A cidade de Nampula registou protestos na rua com queima de pneus e bloqueio de estradas. A Polícia reagiu com força para dissuadir os manifestantes. O Hospital Central de Nampula confirma um morto e 16
pessoas baleadas
Uma manhã de protestos e imagens de bloqueio de estradas para limitar a circulação de viaturas – é desta forma que acordou a cidade de Nampula esta quarta-feira. “O dia não está bom. Reunimo-nos para fazer a nossa greve e veio a Unidade de Intervenção Rápida para impedir a nossa greve”, reclama indignado Dinis Alberto, na zona do mercado grossista Waresta, ao longo da Estrada Nacional n.º13.
Chame-se greve, manifestação ou protesto, a verdade é que o sentido semântico das palavras perde-se quando há sangue a se derramar. A nossa reportagem não esteve no terreno no momento da abordagem policial aos manifestantes, mas o tom de revolta da população vai aumentando em cada intervenção da Polícia.
“Não me tapem a cara. Caso eu desapareça hoje, amanhã ou depois de amanhã é porque eles estão à minha procura. Nós queremos saber: porque é que eles estão a nos balear? Por que motivo? Houve vandalização de alguma coisa? O que se estragou? Este incêndio quem é o promotor é a Intervenção Rápida que veio aqui nos balear.
Acabaram de balear duas pessoas, ali”, disse aos gritos um manifestante, falando aos jornalistas a escassos metros do local onde havia pneus em chama, com agentes da Polícia a tentar apagar, na zona da Faina, ao longo da Avenida do Trabalho.
O Serviço de Urgência do Hospital Central de Nampula esteve agitado no período da manhã e início de tarde desta quarta-feira. “É meu filho que está aqui. Não sei se ele levava um cliente. Só ouvi de pessoas que estava no hospital, foi baleado”, lamentou uma senhora de idade considerável, sentada ao chão na entrada do Banco de Socorros enquanto aguardava pelas notícias sobre o estado de saúde do filho que acabara de dar entrada.
O pessoal de Saúde dá tudo de si para proteger o maior valor que é a a vida. Por volta das 14 horas fez-se o balanço das ocorrências. “Recebemos um número de 16 pacientes até este momento que estou a falar, destes, todos são pacientes vítimas de feridas por armas de fogo, em diferentes partes do corpo. Internamos 10 pacientes, 4 altas e um teve morte durante a cirurgia”, anotou Sulaimana Izidora, porta-voz do
Banco de Socorros.
Desde que começaram as manifestações o sector de Saúde tem se ressentido da pressão causada pela avalanche de doentes por ferimentos, o que a continuar pode ter consequências incalculáveis, porque para além da necessidade de insumos hospitalares no geral, tem havido demanda de sangue que já num período normal de funcionamento tem se revelado escasso. “Nós fazemos aquilo que podemos fazer. Como pessoal de saúde, como médicos, como enfermeiros, a nossa missão, olhando as condições que temos, pouco ou muito, é salvar vidas. E nós estamos a fazer isto porque esta é nossa missão, mas se isto continuar assim, eu acho que o hospital não vai conseguir. Em termos de insumos, estamos a gerir o que temos, mas de uma forma geral, isto não devia continuar”, lamentou o médico.