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Três jovens morrem em acidente trágico de mototaxi na Maxixe

A madrugada de segunda-feira começou com um grito silencioso de dor no povoado de Agostinho Neto, no distrito da Maxixe. Três jovens, com idades entre os 17 e os 25 anos, perderam a vida depois que a motorizada em que seguiam colidiu violentamente com uma viatura ligeira. O impacto foi tão forte que, segundo testemunhas, o veículo só parou vários metros depois do embate — uma cena que deixou marcas profundas não apenas no asfalto, mas também no coração das famílias que agora choram pelos seus mortos.

No local do sinistro, os cacos de vidro e o óleo espalhado no asfalto ainda contam a história de uma noite que terminou em tragédia. Jaime Cumbane, pai de uma das vítimas, ainda tenta entender o que aconteceu. Entre lágrimas, fala com voz trémula sobre a dor que o consome desde o momento em que soube da morte da filha. “O que nos contaram é que o carro atingiu a motorizada por trás, com tanta força que a arrastou por vários metros. Depois do embate, o veículo só parou cerca de cinquenta metros adiante do local do acidente”, relatou, sem conseguir esconder a revolta.

Para Jaime, a dor é agravada pela sensação de impotência. “Não era possível ele explicar bem o que aconteceu, porque aquele senhor estava completamente embriagado, muito bêbado mesmo”, desabafou, referindo-se ao condutor da viatura envolvida no acidente.

A mãe da jovem, Isabel Domingos, ainda não encontra palavras que consigam traduzir o vazio deixado pela partida abrupta da filha. De olhar perdido e voz embargada, partilha um lamento que se mistura com a incredulidade: “Não tenho palavras… o meu coração está despedaçado. Fui eu quem gerou a criança, mas nada pode trazê-la de volta. Se ela partiu, resta apenas aceitar… não há nada mais que se possa fazer.”

Enquanto a dor se espalha entre os familiares, a irmã da vítima, Neusa Cumbane, reconhece que houve imprudência. “O que sei é que, normalmente, na motorizada só seguem duas pessoas. Por isso, ficámos surpreendidos quando nos disseram que as três vítimas estavam na mesma mota. Não sei o que dizer… é difícil compreender como tudo aconteceu.”

A Polícia da República de Moçambique (PRM) em Inhambane, entretanto, apresenta uma versão diferente dos factos. Segundo a porta-voz do Comando Provincial, Nércia Bata, não foi o carro que embateu contra a motorizada, mas sim o contrário. “A polícia tomou conhecimento de que, por volta da uma hora da madrugada, ocorreu um acidente do tipo choque entre carro e motociclo. O motociclo saía da cidade da Maxixe em direção a outro ponto do distrito, no sentido sul-norte, e vinha uma viatura no mesmo sentido. O que aconteceu é que o motociclo embateu na traseira do veículo que seguia à frente. Os ocupantes da mota perderam a vida de imediato”, explicou.

De acordo com a PRM, as três vítimas foram transportadas para a morgue do Hospital Rural de Chicuque, na Maxixe. “É de lamentar, porque este tipo de acidentes tem semeado dor e luto nas famílias em toda a província de Inhambane. Por isso, apelamos aos condutores para que façam uma condução defensiva, respeitem as regras de trânsito e aos motociclistas para que não transportem mais do que uma pessoa por mota”, apelou Nércia Bata.

A porta-voz esclareceu ainda que, ao contrário do que dizem as famílias, o condutor da viatura não estava embriagado. “Foi feito o teste de álcool e o resultado foi negativo. Quer dizer que ele não estava sob efeito de bebidas alcoólicas”, garantiu. A polícia acredita que o acidente ocorreu porque o veículo da frente travou de forma brusca e o motociclista, que circulava a alta velocidade, não conseguiu reagir a tempo, acabando por embater na traseira.

Apesar da explicação oficial, as famílias mantêm dúvidas e pedem que o caso seja investigado com rigor. Para elas, o que aconteceu foi mais do que um acidente — foi uma perda irreparável que destruiu vidas e sonhos.

O trágico episódio volta a expor o drama dos acidentes de viação em Inhambane, uma província que, nos últimos meses, tem registado um número crescente de sinistros fatais. Dados da PRM indicam que o excesso de velocidade, a condução sob efeito de álcool e a falta de uso de capacetes continuam entre as principais causas. Só em 2024, dezenas de famílias foram mergulhadas no luto por acidentes que, segundo as autoridades, poderiam ter sido evitados.

Nas comunidades, o sentimento é de medo e impotência. Muitos motociclistas reconhecem as falhas, mas apontam também para a falta de campanhas de sensibilização, de fiscalização nas estradas e de condições mínimas de segurança. Em povoados como Agostinho Neto, circular à noite em vias mal iluminadas e sem sinalização é quase sempre um risco.

Enquanto o sol se põe sobre as colinas de Inhambane, a família Cumbane tenta reconstruir-se no meio do desespero. O silêncio que paira sobre a casa é pesado, cortado apenas pelo som das lamúrias que se misturam com o vento. Três vidas interrompidas numa curva, três famílias destroçadas e uma comunidade inteira mergulhada em dor — é o retrato cruel de mais uma madrugada de luto nas estradas moçambicanas.

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