O compositor e multi-instrumentista moçambicano encontra-se na Cidade de Saint-Pierre, na Ilha Reunião, para um espectáculo com o sul-africano Bongeziwe Mabandla, que irá durar uma hora, no Sakifo Musik Festival.
Quem já ouviu projectos como 340ml, Tumi & The Volume e Continuadores sabe quem é Tiago Correia-Paulo, um músico moçambicano que não se farta de aperfeiçoar a técnica de tocar vários instrumentos e de compor para tantos autores. Neste momento, entre vários artistas, encontra-se a trabalhar com o sul-africano Bongeziwe Mabandla, com quem se encontra na Cidade de Saint-Pierre para uma actuação no Sakifo Musik Festival, evento que arranca esta sexta-feira e que se irá prolongar até domingo.
Num dos hotéis de uma das cidades mais musicais da Ilha Reunião, o multi-instrumentista moçambicano que tem circulado muito pelo mundo referiu-se ao que prepararam para o espectáculo de logo à noite: uma mistura de músicas de diferentes álbuns, com destaque para Iimini (2020). Mas não se ficarão por aí, até porque a ele e a Bongeziwe Mabandla sempre interessa introduzir ao público os temas do novo álbum numa espécie de performance.
O álbum em causa e para o qual colaborou ainda não foi lançado e Tiago Correia-Paulo evitou dizer qual é o título. Ainda assim, a ideia é que se tirem ilações da reacção do público em relação às novidades sonoras. O álbum foi escrito durante dois anos e, agora, estão a pensar se lançam-no por inteiro ou em single, com vídeos-clipes. Mas essa não é uma decisão apenas dos músicos, depende das gravadoras e dos managers.
Para Tiago Correia-Paulo, actuar no Sakifo Musik Festival, neste contexto, é uma forma de quebrar fronteiras que, recentemente, foram impostas pela COVID-19. “Nós, durante os últimos anos, praticamente não nos vimos. Tivemos que reimaginar como é que iríamos fazer música assim. Tivemos de arranjar um formato, via intenet. Ele [Bongeziwe Mabandla] enviava-me um pequeno tema e eu estendia para um demo um pouco maior e devolvia-lhe. Parecia que estávamos a jogar ping-pong”. Ao fim de um ciclo do que se pode chamar ping-pong musical, os dois artistas chegavam a um consenso e fechavam a música.
Durante a conferência de imprensa de lançamento do espectáculo, no Sakifo Musik Festival, Tiago confessou que se sente a representar Moçambique quando faz música e colabora com autores de outras nacionalidades. Segundo disse, o álbum Iimini, de Bongeziwe Mabandla, é a prova do seu interesse pelo seu país, pois grande parte foi gravado em Moçambique e ele fez parte da criação das músicas. “Se não fosse a COVID-19, quando terminamos o Iimini, falamos com a Record Label e com o manager. Dissemos que iríamos lançar o álbum em Moçambique, no Franco-Moçambicano”.
Na percepção de Tiago Correia-Paulo, o Iimini teve uma boa recepção, com boas digressões na Europa. Com o álbum, realizou o sonho de tocar no Paradiso, nos Países Baixos. “Agora, quando aconteceu a COVID, sentimo-nos mais frágil”.
Uma das cosias que Tiago Correia-Paulo e Bongeziwe Mabandla fizeram para o álbum por lançar foi procurar ser interessante e abstractos, sem grandes ambições. “Tenho um pouco de receio em relação ao que as pessoas vão achar, porque agora estamos de volta aos palcos, aos egos e à ideia de querer fazer grandes músicas. O álbum tem momentos estranhos e espero que as pessoas compreendam que Bongeziwe está a tentar fazer coisas experimentais e mais artísticas”.
Um olhar ao passado dos 340ml
Momentos depois do lançamento do espectáculo com Bongeziwe Mabandla, Tiago Correia-Paulo referiu-se à importância da música enquanto construção ou objecto artístico. Do mesmo modo, o baterista, guitarrista, compositor e tantas outras coisas, disse que na arte o ego e a fama são grandes problemas para maioria dos criadores. “Eu nunca criei essas coisas da fama e até acho que os 340ml sofreram um pouco disso. Nós trabalhamos muito, mas as pessoas não viram o trabalho entre 2001 e 2006. Cinco anos de trabalho, dentro de um carro e a ir tocar ora para 10 pessoas, ora para 30. Depois, as pessoas encontram-nos já no topo e dizem que somos grandes. Isso trabalha muito o ego e começamos a pensar como é que ficamos no topo. Às vezes, esquecemo-nos da viagem toda. Esquecemo-nos que só chegamos até ao topo porque fizemos as coisas certas. Não estou a ser crítico, mas acho que os 340ml sofreram dessa coisa de estar no topo e não conseguir conectar com a razão de porquê se está a fazer música”.
Segundo disse o multi-instrumentista, a preocupação da banda passou por pretender continuar a ser cabeça de cartaz e a estar em festivais e com músicas na rádio. “Eu, pessoalmente, acho isso perigoso”.
Projectos
Tiago Correia-Paulo quer continuar a fazer performances e ainda revelou que o seu grande projecto, actualmente, é Continuadores, altamente moçambicano. “Tem muito a ver com Maputo, mas esse projecto sofreu com a COVID-19. Nós temos um EP gravado desde Fevereiro de 2020, pronto para ser lançado. Agora, não sabemos o que fazer com o projecto porque a indústria mudou”. Além disso, TRKZ foi viver para França. “Mas estamos a fazer um outro projecto, que, para mim, é ainda mais interessante porque envolve um ecossistema de músicos. Esse projecto é para dar oportunidades a músicos moçambicanos e eu vou agir como curador”.