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Terrorismo em Cabo Delgado: “ainda é cedo para decretar fim de ataques”

Foto: O país

O chefe da Missão da Tropa da SADC, em Moçambique, afirma que é cedo para decretar o fim do terrorismo em Cabo Delgado. Mpho Molomo revela que continuam ataques e atrocidades contra mulheres e crianças nas matas onde estão escondidos. 

O terrorismo em Cabo Delgado continua a suscitar debates em diferentes fóruns. E, desta vez, a Universidade Joaquim Chissano foi palco de debate e estudo de um dos problemas que mais assola o país nos últimos anos. Falando para uma plateia de estudantes, em Maputo, o chefe da Missão da SADC, que combate o terrorismo em Cabo Delgado, começou por defender que foi a pobreza extrema que propiciou o surgimento do terrorismo naquela província.

“É notável a variedade de recursos que existem em Cabo Delgado. Recursos naturais, depósitos de gás, minerais preciosos, rubis e ouro, mas paradoxalmente, quando olhamos para a localização geográfica de Moçambique, verificamos que em termos económicos e de desenvolvimento a província ainda está abaixo do nível desejado. Não há desenvolvimento sem segurança e vice-versa”, explica Mpho Molomo.

De acordo com o representante da missão, apesar de não haver um acordo formal entre as tropas que actuam em Cabo Delgado, há coordenação entre as chefias militares onde cada grupo tem a sua missão.

“Cada um de nós tem uma área de actuação. As tropas da Tanzânia e Lesotho estão implantadas em Nangade, o contingente do Botswana encontra-se em Mueda e da África do Sul em Macomia, sendo que a tropa do Ruanda está na área de Palma e Mocímboa da Praia. Nós trabalhamos em coordenação, os nossos generais planificam juntos”.

Não existe um acordo formal que tenha sido feito entre as forças exteriores, mas Molomo explica que foi algo acordado pelos comandantes no terreno. “Eles perceberam que havia necessidade de trabalhar lado-a-lado para evitar constrangimentos. Temos que cooperar para garantir com que se um ataca deste lado, os outros possam bloquear do outro”.

O representante da SAMIM avançou, ainda, que o país está longe de cantar vitória, pois os terroristas ainda estão presentes nas matas e conseguem efectuar alguns ataques.

“Estamos a estabilizar a situação, não podemos dizer que vencemos o terrorismo. Ainda estão lá na floresta de Kathupa. Nós ainda não destruímos efectivamente as suas bases. Estamos no cenário cinco, mas temos que manter robusta a nossa capacidade para alcançarmos o cenário seis, porque se não alcançarmos não poderemos garantir a segurança das populações” disse Molomo.

Molomo vai longe ao afirmar que “mesmo agora que estou a falar, os terroristas continuam a atacar aldeias, continuam a raptar pessoas, continuam a matar. Pelo que, achamos que precisamos de mais tempo para ultrapassar o cenário sem perdermos capacidade.”

Noutro desenvolvimento, o representante descreveu o drama vivido por crianças e mulheres, nos centros de acomodação.

“Tive a oportunidade visitar vários centros de deslocados. É chocante ver até que ponto as pessoas podem ser brutais. Encontramos mulheres que foram violadas sexualmente na floresta. Quando eles capturam mulheres, a primeira coisa que fazem, submetem-nas a testes de HIV. Quando testam negativo transformam-nas em suas esposas, mas quando testam positivo são bestas do mal. Muitas estão a escapar porque a vida por lá não é fácil”, relata o representante.

Molomo defendeu ainda o treinamento da Polícia e militares em matérias de direitos humanos, para que saibam lidar com o terrorista, tirando dele toda a informação relevante e levá-lo a responder pelos seus actos à luz da legislação moçambicana.

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