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“Temporada de Música Clássica de Maputo coloca Moçambique no mapa artístico do mundo”

Anualmente, realiza-se no país a Temporada de Música Clássica de Maputo – Xiquitsi. O evento da Associação Kulungwana já tem raízes bem firmes no chão, afinal segue na sexta edição. Este ano, pela primeira vez, a Temporada realizou um concerto em Nampula e em Cabo Delgado, numa tentativa de levar o ritmo clássico ou erudito a outras regiões moçambicanas.

Uma das artistas convidadas a participar na segunda série do Xiquitsi, que se realizou neste mês de Agosto, é Mariana Carrilho. Para a mezzo-soprano moçambicana, a Temporada de Música Clássica de Maputo é muito importante porque coloca Moçambique no mapa artístico africano e do mundo, uma vez que traz autores de vários países para, com os moçambicanos, apresentarem ao público propostas musicais de nível internacional.

Uma dessas propostas, destaca Mariana Carrilho, é a ópera Orfeu nos infernos. E, mais do que a peça em si, a mezzo-soprano realça a opção de se traduzir o original de Jaques Offembach para o português, pois, assim, muitos espectadores puderam entender a essência do espectáculo. “Em muitos casos, as óperas são apresentadas na língua original, que não é o português. Neste caso, o público não teria entendido Orfeu nos infernos como se pretendia sem tradução. Então, quando existem espectáculos como estes, que se preocupam em trazer a referência dos bairros e expressões locais, e com artistas nacionais, sim, contribuímos para que a Temporada de Música Clássica de Maputo coloque o país no mapa artístico do mundo por mostrar que somos capazes de realizar concertos de grande nível”.

Além disso, para Mariana Carrilho, o Xiquitsi está a mostrar que na arte não há fronteiras. Por isso mesmo, ao mesmo tempo que a Temporada está a situar-se ao nível de grandes concertos mundiais, afirma Carrilho, começa a ser relevante também pelo facto de agora estar a optar pela descentralização, levando concertos ao Norte.

Ao referir-se à qualidade dos alunos do Xiquitsi, Mariana Carrilho destaca a capacidade dramática dos moçambicanos, que assimilam as coisas com muita facilidade. “Temos muita qualidade vocal e de instrumentos, inclusive com consciência rítmica incrível. O que nos falta mesmo é apoio porque estudar arte é muito caro. A profissionalização da música no país depende de quanto maior número de projectos destes como o Xiquitsi tivermos”. Só depois disso, entende a artista cujo objectivo é passar a dedicar-se à música a tempo inteiro, é que os moçambicanos deixarão de ver a música como uma coisa à parte.

Mariana Carrilho é mezzo-soprano e artista visual. Iniciou os seus estudos musicais em 2014, depois de concluir a licenciatura em Belas Artes. Ano depois, participou na 2ª Temporada de Música Clássica de Maputo. Em 2017, participou do concerto “Classic Feminíssimo”, também em Maputo, celebrando a mulher na música clássica e na música moçambicana. Em 2018, concluiu com mérito o grau superior de Canto – Interpretação de Música Clássica sob a orientação de Carmen Bustamante, no Conservatório Superior do Liceu, em Barcelona. Actualmente, frequenta o Mestrado de Canto na mesma instituição. Como artista visual, participou em vários festivais de cinema, exposições colectivas e a solo, dos quais se destacam o Festival Dockanema (Moçambique), onde foi selecção oficial do prémio PLMJ de Vídeo Arte, e o Avanca Film Festival (Portugal), onde trabalhou com Mehdi Rahmani e Vasco Pimentel.

 

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