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Seis em cada 10 crianças não sabem ler nem contar no país

Deve haver envolvimento de toda a sociedade na busca de soluções para a crise da qualidade de educação em Moçambique. O posicionamento é defendido pelo antigo ministro da Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH) e reitor da UP-Maputo, Jorge Ferrão, que falava, ontem, num fórum de diálogo de políticas do sector.

Segundo estudos da sociedade civil, em Moçambique, seis em cada 10 alunos, de até 10 anos de idade, não sabem ler nem contar. O facto, aliado aos erros nos manuais escolares e provas e baixo aproveitamento, constitui um grande entrave para a educação no país.

Questionado sobre o assunto, Jorge Ferrão diz que a situação é preocupante e é uma missão deveras complicada de solucionar, devido à complexidade do processo e nível de exigências, por isso o assunto vai continuar, por algum tempo, como agenda de debate.

Segundo o reitor da UP-Maputo, para se atravessar o momento, é preciso que se tenha em mente que a situação já não está apenas nas mãos de quem tutela a pasta da educação. É preciso o envolvimento de todos.

“Pelas estatísticas, temos 55% de alunos, de até da 7ª classe, que não sabem ler nem escrever, e esta educação que estamos a dar assemelha-se muito ao processo de alfabetização; aprender a ler, a calcular e a língua constitui um desafio”, reconheceu Ferrão.

Como solução, o antigo ministro da Educação e Desenvolvimento Humano aconselha a “buscarmos, por região, soluções globais, com a participação dos pais, da sociedade civil, das confissões religiosas e, por que não, dos partidos políticos. Assim, não teremos como apontarmos o dedo aos outros, mas sim a nós mesmos e nós mesmos buscamos soluções”.

Jorge Ferrão avançou, ainda, que a fraca qualidade no ensino médio afecta o desempenho no ensino superior. Para ele, é um erro pensar que a universidade tem fórmula mágica.

“Nós olhamos para o ensino superior, muitas vezes, como a salvação de um processo que se arrastou de forma errada. Isso equivale a construir uma casa começando pelo tecto, só depois avançar para as paredes. Jamais essa casa teria sustentabilidade”, exemplificou.

A sociedade civil, que também participou no diálogo, defende a existência de políticas claras e direccionadas aos reais desafios dos sector de educação.

Nércia Manjate, da World Education, diz que a situação actual do país exige mais intervenção das autoridades, desde a implementação de políticas, sua consolidação, até que surtem efeitos desejados.

“Olhando para a nossa realidade, diríamos que o nosso sistema está em colapso. Por isso, precisamos de olhar, desde já, para questões específicas, para os fazedores da educação, sobretudo o currículo, que precisa de ser adequado à realidade das crianças”, disse a pesquisadora.

A qualidade de quem ensina também foi colocada em causa. O professor é chamado a intervir com mais dinâmica, profissionalismo e dedicação, por forma a reverter a situação.

O representante dos professores disse que não é bem assim, pois, de uns tempos para cá, muito foi feito e houve melhorias inquestionáveis no que concerne à qualidade de formação, porém há problemas que resultam da gestão do sector.

“Durante as aulas, nós prestamos assistência a 60 alunos, que devem captar a informação no mesmo minuto e ou segundo. Mas, ao fim de um período, o resultado é catastrófico: isto porque não estamos a conseguir controlar os 60 alunos em cada turma. Então, é preciso resolver a situação da superlotação e a capacitação contínua dos professores em exercício”, defendeu a classe, Teodoro Muidumbe, secretário-geral da Organização Nacional dos Professores.

Os intervenientes falavam, esta terça-feira, no diálogo de políticas para a promoção da literacia e numeracia, que contou com a presença de diversos intervenientes na educação em Moçambique.

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