Vilankulo está a recuperar o fôlego — e desta vez com uma força que não se via há anos. A cidade que, em 2024, viu praias vazias, turistas de última hora a cancelar viagens e hotéis a funcionar muito abaixo da capacidade, volta agora a sentir o pulsar do turismo de forma quase eléctrica.Quem circula pelas principais artérias, pelas zonas costeiras ou pelos bairros onde se multiplicam casas de férias, percebe que algo mudou: há movimento, há reservas a esgotarem, há restaurantes a preparar novos cardápios e, sobretudo, há um entusiasmo que parecia adormecido
É um renascimento. E não é exagero nenhum dizê-lo.
Em poucas semanas, Vilankulo conseguiu inverter uma tendência que muitos temiam que se prolongasse pela época festiva. A cidade, que tantas vezes foi o motor económico da província de Inhambane, volta a mostrar porque é que tem, o estatuto de “capital do turismo”. E desta vez a mensagem é clara: Vilankulo está de volta ao mapa dos destinos concorridos da África e com uma recuperação tão rápida que surpreende até os operadores mais experientes.
As reservas que chegam diariamente às estâncias turísticas misturam-se com pedidos vindos da África do Sul, do Zimbabwe, da Europa e de Moçambique inteiro. Em alguns estabelecimentos, a lotação para Dezembro e Janeiro já está esgotada. Noutras unidades, restam apenas vagas dispersas, e mesmo essas desaparecem com horas de diferença. A pressão é tanta que muitos agentes imobiliários admitem que já não conseguem acompanhar a velocidade com que chegam mensagens a pedir disponibilidade.
Fernando Malate, gestor local, resume o momento com uma naturalidade que contrasta com o cenário desolador do ano passado. “Este ano estamos a receber muitos pedidos, há muitas reservas e muita expectativa. As casas já estão cheias, isso dá-nos moral”, diz, num tom que revela sentido de missão e alívio ao mesmo tempo. A fala traduz o sentimento coletivo de um sector que depende, como poucos, do fluxo turístico.
A procura pelas casas de férias está ainda mais intensa. Este segmento, que cresceu muito nos últimos cinco anos, tornou-se agora um dos pilares da oferta turística de Vilankulo. No WhatsApp, no Instagram e no Facebook, os anúncios de casas disponíveis desaparecem quase tão rápido quanto são publicados, tal é o volume de pedidos. “Este mês a procura vai a mil”, conta Edima Mery, agente imobiliária. “Temos muitas reservas e todos os dias surgem novos clientes à procura de alojamento para as quadras festivas.”
A economia local começa a sentir os efeitos desta retoma. Os mercados reforçam stocks, os operadores marítimos apertam a manutenção das embarcações, os restaurantes afinam horários e os bares ultimam uma agenda de festas que promete transformar as noites de Vilankulo num cartão-postal vibrante do turismo moçambicano. A noite de passagem de ano já está a ser desenhada com DJs internacionais, música ao vivo e ambientes preparados para um público heterogéneo que vai desde famílias a viajantes que procuram experiências únicas.
Fernando Malate deixa antever o que está a ser preparado: “Teremos DJs sul-africanos, nacionais e locais. Somos a capital turística de Moçambique e sentimos a responsabilidade de organizar uma festa de grande dimensão.” A afirmação revela a consciência de que, para muitos visitantes, a experiência de Vilankulo não se limita às praias; estende-se à gastronomia, à música, ao convívio e à possibilidade de viver dias e noites intensas.
Mas se há um elemento que explica a viragem quase repentina do turismo em Vilankulo, esse elemento está na palma da mão de quase todos: o digital. A turismóloga Mariamo Abdul sublinha a importância que as redes sociais ganharam no comportamento dos turistas. “Usar plataformas simples como WhatsApp, Instagram e Facebook para mostrar quem são e o que oferecem. Criar fidelidade e confiança ao responderem às críticas e aos comentários. Estar mais próximas do cliente”, diz. Ao contrário de épocas em que a publicidade dependia de brochuras, feiras ou intermediários, hoje a batalha pelo turista vence-se no ecrã, na rapidez de resposta e na criatividade das propostas.
E esta nova dinâmica digital chegou numa altura em que Vilankulo precisava de reinventar-se. Depois de um 2024 marcado por instabilidade, receios e cancelamentos, a cidade enfrenta a necessidade de recuperar a confiança internacional. Os operadores sabem que o turismo vive de percepções e que basta um sinal de instabilidade para o fluxo abrandar. É por isso que a actual retoma tem um valor que ultrapassa as reservas esgotadas: ela devolve esperança a uma cidade que vive do mar, das ilhas e da capacidade de encantar quem a visita.
As autoridades estimam que mais de 100 mil turistas passem por Vilankulo nesta quadra festiva. Se tal se confirmar, será um dos períodos mais fortes da última década — e um indicador claro de que a cidade conseguiu reconstruir, em tempo recorde, parte da reputação afectada no ano passado. Os benefícios estendem-se para muito além dos hotéis. O impacto directo é sentido nos mercados, nos transportadores, nos vendedores informais, nos operadores marítimos, nas casas de pasto, nos artesãos, nos guias turísticos e nas pequenas empresas que dependem do movimento à volta das praias e do Arquipélago do Bazaruto.
A recuperação é evidente, mas não esconde os desafios. Vilankulo enfrenta pressão crescente sobre água, energia, saneamento e infraestrutura. A cidade precisa de continuar a investir em organização, segurança balnear, preservação ambiental e qualificação de mão-de-obra. O crescimento do turismo é uma boa notícia, mas só se torna sustentável quando acompanhado de medidas que garantam que o destino consegue suportar, ano após ano, o aumento do fluxo de visitantes. Vilankulo sabe isso — e está a tentar ajustar-se.
Ainda assim, a energia dominante neste momento é de otimismo. Vilankulo está a regressar ao seu ritmo natural, com o mar cheio de barcos, a avenida principal movimentada, restaurantes cheios, mergulhadores nas águas cristalinas e turistas espalhados pelas praias ao nascer do sol. A cidade prepara-se para uma quadra festiva que promete marcar o calendário, não apenas pelo número de visitantes, mas pelo simbolismo que carrega: a confirmação de que, apesar do que viveu em 2024, Vilankulo continua a ser o destino que melhor representa a força do turismo moçambicano.
Depois de meses difíceis, a cidade ergue-se com a força de quem conhece o valor do seu mar, das suas gentes e da sua capacidade de recomeçar. E nesta quadra festiva, Vilankulo volta a ser aquilo que sempre foi: um dos lugares onde Moçambique mostra ao mundo a sua beleza incomparável — e onde cada visitante, ao partir, leva a sensação de que viveu algo que não encontra noutro lugar.

