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“Taxas de juro altas inibem o investimento produtivo”, diz Omar Mithá

Foto: O País  

O Presidente do Conselho de Administração do Banco Nacional de Investimentos, Omar Mithá, diz que a actual taxa de juro de política monetária é alta e que não estimula o investimento produtivo na economia. O Presidente da Comissão Executiva do Moza Banco, Manuel Soares, concorda com a ideia e diz que os bancos comerciais reduziram o financiamento à economia.

Com o tema “Os Desafio da Economia Mundial em 2023 e o seu impacto em Moçambique”, o Moza Banco organizou, quarta-feira, em parceria com a Fundação Dom Cabral, Embaixada do Brasil e Universidade Politécnica, uma mesa-redonda para discutir os desenvolvimentos da economia moçambicana face aos impactos da economia mundial.

Omar Mitlhá e Manuel Soares foram os oradores da mesa-redonda promovida pelo Moza Banco, tendo tecido duras críticas sobre a gestão da política monetária do Banco de Moçambique.

“As taxas de juro são altas, o que inibe o investimento produtivo. Inviabilizam os investimentos porque o custo financeiro do financiamento é uma conta de resultados. As pessoas não produzem num país só por produzir, mas sim porque têm que fazer contas e isto significa ter um retorno adequado comensurado com o nível de risco. E este retorno deriva também das contas que se fazem aos capitais alheios”, defendeu Omar Mithá.

Aumentando a taxa de juro significa, para Mithá, que a dívida pública também aumenta, o que provoca grande pressão às contas públicas. A situação aflige também as empresas e famílias com o “repricing” dos créditos que já possuem junto dos bancos comerciais, na medida em que estes aumentaram, por sua vez, a taxa de esforço dos clientes no reembolso do crédito, como resultado da política restritiva do Banco de Moçambique.

Aqui, o economista fala de possível aumento do crédito mal-parado das empresas e famílias que apresentam os mesmos custos e receitas para uma situação de créditos mais caros junto dos bancos. “A qualidade de crédito é baixa e, portanto, já é um risco do próprio sistema bancário”, explicou Omar Mithá.

Ademais, o economista, que é também conselheiro económico do Presidente da República, avançou que o sector privado calcula os riscos do seu investimento em relação às taxas de juro, pois o negócio pode ser rentável, mas não viável. “Todos os projecto que têm uma taxa de rentabilidade de 14% ou 15% vão para o lixo, ou seja, não servem, porque não têm rentabilidade positiva. Uma coisa é ter resultados líquidos positivos e outra coisa é ter viabilidade económica. Portanto, a viabilidade económica é sempre em razão do custo de oportunidade de capital, o que significa que esta situação vai retrair os investimentos, pois estes ficam na gaveta”, sentenciou, acrescentando que as medidas do banco central, a certo nível, estimulam ao invés de combater a inflação.

“A apetência de conceder crédito pelos bancos comerciais vai reduzir. Já estava, desde 2015, com um elevado nível de taxas de juro, a apetência já estava a reduzir. O facto é que nós, tendo noção, de acordo com as análises económicas que fazemos, que ninguém é capaz de aguentar quatro anos a pagar taxas de juro de 25 a 30%. Portanto, os bancos restringiram a concessão do crédito, sendo prudentes nessa concessão”, disse Manuel Soares, Presidente da Comissão Executiva (PCE) do Moza Banco.

A restrição na concessão de crédito, segundo Soares, é também fruto de os bancos comerciais serem obrigados a deixar 40% dos seus depósitos no Banco de Moçambique, com a recente medida de aumento do Coeficiente de Reserva Obrigatório de 28% para 40%. Aqui, o gestor explicou que os bancos correm o risco de revelar resultados negativos, em 2024, o que pode aumentar os níveis de restrição de concessão de crédito por parte dos bancos comerciais.

Manuel Soares disse que o facto de o banco central ter deixado de comparticipar nas facturas de importação de combustíveis do país vai fazer com que só os grandes bancos participem do negócio, ao contrário dos 18 bancos que existem no país, como vinha acontecendo. “O que vai acontecer, na minha óptica, é voltarmos ao mercado, o que tínhamos há 10 anos, em que tínhamos apenas os grandes players do sistema financeiro que participavam no negócio de importação de combustíveis, porque quanto menor for a nossa quota de mercado na compra de divisas, mais difícil fica a nossa presença neste apoio às petrolíferas.

 

MOÇAMBIQUE PODE APROVEITAR EXPERIÊNCIA DO BRASIL NA AGRICULTURA

Moçambique pode aproveitar a experiência do Brasil para desenvolver a sua agricultura. A posição é do Embaixador do Brasil, Ademar Seabra, que falava numa mesa-redonda organizada pelo Moza Banco.

O Embaixador brasileiro defendeu a necessidade de aumentar a cooperação no sector da agricultura, aproveitando a experiência do salto na produtividade dado pelo país latino-americano.

Por seu turno, o Presidente do Conselho de Administração do Moza Banco, João Figueiredo, que participou nas notas introdutórias do evento, falou de alguns factos que têm desafiado a economia de Moçambique, nos últimos anos, desde a COVID-19, passando pelas calamidades, até à guerra entre a Rússia e a Ucrânia.

O CEO da Galp Moçambique, Paulo Varela, que integrou o painel de oradores, avançou que a tendência do preço do petróleo no mercado internacional pode resultar na redução do preço dos combustíveis nos próximos tempos.

O CEO da Galp Moçambique defendeu ainda que os países que mais poluíram, ao longo dos tempos, devem ajudar os em desenvolvimento, como Moçambique, a fazer a transição energética para energias limpas, de modo que contribuam para um melhor ecossistema.

Participaram na mesa-redonda do Moza Banco gestores de entidades públicas e privadas, economistas e clientes da instituição financeira.

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