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SISE, SERNIC e PRM investigam estrangeiros suspeitos em Nampula

Dez cidadãos estrangeiros estão sob custódia das autoridades nacionais em Nampula, por terem sido encontrados numa residência, sem documentação, onde se reuniam diariamente no período nocturno. Do grupo, alguns dizem que saíram de Cabo Delgado, o que levanta outras suspeitas que estão em investigação.

Uma equipa multissectorial composta pelo Serviço Nacional de Migração, Polícia da República de Moçambique, Serviço de Informação e Segurança do Estado e Serviço Nacional de Investigação Criminal escalou uma residência, no bairro de Muatala, na periferia da cidade de Nampula, e neutralizou 10 estrangeiros, africanos.

Através de denúncias, as autoridades nacionais tomaram conhecimento de um movimento estranho de homens (jovens) de nacionalidade estrangeira, que se reuniam em grupo no período nocturno, para fins até aqui não conhecidos.

Durante a operação realizada na noite desta quarta-feira, foram encontrados oito homens de nacionalidade costa-marfinense com requerimento de asilo em Moçambique ainda não aceite, e dois que não têm documento algum. Quando a equipa chegou, alguns se esconderam num guarda-roupa, num dos quartos da casa ora invadida e dois subiram por escadas não fáceis de identificar para quem vê a casa da parte frontal e tentaram esconder-se no tecto da casa.

Todos se identificam como muçulmanos e dizem que se reúnem diariamente naquela casa no período nocturno para fazer orações. Entretanto, afirmam que não conhecem o dono da casa, nem o seu paradeiro. O estranho é que, nas proximidades da casa, existem mesquitas onde geralmente a comunidade muçulmana realiza o chamado “Salah”, em referência a uma das cinco orações que os muçulmanos fazem diariamente.

“Abri a porta e eu disse que aqui não é minha casa, a chave está com o dono”, disse um dos imigrantes, com alguma dificuldade de formulação frásica correcta em português e identificou-se como costa-marfinense a residir em Moçambique há alguns anos, dedicando-se à venda de roupa usada na cidade de Nampula.

Um deles disse à nossa reportagem que vendia roupa usada no distrito de Montepuez, na província de Cabo Delgado, mas decidiu, há dias, seguir para Nampula para se juntar à esposa com quem está casado. “Mudei-me para vir recensear para ficar aqui em Nampula. Eu estava em Montepuez a vender ‘calamidade’. [Cheguei] anteontem”. O termo “calamidade” é popularmente usado em Moçambique para referir-se à roupa usada que vem enfardada do exterior e que é bastante vendida nos mercados informais.

Numa primeira fase, o caso está a ser tratado como imigração ilegal, tal como deu a entender Enércia Nota, porta-voz da Migração em Nampula. “Feita a triagem, [constatámos que] estes cidadãos são provenientes da província de Cabo Delgado e alegam vir à província de Nampula fazer recenseamento no INAR. Levantou-nos dúvidas porque estão reunidos numa casa a esta hora e como estamos a trabalhar de forma a desencorajar aquele que se encontra em situação irregular, estamos de dia e de noite a intensificar as acções.”

E porque as informações que deram às autoridades são contraditórias, foram recolhidos todos os telefones celulares para investigações e o grupo foi conduzido às instalações do Comando Provincial da PRM, onde decorre um trabalho aturado de investigação, liderado pelo Serviço de Informação e Segurança do Estado, SERNIC e a própria PRM.

Algumas situações que alimentam a desconfiança das autoridades de investigação é o facto de não ser comum cidadãos de Costa de Marfim pedirem asilo em Moçambique.

Ademais, na província de Cabo Delgado decorre a “Operação Vulção 4” que visa destruir e perseguir todos os esconderijos dos terroristas, pelo que a questão das informações desencontradas apresentadas pelos 10 detidos está ser explorado como uma pista para a descoberta da verdade que pode estar oculta, no contexto de um conflito que tem juntado pessoas de várias nacionalidades nas matas da parte Norte de Cabo Delgado.

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