Hoje, 21 de Março, o mundo celebra o dia mundial das florestas. Uma efeméride que se repete ao longo dos anos desde a sua instituição em 2012. Constitui uma oportunidade para cada ser humano reflectir sobre a importância das florestas, a origem da vida humana e animal, sobre a dinâmica das civilizações modernas e sobre o futuro próximo e longínquo de toda a Humanidade. Mais do que isso, é um momento privilegiado para guardar as florestas bem juntinho ao peito, sentir nele as batidas do coração verde que irradia a energia e a vitalidade da mãe Natureza.
O coração humano, esse bate em busca do oxigénio produzido e generosamente disponibilizado na atmosfera pelas florestas. Elas absorvem o lixo que exalamos em forma de dióxido de carbono, transformando-o num enorme reservatório lenhoso que pode ser utilizado para muitos fins: construção, energia, artes, etc. Para além de fornecer oxigénio, as florestas purificam o ar que respiramos de substâncias tóxicas como o monóxido de carbono, dióxido de enxofre e dióxido de nitrogénio. Daí a sensação de ar puro que se respira dentro e em redor das florestas.
Outro elemento essencial para a vida é a água, colocada à disposição dos seres vivos através do “ciclo da água”. Também nele as florestas têm uma função essencial, fazendo parte da equação complexa de evaporação, sublimação, precipitação, retenção, conservação, purificação, filtragem de água. Graças ao papel crucial das florestas, a água corre ligeira ou se armazena em forma de rios, lagos, lagoas, aquíferos, glaciares ou outras formas de reservatórios do tão precioso líquido.
Na hora de produzir os alimentos essenciais para a vida, a floresta é um provedor incansável, através dos seus ecossistemas ricos em biodiversidade. Fornece verduras, frutos, cogumelos, mel, tubérculos, raízes, antílopes, insectos, aves, anfíbios, crustáceos, peixes, lagartas, mel, etc. Uma panóplia de possibilidades e oportunidades ricas em proteínas, vitaminas, minerais, carbohidratos, ácidos gordos essenciais para uma vida saudável e activa. Os polinizadores naturais multiplicam-se nas florestas, semeando vida no reino vegetal. Mesmo os ecossistemas marinhos que fornecem grandes quantidades de pescado, necessitam das florestas para revigorar a sua capacidade productiva.
As florestas representam um imenso reservatório de biodiversidade ao serviço do planeta e da Humanidade. Metade das espécies conhecidas habitam nas florestas. Se considerarmos apenas as espécies que vivem em terra firme, isso corresponde a cerca de 80% da biodiversidade.
Conjuntamente com os alimentos, as florestas produzem e disponibilizam medicamentos naturais, eficazes e acessíveis para o tratamento de muitas doenças, e cosméticos para o tratamento dos cabelos, dentes, pele e rosto.
Os solos também devem a sua fertilidade e capacidade productiva às florestas, não apenas pelo fornecimento sistemático de matéria orgânica, mas também pelo trabalho de eliminar as substâncias tóxicas prejudiciais ao bom funcionamento dos ecossistemas terrestres.
Também sem as florestas, a superfície terrestre seria um lugar inóspito. Elas representam uma das mais sólidas fortificações contraventos, inundações, erosão, deslizamento de solos e poluição sonora. É nela que muitos seres vivos (incluindo seres humanos) buscam refúgio de ventos, tempestades, inimigos naturais. Cerca de 300 milhões de pessoas, incluindo populações indígenas (como os índios da Amazónia e os pigmeus das florestas da África Central) consideram as florestas como a sua morada natural e uma divindade a respeitar. Os restantes, buscam nela os materiais de construção para as suas casas e outras edificações.
No calor abrasador equatorial, estão as frondosas copas das árvores que absorvem o calor e fazem circular o ar fresco que possibilita uma vida serena e tranquila Numa dimensão mais global, a fotossíntese sequestra o dióxido de carbono prevenindo o aquecimento global e as mudanças climáticas.
Para muitos povos, as florestas fornecem uma energia renovável de valor inestimável, para cozinhar ou aquecer as casas durante a estação fria ou para espantar alguns perigos.
Actualmente, estima-se que cerca de 1.6 bilhões de pessoas utilizam produtos florestais como matéria-prima em múltiplas cadeias de valor e na geração de empregos, como por exemplo na produção de papel, mobília, medicamentos, frutos silvestres, materiais de construção, roupas etc. Também gera oportunidades para o turismo e produção artística.
Uma das mais belas contribuições das florestas para a Humanidade é o prazer de olhar o colorido das paisagens, suas floras caprichosas e seus odores perfumados que alimentam a alma. Embora os poetas e artistas plásticos transmitam essa emoção nas suas obras, é na expressão silenciosa de pessoas comuns que escondem memórias e experiências pessoais únicas de felicidade e bem-estar.
Curiosamente, e por tudo isto, a floresta exige tão somente o seu direito legítimo de existir. Que a guardemos bem juntinho do coração, envolto de amor, responsabilidade, respeito e carinho. Neste momento em que a Humanidade avança para uma crescente urbanização, cresce também a necessidade de cultivar bons hábitos de proteger as florestas contra o desmatamento, contra as queimadas descontroladas, e o abate indiscriminado com fins comerciais.
Pensando bem, a base de recurso naturais que sustenta a vida no planeta é multifacetada e complexa: água, solos, florestas, fauna, ar, energia solar, etc. Não podemos olhar separadamente para cada uma delas. Estão todas interconectadas e se apoiando mutuamente.
Hoje colocamos as florestas no centro desse olhar, como uma justa homenagem. O tema da jornada é: “As florestas e as cidades mais sustentáveis”. Uma convivência que se impõe perante os desafios demográficos da modernidade: em 2050, cerca de 6 bilhões de pessoas viverão em cidades. Não se justifica que, sob o pretexto de construir cidades, abrir campos de cultivo e de pastagem se decapitem as florestas.
A urbanização não deve significar a rejeição e o desrespeito da floresta e da Mãe Natureza. Pelo contrário, a floresta pode e deve estar implantada dentro das cidades do futuro e no coração de cada um, cultivando novos afectos relativamente à essa grande divindade natural. Plantar uma arvore é plantar a esperança e a felicidade no mundo e dentro de cada ser Humano.