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Transportadores de Inhambane têm uma semana para legalizar viaturas

Na sexta-feira passada, a cidade de Inhambane enfrentou um caos inesperado no transporte de passageiros. Uma paralisação promovida pelos transportadores levou centenas de pessoas a andarem a pé, gerando um dia de transtornos e debates acalorados. A situação expôs as tensões entre operadores de transporte e o Conselho Municipal, que exige o cumprimento rigoroso das normas legais. Em resposta à pressão exercida, o município decidiu dar uma trégua temporária na fiscalização, permitindo que os transportadores tenham uma semana para regularizar as viaturas.

Este cenário reflecte um problema mais profundo: a difícil convivência entre as autoridades e os transportadores, num contexto em que a precariedade dos serviços de transporte é evidente.

Novais Abubacar, vereador dos Transportes no município de Inhambane, falou em exclusivo ao jornal O País para esclarecer as decisões tomadas e os passos futuros. O vereador começou por enfatizar que a decisão de conceder mais uma semana para a regularização não deve ser interpretada como um recuo ou acordo formal. Segundo ele, trata-se de uma medida ponderada para permitir que os transportadores organizem a documentação necessária e adequem as condições das viaturas.

“Depois do que aconteceu na sexta-feira, ponderámos os pedidos apresentados pelos transportadores. Não se trata exatamente de um acordo, mas de uma trégua. Decidimos dar mais alguns dias para que eles possam organizar as questões documentais e proceder ao licenciamento das viaturas”, explicou Abubacar, sublinhando que o prazo concedido se estende até à próxima segunda-feira.

O vereador foi além e destacou que a questão não se resume à obtenção da licença de operação. As condições das viaturas serão, igualmente, avaliadas como critério indispensável para o licenciamento. “Não basta obter o documento. As viaturas precisam de estar em condições mínimas para operar. Estamos a falar de questões mecânicas, pneus em bom estado e bancos adequados para garantir o conforto e a segurança dos passageiros”, afirmou.

Embora a trégua tenha aliviado temporariamente a tensão, muitos transportadores manifestam preocupação com o cumprimento do prazo. Para alguns, a regularização dentro de uma semana é um desafio quase impossível, considerando os custos elevados e as dificuldades económicas enfrentadas pelo sector.

“Não estamos a dizer que não queremos cumprir, mas o tempo é curto. Regularizar documentos, inspeccionar as viaturas e fazer reparações mecânicas exige recursos que muitos de nós não temos”, lamentou um transportador, que preferiu não ser identificado.

Apesar dessas dificuldades, a decisão do Conselho Municipal tem sido amplamente apoiada pelos passageiros, que valorizam a ideia de maior segurança e conforto no transporte público. “É importante que as autoridades sejam rigorosas. Nós, passageiros, merecemos viajar com segurança, e os transportadores devem cumprir as normas”, comentou Maria Francisco, usuária habitual dos transportes públicos.

Abubacar deixou claro que o fim do prazo marcará o retorno das fiscalizações intensivas. “Findo este período, as nossas campanhas de fiscalização serão retomadas. Quem for encontrado a operar de forma ilegal será sancionado e penalizado de acordo com a lei”, garantiu o vereador.

A fiscalização, segundo ele, não se limitará à documentação. “Estamos atentos às condições gerais das viaturas. É inadmissível que veículos em estado deplorável continuem a circular, colocando vidas em risco. A prioridade é a segurança dos passageiros”, reiterou.

O vereador também destacou que as autoridades têm intensificado os esforços para dialogar com os transportadores e garantir que todos estejam cientes das exigências legais. “Queremos que todos os operadores estejam devidamente regularizados, mas isso não pode ser feito de forma improvisada. Estamos a fiscalizar não apenas para punir, mas para criar um sistema de transporte mais seguro e eficiente”, acrescentou.

A cidade de Inhambane, que conta com cerca de 60 transportadores rodoviários a operar diariamente, depende fortemente deste serviço para a mobilidade dos seus habitantes. Durante a paralisação, trabalhadores, estudantes e comerciantes enfrentaram dificuldades significativas para se deslocar.

A retomada temporária dos serviços trouxe alívio, mas a incerteza permanece. “Estamos a viver um momento complicado. Por um lado, queremos que os transportadores cumpram as regras. Por outro, não podemos ficar sem transporte”, comentou Joaquim Mondlane, funcionário público que utiliza transporte público diariamente.

A iniciativa do Conselho Municipal de endurecer as fiscalizações surge num contexto de crescente insatisfação com a qualidade dos serviços de transporte na cidade. Viaturas com pneus carecas, assentos em mau estado e problemas mecânicos frequentes são algumas das queixas mais comuns entre os passageiros.

O vereador Novais Abubacar reconheceu que a fiscalização tem sido um desafio, mas assegurou que a medida visa o bem-estar geral da população. “Não estamos contra os transportadores. O que queremos é garantir que todos possam viajar com segurança e dignidade. Isso é um direito de cada cidadão”, concluiu.

O prazo de uma semana concedido pelo município é visto como uma oportunidade para os transportadores regularizarem a situação e evitarem sanções futuras. No entanto, será suficiente para resolver problemas que, em muitos casos, são estruturais?

Enquanto a cidade aguarda o desfecho, as autoridades continuam a monitorizar de perto o processo de licenciamento e a reforçar o apelo para o cumprimento das normas. Os próximos dias serão decisivos para determinar o futuro do transporte urbano em Inhambane, numa encruzilhada entre o rigor legal e as necessidades práticas do dia-a-dia.

Seja qual for o resultado, uma coisa é certa: a cidade de Inhambane precisa de um sistema de transporte que seja seguro, eficiente e acessível a todos. E, para isso, o diálogo entre autoridades, transportadores e a sociedade será indispensável.

 

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