Só no primeiro trimestre deste ano, mais de dois mil idosos sofreram violência física e psicológica, perpetrada por familiares, a nível nacional. A maior parte dos casos são fruto de denúncias populares, segundo revelou a Direcção Nacional de Acção Social.
O director nacional de Acção Social, no Ministério do Género, Criança e Acção Social, Moisés Comiche, falando à margem das celebrações do Dia Internacional do Idoso, assinalado na última sexta-feira, disse que estes resultados são referentes a um período curto, entretanto os números são preocupantes, por isso várias acções têm sido levadas a cabo, com o objectivo de estancar este mal e devolver aos idosos a importância que sempre tiveram na sociedade.
“Nós temos assistido a situações de pessoas que são levadas à barra do tribunal, por praticar acções criminosas contra a pessoa idosa. Estas situações vêm ocorrendo com mais frequência devido ao trabalho que o sector vem fazendo, de sensibilização e educação pública, tendo em vista a mudança da mentalidade das pessoas”, disse Moisés Comiche.
Para Comiche, o resultado das acções da sua instituição e de parceiros estratégicos vem surtindo efeito, com a crescente da onda de denúncias anónimas que têm culminado com a detenção de, em muitos casos, familiares próximos aos idosos.
“O que nós ensinamos nas comunidades é a necessidade de acarinhar, respeitar e valorizar a pessoa idosa e, quando isso não acontece, é a própria sociedade, vizinhos ou organizações comunitárias que denunciam as práticas nocivas às autoridades”, referiu a fonte.
Durante uma visita à Aldeia do Idoso, localizada no distrito de KaTembe, no bairro Incassane, a nossa equipa conheceu três idosas, com uma história em comum.
São mulheres que já viveram muito e a aparência quase revela a sua idade. As forças já se esgotaram.
Elas têm entre 75 a 80 anos de idade. Têm dificuldades para se locomover, mas continuam activas na agricultura, para ajudar na renda familiar.
Sandra Paiva é responsável por uma associação de idosos e apoia esta iniciativa por considerar um modelo que devia replicar-se.
“Estas mulheres são um exemplo e a exposição dos produtos das suas machambas, couve, beterraba, tomate, é para mostrar aos outros que, apesar da idade, é possível produzir, vender e ganhar uma renda, por mais ínfima que seja, ao invés de recorrer à mendicidade, como temos visto nos centros urbanos”, disse Sandra Paiva.
Segundo dados do censo demográfico do Instituto Nacional de Estatística, em 2017, Moçambique tinha uma média de 877 mil idosos, com indicações claras de tendência de crescimento. Entretanto, este crescimento não é acompanhado pelo desenvolvimento económico e, por isso, surgem os desafios.
Moisés Comiche reconhece os desafios no terreno, mas diz que, nos últimos tempos, há uma tendência de redução dos casos.
Por seu turno, o vice-ministro do Género, Criança e Acção Social defende o envolvimento de todos os segmentos da sociedade, para a erradicação da violência, discriminação e a mendicidade.
“A família, os filhos, os parentes mais próximos da pessoa idosa e a comunidade devem proteger este segmento da sociedade, pois são o pilar da nossa sociedade”, referiu.
O vice-ministro do Género, Criança e Acção Social falava durante as celebrações do Dia Internacional da Pessoa Idosa, que este ano é celebrado sob lema “Por um mundo digital inclusivo às pessoas idosas”, que contou com a participação do secretário de Estado na cidade de Maputo, Vicente Joaquim.