Ansiedade, depressão, fraca socialização e exposição às redes de abuso sexual são algumas consequências do uso excessivo do telefone e da internet por crianças e adolescentes. O Ministério de Género, Criança e Acção Social apela aos pais para reforçarem as medidas de controlo.
Lorenzo Gomes, adolescente de 13 anos de idade, teve, há cerca de cinco anos, o seu primeiro telefone, com acesso à internet. De lá a esta parte, o aparelho tornou-se o seu maior aliado.
Através das redes sociais e de jogos virtuais, o adolescente tem contacto com o mundo e contou que, para si, é difícil pensar em passar uma semana sem acesso ao aparelho.
“A maior parte das redes sociais que tenho, não utilizo para postar, mas sim para jogar e conversar. Sem telefone, eu teria menos coisas para fazer, ficaria entediado e teria que me adaptar”, contou Lorenzo.
A sua mãe, Evanise Gomes, disse que procura sempre acompanhar tudo de perto, para que o seu filho não tenha acesso a conteúdos inapropriados.
“Ele tem-me sempre dito com quem joga, e tenho-o orientado para que se foque apenas no jogo e não tenha qualquer outro tipo de conversa com desconhecidos”, explicou.
Confessa, porém, que a tarefa não tem sido fácil, pois “é bastante complicado para os pais conseguirem traçar limites. Através de conversas, procuro consciencializar sobre coisas não boas da internet”.
Dados do Ministério do Género, Criança e Acção Social apontam que 56% dos adolescentes dos 12 aos 17 anos, no país, têm acesso à internet.
“O que a sociedade deve fazer é apoiar as crianças a inserirem-se neste meio de forma controlada e identificar a idade certa para dar um aparelho com internet a uma criança, regular o tempo de permanência na internet e controlar as páginas a que a criança tem acesso”, sugeriu Angélica Fulano, directora nacional da Criança, acrescentando que “tudo deve ser feito na base de muita conversa”.
Com o acesso facilitado à tecnologia, cada vez mais crianças e adolescentes apegam-se e expõem-se ao mundo virtual, o que aumenta a preocupação dos pais e encarregados de educação.
Perante o problema, o psicólogo clínico Hachimo Chagane alertou sobre as possíveis consequências físicas e emocionais.
“Um dos aspectos é que a criança sente a necessidade de ficar isolada e muitas vezes fechada no quarto. Quando é chamada para comer, por exemplo, diz estar sem fome. É possível notar, também, níveis de agressividade e rebeldia. Fisicamente, a sua visão é afectada e pode adquirir problemas nas mãos”, avançou Chagane.
Evanise Gomes, mãe de Lorenzo, revelou que o comportamento do filho a inquieta, porque “ele não tem paciência para nada e fica entediado.”
O desconhecimento dos riscos do acesso à internet descontrolado aumenta a vulnerabilidade ao tráfico, ao abuso e à exploração sexual, segundo a directora nacional da Criança.
“Quando os perpetradores se aproximam das crianças fazem-se de melhores amigos, ganham a confiança das crianças e começam a pedir fotografias e vídeos. Quando a criança não tem noção, facilmente pode cair na rede de abusadores sexuais ”, alertou Fulano.
Dos mil adolescentes abrangidos por um estudo sobre abuso sexual on-line, realizado de Janeiro a Outubro do ano passado, 76 disseram que receberam dinheiro em troca de fotos ou vídeos sexuais; 68 afirmaram ter sido chantageados para se envolver em actividades sexuais; 62 declararam que alguém havia compartilhado imagens sexuais sem permissão; e 111 foram deliberadamente convidados a falar sobre sexo.
Por isso, Valanha Alfredo, especialista em segurança cibernética, defende a adopção de medidas de controlo. “O Google traz ferramentas de controlo parental, que podem ditar as regras do que a criança pode ou não fazer na internet e para que haja monitoramento caso tenha acesso às redes sociais.”
Para reduzir o risco do uso excessivo do telefone e da internet, o Ministério do Género, Criança e Acção Social tem apostado na sensibilização e na adopção de leis que regulam o funcionamento do meio cibernético.