de três livros. Falando do que aí vem em termos de obras, esta quinta-feira, na cidade de Maputo, o autor aproveitou a ocasião para dizer que a crítica não está a conseguir acompanhar a evolução da produção literária no país.

Em termos de publicação, tudo começou há 35 anos. Não precisa fazer as contas. Foi em 1986 que o poeta Armando Artur estreou-se em livro, intitulado Espelhos dos dias, com capa do seu eterno confrade da Charrua: Ídasse Tembe. Aquela obra literária foi muito importante para o então novo autor, afinal mereceu boa recensão crítica, dando-o aquela lufada de ar fresco como boas-vindas.

Alguns dos poemas que compõem o primeiro livro de Armando Artur, esgotado, foram escritos em 1981 e, para o autor, parece que o tempo não passou. Sobre o livro, a ensaísta Fátima Mendonça escreveu: “Obra de estreia que recupera o lirismo e com ele reabre um dos caminhos possíveis para a literatura moçambicana”.

A fim de celebrar 35 anos de um percurso que, de certo modo, consolida-se com Espelhos dos dias, Armando Artur vai lançar três livros, logo que a situação da crise sanitária permitir. Na verdade, não fosse o Coronavírus, o autor já os teria lançados. Seja como for, o primeiro livro (poesia) será publicado em  Portugal e, depois, em Moçambique. O segundo, organizado pelo escritor e crítico literário Lucílio Manjate (uma antologia de poesia de Armando Artur) será editado pela Alcance Editores. Por fim, “tenho também um conjunto de recensões literárias sobre algumas obras que me marcaram ao longo do tempo, quase todas publicadas na página online do jornal O País. Decidi reunir esses textos, que aguardam por financiamento, mas vão sair”.

A CRÍTICA NÃO ACOMPANHA A EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO LITERÁRIA

Armando Artur sublinha que a literatura moçambicana continua a produzir bons autores, quer na poesia, quer na prosa. “A nossa literatura está num bom caminho. Estão a surgir autores de gabarito”. No entanto,  “o único senão, neste processo todo, sinto que a crítica não está a acompanhar a evolução da produção literária em Moçambique. Compreendo que os produtores da crítica talvez não estejam ainda em condições de fazer este acompanhamento. A minha esperança é que a breve trecho haja essa produção da crítica, porque a crítica e a produção literária devem andar de mãos dadas. É assim como se caracteriza o desenvolvimento de uma literatura. É verdade que acontecem estudos, como em relação à minha obra, com várias teses de licenciatura e de mestrado. Coisa que até pouco tempo não existia no país. Antes, quase sempre esse tipo de estudo acontecia fora do país”.

Para Armando Artur, a escrita é um ofício que ninguém o incumbiu como produtor literário. Continua sendo um compromisso para com o país, que só pode alcançar o sucesso almejado, na sua marcha de desenvolvimento, se também tiver uma boa literatura. “É a literatura que regista os momentos mais emocionantes e mais profundos da história de um povo”. Por isso, sempre será prazeroso publicar livros, inclusive para uma geração pós-Espelhos dos dias. Sem mudar de assunto: “O que me deixa feliz, de certo modo, é que muitos poetas da nova geração afirma que começou a escrever lendo os meus poemas. Não há melhor coisa, para um escritor, do que ter prossecutores na literatura. Nada me deixa mais feliz neste mundo do que a leitura e a escrita”.

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