A Cidade de Maputo está a sofrer pressão devido à alta densidade populacional. Isto porque a capital do país concentra quase todos os serviços. Sua população jovem é, na sua maioria, desempregada, consumista e com altas taxas de natalidade. A chamada Cidade das Acácias está à beira de uma crise demográfica.
Um século e trinta e cinco anos de uma cidade que continua o “el dourado” para os que vêm de diferentes cantos do país. Uns olham para Maputo como uma cidade de oportunidades, outros de negócio e empreendedora. Tudo para justificar o que lhes atrai.
Na verdade, pode haver mil e uma razões para escolher Maputo como uma cidade para viver, fazer ou recomeçar a vida, mas Edna Nhantumbo só precisa de três: “para mim, Maputo é uma cidade acolhedora, empreendedora e aberta”.
Natural de Gaza, Edna veio à Cidade de Maputo para estudar. Está nos últimos anos do seu curso, mas voltar às origens está fora de questão. “A ideia é inserir-me num lugar que esteja a realizar uma actividade que proporcione algum valor para mim”, indicou Edna Nhantumbo, natural de Gaza.
Até podem existir vários desses lugares, mas, até agora, tudo o que ela precisa e mais alguma coisa só encontra na capital do país. “Tornei-me uma outra pessoa na Cidade de Maputo. Há muita coisa que está virada à minha inclinação”, justificou.
A inclinação pesa mesmo para a capital do país. O que encontrou em Maputo não encontraria em Gaza, sua terra natal. Maputo, por exemplo, “é uma cidade onde as pessoas se levantam para o dia-a-dia, procurando meios de auto-sustento diferente da minha província onde as pessoas dependem mais da machamba e trabalho no Estado”.
E foi o empreendedorismo que tirou Jorge Manuel da Zambézia para a chamada Cidade das Acácias. “O negócio que faço aqui (em Maputo) não tem mercado na minha província, por isso estou nesta cidade”, disse o jovem de 24 anos.
Jorge Manuel vive na capital do país há sete anos. Começou por vender chinelos na baixa da Cidade e, actualmente, rebita carros no Mercado Estrela Vermelha. Não foi só o negócio que o atraiu. “Aqui, na Cidade de Maputo, tudo está próximo. Na Zambézia, tudo está distante”, referiu.
Jacinto Muthombene está na Cidade das Acácias desde 2003 e já formou uma família. Encontra mais motivos para ficar na capital moçambicana do que voltar a Gaza. “Tem várias oportunidades, principalmente de estudo. É aqui onde há melhores universidades em termos de qualidade e quantidade”, destacou Jacinto Muthombene, natural de Gaza.
Bom, é fácil pensar que é a migração de pessoas de outras províncias para a Cidade de Maputo que está a sobrecarregar a capital do país, mas não é bem assim.
“A migração continua a acontecer, mas não para fixar residências na Cidade de Maputo. Elas (as residências) são construídas arredores, por exemplo, na área metropolitana, mas isso obriga a Cidade de Maputo a ter de continuar a providenciar serviços porque a população depende dela (a cidade)”, esclareceu Rogers Hansine, docente e investigador da Universidade Eduardo Mondlane.
E esta situação vai aumentar a densidade populacional. Ou seja, pessoas que só vêm à Cidade de Maputo à procura de serviços acabam por criar, de alguma forma, sobrecarrega.
A sobrecarga dos serviços sociais não vem só de fora da capital do país. Os naturais da Cidade de Maputo são, também, parte do problema.
De quase um milhão e trezentos mil habitantes de Maputo, 520 mil são jovens e mais da metade está desempregada, por isso não contribui para a provisão de mais serviços.
“Enquanto esta estrutura não for alterada, os desafios vão ser de satisfazer a necessidade desta população jovem, que tem que ter acesso à educação, à saúde, à alimentação, à habitação, entre outros. Então, este é o peso que nós temos do ponto de vista demográfico na Cidade de Maputo”, alerta o docente universitário.
Florência Chivite é parte do peso demográfico que a Cidade de Maputo está a enfrentar. Tem 29 anos, três filhos e ela e seu marido estão desempregados. “Não é fácil viver aqui. Não tenho emprego, e o negócio não anda porque exige muito dinheiro para tal”, queixou-se Florência Chivite, residente da Cidade de Maputo.
Os pequenos trabalhos que o marido faz é que garantem que haja comida na mesa.
Sabina Siduvene foi mãe aos 19 anos de idade. Estudou até sétima classe. Já trabalhou como doméstica, mas, agora, está desempregada. “Sem trabalho, sou carente de muitas coisas. Se trabalhasse, a vida estaria razoável”, lamentou Sabina Siduvene, também residente da Cidade de Maputo.
Sabina e Florência são rostos de uma estatística demográfica preocupante para a Cidade de Maputo. “Cerca de 30% dos jovens na Cidade de Maputo, entre 15 e 30 anos, estão nessa condição. Não estão a estudar, não estão à procura de emprego, nem estão em capacitação profissional. Podemos dizer que são jovens ociosos, mas não é isso. São jovens que não estão inseridos em nenhum aspecto relevante da sociedade. Se nós não alterarmos esse cenário, vamos continuar com os 30% e isso terá implicações”, alertou Rogers Hansine.
Para reverter o cenário e evitar o que chamou de “pesadelo demográfico”, o investigador da Universidade Eduardo Mondlane sugere investimento na educação e controlo de nascimentos.
“Dando acesso à educação, sobretudo à rapariga, ela própria começa a controlar a sua vida reprodutiva. Qualquer mulher com ensino secundário em Moçambique, basta fazer a 12ª classe, tem dois filhos a menos do que uma mulher que só fez ensino primário ou não foi à escola”, observa o docente e investigador universitário.
Enquanto isso não acontece, o Município de Maputo diz que há acções em curso, junto ao Governo, para evitar a sobrecarga de serviços sociais básicos.
“Eu acredito e isto está a ser feito a nível do Governo – criar condições atractivas para a manutenção da população no seu local de origem e se nós continuarmos neste caminho de criar atracção no local de origem vai impedir a migração da população de um lugar para o outro, porque aquilo que atrai na capital estará disponível no seu local de origem”, assegurou Alice de Abreu, vereadora de Saúde e Acção Social.
Estima-se que, diariamente, cerca de três milhões de pessoas se façam à Cidade de Maputo à procura de serviços sociais básicos, como educação e saúde.
Destaque frásico: “Enquanto esta estrutura não for alterada, os desafios vão ser de satisfazer a necessidade desta população jovem, que tem que ter acesso à educação, à saúde, à alimentação, à habitação, entre outros. Então, este é o peso que nós temos do ponto de vista demográfico na Cidade de Maputo”.
“Cerca de 30% dos jovens na Cidade de Maputo, entre 15 e 30 anos, estão nessa condição. Não estão a estudar, não estão à procura de emprego, nem estão em capacitação profissional. Podemos dizer que são jovens ociosos, mas não é isso. São jovens que não estão inseridos em nenhum aspecto relevante da sociedade. Se nós não alterarmos esse cenário, vamos continuar com os 30% e isso terá implicações”