O País – A verdade como notícia

Sonhos “inundados”: o drama das cheias em Magoanine e em Intaka 2

Foto: O País

Há casas que continuam inundadas desde a passada época chuvosa no país. Os proprietários das residências abandonaram os seus sonhos e acharam refúgio em casas de aluguer ou centros de acolhimento. Com o calendário da época chuvosa 2024/2025 em marcha, as famílias afectadas dizem que vão viver um calvário nos próximos dias.

A chuva que caiu em dezembro do ano passado (2023) trouxe dor para milhares de famílias nos municípios da Matola e Maputo, na capital do país.

Devido às inundações, as casas tiveram de ser abandonadas e os proprietários encontraram refúgio em centros de acolhimentos ou casas de renda, para aqueles que têm condições para o efeito.
No Magoanine “C”, a rua principal do quarteirão 44 tem uma nova imagem. Transformou-se num rio, onde as crianças do bairro aprendem a nadar.

Neste bairro, mora Rogério Matsinhe, de 65 anos de idade, que foi reassentado pelo Município, aquando das inundações do ano 2000, que afectaram gravemente o bairro Jorge Dimitrov, onde morava com a sua família. Este lamenta e até acredita que a desgraça o persegue.

“Estou sem segurança. Quando chove, praticamente não durmo, fico acordado a assistir a água entrar para minha casa sem poder fazer absolutamente nada”, lamentou.

Com o calendário da época chuvosa 2024/2025 em marcha, Rogério Matsinhe prevê que os próximos dias serão difíceis para si e sua família e pede apoio.

“Nos próximos dias, a situação será pior e já percebemos que ninguém está preocupado em tirar desse sofrimento”, disse.

No mesmo bairro inundado, mora Elsa Cumbi, que se recorda da luta que travou para escoar as águas do interior da sua casa e teme que o cenário se repita nos próximos dias.
“Estamos com medo. Pedimos a quem de direito para que nos ajude. Que façam canais de escoamento das águas antes que comece a chover a sério”, exortou.

Não é somente o bairro Magoanine que está de rastos, o bairro Intaka 2, no município da Matola, também vive um cenário que se confunde com o calvário.

Nos “altos” prédios construídos ao longo da estrada circular, próximo à primeira rotunda, só residem sapos e outros bichos, porque os proprietários foram expulsos pelas inundações.
Inconformados, os munícipes apontam o dedo à REVIMO, por supostamente ter feito uma engenharia desqualificada, e sem análise de risco.

“Há problemas de engenharia, não sei se a REVIMO terá previsto o impacto ambiental quando concebeu a estrada. Quando chove, os nossos vizinhos sofrem as consequências de inundações. Levamos o assunto para as entidades competentes (REVIMO, Município, ANE) mas nada se resolve”, denunciou Manuel Machaie, morador de Intaka 2.

Como consequência, instalou-se um braço-de-ferro entre os moradores que são separados pela estrada circular, por alegadamente um dos grupos estar a encerar uma vala de drenagem.

“A coisa mais caricata é que os vizinhos vieram obstruir este canal, e, como consequência, nós já estamos a sofrer inundações nas nossas casas. Nesta última chuva, a minha casa ficou uma bacia e tive prejuízos enormes. Sentimos por eles, porque nós também estamos na mesma situação, mas desejar que outros também passem pela mesma dor não é bonito”, disse.

O Instituto Nacional de Gestão e Redução de Riscos de Desastres (INGD) diz que está a elaborar um plano de contingência para responder a eventuais situações de ocorrência de inundações na época chuvosa 2024/2025.
Actualmente, os planos estão a ser concebidos nos distritos para depois serem submetidos às províncias e, mais tarde, harmonizados centralmente.

Após a harmonização, o documento será submetido ao conselho técnico, antes de ser entregue para apreciação e aprovação pelo Conselho de Ministros.

Para a presente época chuvosa, espera-se que pelo menos 3,5 milhões de pessoas venham a ser afectados por eventos climáticos extremos, sendo que, deste universo, cerca de 300 mil necessitarão de assistência.

A Direcção Nacional de Gestão de Recursos Hídricos refere que cerca de 400 mil hectares de culturas poderão ser afectados em todas as áreas com potencial agrícola.

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos