100 dias após o ciclone Freddy ter fustigado a costa da Zambézia, em Março, com seu epicentro no distrito de Namacurra, localidade de Macuze, evento que afectou também as províncias de Sofala, Nampula e Manica, as populações afectadas continuam vulenráveis. Apenas 12 por cento das necessidades humanitárias foram supridas,
A passagem do ciclone, pelo país, uma das tempestades mais mortíferasa a atingir o continente africano nas últimas duas décadas e que matou mais de mil pessoas, forçou dezenas de milhares a deixarem as suas casas, e dizimou mais de 800 mil hectares de terras agrícolas, continua a se fazer sentir.
Apesar de os trabalhos de resposta por parte do Instituto de Gestão de Desastres (INGD) e das Organizações da Sociedade Civil para minimizar os impactos da calamidade no seio das populações afectadas, ainda persistem muitos desafios. A OXFAM aponta alguns aspectos negativos que se têm registado a nível daquele ponto do país, como consequência da passagem da intempérie. Por exemplo, a organização não-governamental constatou no terreno que rapazes e raparigas abandonam a escola à procura de actividades de geração de renda, facto que tem concorrido para o aumento de casos de uniões prematuras. Por seu turno, homens e mulheres abandonam os seus locais de origem à busca de emprego. Como consequência disso, tem se registado a intensificação da produção de carvão vegetal, que tem impacto ambiental negativo a longo prazo.
“As chuvas torrenciais e enchentes que se registaram no país levaram tudo, deixando os agricultores sem nada para colher ou cultivar. As famílias não têm nada para cultivar antes do inverno, pois perderam suas sementes e material agrícola, forçando-os a tomar decisões desesperadas para sobreviver”, salientou Amjad Ali, Director de Programa da Oxfam da África Austral. De modo a dar resposta à situação, foram mobilizados 16,4 milhões de dólares nort-americanos.
Atingidos 12% das necessidades humanitárias
A ONU alterou o Plano de Resposta Humanitária (HRP) de Moçambique, alertando para a necessidade adicionais de 138 milhões de dólares em financiamento até Setembro de 2023. Essa decisão tem vista atender à crescente necessidade humanitária, resultante da crise agravada pelos efeitos do ciclone tropical Freddy, que gerou, como consequência, inundações e um surto de cólera em todo o país,
De acordo com o Coordenação dos Assuntos Humanitários das Nações Unidas (OCHA), até ao momento, somente foram mobilizados 16,4 milhões, o que representa cerca de 12% do valor global necessário para colmatar as consequências negativas da intempérie.
Para Romão Xavier, representante da Oxfam em Moçambique, o ciclone Freddy veio expor mais uma vez as fragilidades e vulnerabilidades das communidades e a sociedade em geral. A entidade realça a necessidade dos países começarem a sair do discurso sobre mudanças climáticas e financiamento cimático para acções concretas que aumentem de forma significativa a capacidade adaptativa das comunidades e dos países menos desenvolvidos, que, apesar de serem os que menos contribuem para o fenómeno de mudanças climáticas, são os que sofrem muito mais dos seus efeitos.
À semelhança de Moçambique, no Malawi, a produção de alimentos básicos, como o milho, caiu quase 30 por cento, forçando o aumento dos preços. Michenga Pensulo, agricultor de 56 anos do distrito de Phalombe, em Malawi, disse que “vendi os meus dois hectares de terra por 150 mil Kwachas (aproximadamente 10 mil Meticais) porque preciso de comprar comida e suprir outras necessidades básicas. Foi uma decisão dolorosa, mas não suporto ver minha família passar fome,” salientou! “Em situações como esta, mulheres, meninas e crianças são as que mais sofrem”, disse Lingalireni Mihowa, Líder de Justiça de Género da Oxfam na África Austral. “Eles muitas vezes enfrentam perigos para garantir comida e, no entanto, muitas vezes comem por último e menos, ou têm que abandonar a escola para que a família possa comer”.
“Mais de sete milhões de pessoas já enfrentam fome extrema nos dois países. A menos que os doadores atendam imediatamente ao apelo da ONU, para ajudar as pessoas a reconstruir suas vidas, milhões de pessoas não terão nada para comer”, disse Amjad.
O ciclone Freddy deixou claro a necessidade de se investir nas acções responsáveis para atender a questão das mudanças climáticas.