A empresa italiana de engenharia Saipem anunciou que a construção da fábrica de liquefacção de gás da TotalEnergies em Cabo Delgado, deverá ser retomada em Julho.
“Esperamos reiniciar gradualmente o projecto, de acordo com informações recebidas do nosso cliente, a partir de Julho deste ano”, disse o director-executivo da Saipem, Alessandro Puliti, citado pelo portal especializado do sector petrolífero Upstream.
Alessandro Puliti falava durante uma intervenção na Internet (“webcast”) realizada, esta semana, para apresentar a analistas os resultados do quarto trimestre de 2022.
A Saipem lidera o consórcio CCS, que também inclui a japonesa Chiyoda e McDermott dos Estados Unidos da América, responsável pela construção de duas linhas de liquefacção de gás com capacidade combinada de 13 milhões de toneladas por ano (mtpa) em Afungi.
A construção do complexo industrial foi suspensa em 2021 pela petrolífera francesa TotalEnregies, após um ataque à vizinha vila de Palma, na sequência da insurgência armada que atinge Cabo Delgado desde 2017.
A obra é o maior investimento privado em aberto em África, orçado em 20 mil milhões de euros, inclui linhas de captação de gás a grande profundidade, na Bacia do Rovuma, 40 quilómetros ao largo, liquefacção e cais de exportação para cargueiros especiais.
Nele está ancorada boa parte das perspectivas de crescimento da economia moçambicana, bem como de pagamento da sua dívida soberana.
A TotalEnergies anunciou, no início de Fevereiro, ter pedido a um especialista em direitos humanos, Jean-Christophe Rufin, médico, escritor e diplomata, uma avaliação sobre a situação em Cabo Delgado para depois tomar uma decisão.
Alessandro Puliti adiantou que os trabalhos deverão ser retomados em Julho, com uma renegociação de certas partes do contrato original de engenharia e construção no valor de 3,5 mil milhões de euros, adjudicado em 2019.
A província de Cabo Delgado enfrenta há cinco anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
A insurgência levou a uma resposta militar desde Julho de 2021 com apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projectos de gás, mas surgiram novas vagas de ataques a sul da região e na vizinha província de Nampula.
O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4000 mortes, segundo o projecto de registo de conflitos ACLED.
CUSTO DO PROJECTO SERÁ DETERMINANTE PARA TOTAL RETOMAR
O custo do projecto de gás natural localizado na Bacia do Rovuma vai determinar a retoma das actividades da TotaEnergies em Moçambique, defendeu, em Fevereiro, o CEO da empresa. Citado pela agência de informação financeira Bloomberg, o gestor referiu ainda que a questão dos direitos humanos vai influenciar na decisão.
Os pronunciamentos foram feitos cerca de dez dias depois de o CEO da Total, Patrick Pouyanne, ter visitado a província de Cabo Delgado, para ver de perto se há ou não condições de retoma do projecto no Norte do país.
Patrick Pouyanne falava em uma conversa telefónica com investidores, citada pela Bloomberg. “Não tenho pressa para recomeçar. Se virmos os custos a subir muito, vamos esperar”, diz Pouyanne. Tais custos estão ligados à renegociação de contratos com fornecedores e subempreiteiros.
O projecto, orçado em mais de 20 mil milhões de dólares, está suspenso devido à insegurança na região Norte do país, causada pelo terrorismo. Diante da situação, o consórcio liderado pela TotalEnergies decidiu declarar força maior para suspender as actividades.
Além do custo, o CEO da TotalEnergies diz aguardar pelas conclusões do estudo que a empresa encomendou sobre a questão dos direitos humanos na província de Cabo Delgado. Espera-se que o relatório fique pronto ainda este mês.
Na conversa, o líder da petrolífera francesa rejeitou a ideia de que terá de haver uma escolha entre o regresso a Moçambique ou a aposta no mercado de gás natural liquefeito, dizendo: “Estamos prontos e temos a capacidade para financiar ambos”, escreve o Notícias ao Minuto que cita a Bloomberg.
Com a suspensão do projecto, os investimentos no país reduziram drasticamente. De Julho a Setembro de 2022, segundo o banco central, o sector da indústria extractiva, que era a maior fonte de entrada de Investimento Directo Estrangeiro, caiu 99,6% face a igual período de 2021.