Centenas de vendedores informais e formais estão a comercializar os seus produtos em condições desumanas, nos mercados de Maquinino e Goto, na cidade da Beira, como por exemplo em valas de drenagem, depois de verem as suas bancas removidas pelas autoridades na passada sexta-feira.
Tudo começou na noite da passada quinta-feira, quando uma equipa multissectorial, composta pela Polícia da República de Moçambique, Polícia Municipal e INAE, removeu todas as bancas que existiam ao longo da avenida Armando Tivane, adjacentes aos mercados do Maquinino e Goto, como forma de obrigar os vendedores a abandonarem aqueles locais que, na óptica da equipa, contribuíam para a propagação da COVID-19. Aliás, o inquérito sero-epidemiológico realizado na Beira, no segundo semestre do ano passado, apontou aqueles mercados como focos de transmissão da COVID-19, tendo recomendado a criação de melhores condições ou abertura de mais espaços para a prática da actividade, como forma de descongestionar o movimento que se fazia sentir naquela altura.
Olhando para a linha orientadora do inquérito, e tendo em conta o aumento dos casos da COVID-19 em Sofala, a equipa multissectorial acima referida decidiu remover as bancas. O cenário que se vive nos últimos dias ao longo da avenida Armando Tivane, onde era muito difícil circular uma vez que os vendedores e os seus clientes ocupavam mais de metade das faixas de rodagem, é agradável.
Entretanto, a retirada dos vendedores, que ali comercializavam diversos produtos, arranjou um problema mais grave, tal como “O País” testemunhou nesta terça-feira, no interior dos mercados de Maquinino e Goto, para onde os vendedores foram encaminhados.
Os mercados estão superlotados e, por conseguinte, não há espaço para distanciamento físico. É uma situação que pode, certamente, contribuir para a propagação da COVID-19 e, por outro lado, contribuir para os vendedores e comerciantes contraírem outras doenças de origem hídrica, como a cólera, pois alguns produtos estão a ser comercializados mesmo sobre as valas de drenagem dos mercados, valas essas que estão inundadas de lixo e águas negras.
“Lá fora, a Polícia obriga-nos a vender aqui dentro, onde infelizmente não há espaço. Se encontra alguma banca livre, ela está em aluguer cujo montante varia de 200 a 500 meticais por semana. Eu, que vendo tomate e limão, nem sequer consigo este lucro. A solução é nos aglomerarmos e, assim, a COVID-19 vai passando de vendedor a vendedor”, lamentou Arlete Tadeu, uma das vendedeiras.
Alguns vendedores não conseguiram espaço para comercializarem os seus produtos e a solução encontrada é circular com os mesmos na cabeça pelo mercado, à busca de clientes. “Estávamos bem com as nossas bancas lá na estrada onde agora a Polícia nos trata como criminosos, empurrando-nos para baixo das cadeiras das suas viaturas se insistirmos em vender na rua. Solicitamos ao Governo para encontrar uma solução, pois é desumano o que estão a fazer”, lamentou, igualmente, Domingas Zaqueu.
Os compradores estão, igualmente, agastados com a dramática situação e exortaram a edilidade a resolver urgentemente o problema. “Na minha opinião, a equipa multissectorial deveria, em primeiro lugar, criar condições para albergar os vendedores. Em vez de resolverem um problema, criaram um mais grave. As pessoas estão agora mais aglomeradas aqui, no mercado, e nem sequer há espaço para podermos passar. Aliás, somos obrigados a pisar aquilo que estão a vender. Poderá surgir aqui o foco de um grande problema sanitário. Veja que os produtos que estamos a comprar estão a ser comercializados nas valas de drenagem, onde, por vezes, caem e, mesmo assim, continuam a ser vendidos. Teremos, certamente, um problema grave de saúde aqui, na Beira. Este problema deve ser urgentemente resolvido”, exortou Rodrigues Fonseca, um comprador.
O Conselho Municipal da Beira garantiu que irá pronunciar-se ainda esta semana sobre este problema e que, neste momento, uma equipa liderada pela vereação dos mercados e feiras está a trabalhar na finalização de novos espaços identificados nos bairros de Cerâmica e Inhamízua para albergar os vendedores.