Cinquenta e oito famílias vítimas de inundações urbanas ainda vivem em centros de acolhimento, já há três anos, no bairro das Mahotas, na cidade de Maputo. As vítimas queixam-se da falta de água, alimentos e saneamento e pedem a intervenção das autoridades.
“Viver o pior” e “viver como na prisão”, é como alguns membros das 30 famílias vítimas de inundações na Cidade de Maputo descrevem as tendas das Mahotas, nas quais vivem há três anos.
Em cada tenda, vivem entre 9 a 12 pessoas, cujas histórias se cruzaram na desgraça trazida pelas inundações. Para as vítimas, as tendas não oferecem condições condignas para habitação. “A situação é péssima porque isto aqui (tendas), aquece muito durante o dia e a noite, nem para dormir serve, entram mosquitos e nós dormimos muito mal”, disse Alada António.
Para usar os balneários é preciso fazer fila, uma vez que são poucos para o número de pessoas que vivem nas tendas. “Para tomar banho tem que formar bicha. Do outro lado nos davam água e hoje, sábado, não havia água. Temos bebês que precisam de água e vivemos de medo porque não temos água para a nossa saúde”, reclamou António Bila.
Dentro de três anos há quem perdeu entes nas tendas. Laurinda Tivane chegou às tendas com marido e neto, mas hoje já não os tem. “Cheguei lá com o meu marido, filho e netos. Meu marido perdeu a vida neste lugar, meu neto também, mas em nenhum momento tive alguém para me prestar condolências, nem dirigentes. Tive de carregá-los sozinha para o hospital, hoje estou sozinha sem ninguém para me apoiar, não tenho trabalho, não faço nada e minha casa está inudada”, lamentou.
Há sete meses, mais de 300 famílias em Muhalaze, tiveram também de abandonar as suas casas devido às inundações, embora, algumas tiveram a sorte de poder regressar, tal é o caso de Natália Machava. “Muitas pessoas saíram para arrendar, até eu mesma sai e voltei. Estava em Muhalaze mas como a minha casa estava numa zona alta acabei por voltando”, disse .
As lamentações são as mesmas de todo o lado para quem foi vítima das enxurradas na cidade de Maputo. Em Hulene A, por exemplo, o João Muchanga, está desde abril numa casa de renda, pois a sua casa está inabitável. “Saíram muitas pessoas daqui e muitas estão distribuídas nas igrejas, escolas, algumas arrendam, mas estamos todos a sofrer”.
É uma história triste contada por todos, como descreve Lúcia Ernesto, que está há nove meses sem poder entrar na sua casa. “Estou no nono mês aqui e ainda temos inundações nas nossas casas e pedimos que as pessoas que estão a trabalhar para nos ajudar continuem e encorajamos ao senhor Razaque a continuar conforme prometeu”.
Havendo alguma esperança com os trabalhos que estão a ser levados a cabo pelo Município de Maputo e a promessa foi mesmo a continuidade dos trabalhos de bombeamento de água que iniciaram este sábado, na Bacia de Hulene A.
“O trabalho nao é fácil porque estamos a falar de mais ou menos 100 000 m3 de água, portanto vai requer um trabalho de cinco h’;a dez dias e contamos continuar até terminarmos a sucção dessas águas”, prometeu Borge da Silva, presidente do Conselho de Administração da Empresa de Saneamento e Drenagem.
O presidente do Conselho de Administração da Empresa de Saneamento e Drenagem reconhece que a acção é paliativa, mas diz que já axiste uma solução definitiva.
“Uma vez que estamos na época chuvosa vamos evitar que a bacia se torne maior com as chuvas que vem nos próximos dias, são medidas paliativas, no entanto, o desenho já está elaborado para a solução definitiva, nós vamos construir bacias de retenção e um sistema de bombeamento das águas a partir da bacia de retenção”, prometeu.
Enquanto isso não acontece, os mais de cinco centros de acomodação continuam activos, até que a edilidade proceda com os reassentamentos definitivos, tal como referiu a vereadora da Acção Social, do Município de Maputo, numa chamada telefônica ao “O País”.
“Nós nos aproximamos ao governo provincial do distrito de Matutuine, Boane, Marracuene e Manhiça para pedir a concessão de espaços para os nossos munícipes e os distrito de matutuine já nos concedeu 100 parcelas e esperamos criar condições para o reassentamento das nossas populações”, garantiu Anabela Inguane.
Sem avançar prazos, a edilidade garante estar a criar condições para reassentar, no distrito de Matutuine, as 58 famílias vítimas de inundações urbanas no bairro das Mahotas.