Cá estamos novamente com os rostos cheirando lágrimas de derrotas e com pegadas de choros. O cheiro das nossas lágrimas é crescente e faz nuvens de tristeza em nossos rostos. Nós amamos a nossa selecção e isso nos faz sofrer. Aprendemos em tempos de versos, mal escritos em cadernos, que quem ama sofre. E nós não sofremos porque amamos. Sofremos porque amamos derrotas. O verdadeiro amor não ama derrotas, mas sim ama derrotar. Nós amamos os Mambas, amamos as derrotas. Amamos esses Mambas que nos levam ao Zimpeto para uma tarde de beijos de vergonha, declarações de fraqueza e abraços filtrados por goleadas. O Zimpeto devia ser o lugar das nossas histórias de amor, nossos episódios de namoriscos marcados de beijos mordidos de olhos fechados; mas virou um semi-cemitério do nosso amor.
Sentados nos bancos de Zimpeto sempre esperamos o melhor do nosso amor. Esperamos que o nosso amor nos faça vibrar, meta-nos na língua chocolates em formas de golos, dê-nos cantando um buquê com rosas bem avermelhas de alegria e bem enrolado por uma fita que ao meio sorri um nó brilhante; uma fita que deixa cair dois laços meigos como a língua de uma Mamba silvando na selva.
Saímos sempre do Zimpeto com as lágrimas entornando-se das torneiras mal fechadas dos nossos olhos. Caem-nos as lágrimas como gotas da torneira mal fechada de uma cozinha. Cada gota que cai cria um eco de amargura na loiça suja das nossas almas. Parece que vivemos de promessas e ilusões. Os Mambas são um amor que não nos sabe cuidar. Nós sabemos cuidar deles porque são nosso amor: enfeitamo-nos as caras com cores que eles mais gostam, vestimos as camisetes com os seus nomes, cantamos as canções que mais gostam para nos amarem mais e enchemos o Zimpeto. E eles como namorados não maduros atiram-nos à cara uma declaração de amor com uma enorme assinatura de derrotas.
Os Mambas são namorados infiéis. Traem-nos em nossa própria casa sem se esconderem. Fazem viagens com seus amantes em todos campos do continente, fazem compras em lojas onde a derrota é paga em cheques e dólares e depois voltam à casa nos consolar e nos encher as mãos dos ouvidos com palavras gordas, nas sílabas, de vitória. E o Abel? Firme tenta nos reconciliar, sempre, com os Mambas como um padrinho que não se cansa de nos entulhar em reuniões onde a sua voz é o único timbre que mexe as chapas de zinco da sala de estar.
Sofremos porque amamos derrotas dos nossos Mambas. Os Mambas não sabem que enquanto jogam nossos corações explodem de amor nas veias; eles jogam e nós como seus amores preparamos o jantar, acendemos as velas, espalhamos cartazes sobre a mesa com desenhos de corações, colocamos ao fundo uma música onde um piano bate nas notas e chora. Parece que este texto desliza como o nosso amor pelos Mambas, aliás, os Mambas apenas deslizam de derrota em derrota porque não têm pernas. Se tivessem pernas saberiam os passos necessários para chegar ao coração de quem ama.
E penso que os Mambas precisam de transfusão de veneno. Os Mambas já não têm veneno na língua. Têm derrotas em forma de sangue nas gengivas. Eles precisam de veneno para cuspir, quando rastejam, na relva do Zimpeto. Doze Mambas, juntos, de línguas em riste, e outros enrolados nos ramos dos bancos não conseguem unir os seus cuspos e obter uma gota de veneno? Distribuamos frascos, como se fazem nos hospitais, em todos cantos do país. E cuspamos neles até termos os frascos com mais veneno na saliva; e levemos esses frascos a Federação para introduzi-los, mete-los na corrente do sangue dos Mambas. Precisamos de Mambas que sabem que são amadas e que cuspam o veneno para tornar esse amor imortal.
E nós não sofremos porque amamos. Sofremos porque amamos derrotas. Talvez o nosso amor termine no dia que os Mambas nos trouxerem um vaso de flores com uma carta de amor em anexo. Assim talvez caiamos de emoção e assim termine a nossa história de amor.