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Juventude não pode ser escudo de políticos gananciosos, alerta Constantino André

À volta de uma fogueira acesa no coração da noite, dezenas de jovens de Inhambane reuniram-se para refletir sobre os desafios que enfrentam no dia-a-dia — desde as dificuldades de acesso ao emprego e educação, até à sua participação na vida política e social do país. O encontro, marcado por um ambiente descontraído mas carregado de simbolismo, tornou-se palco para uma intervenção incisiva do Secretário-Geral da Organização da Juventude Moçambicana (OJM), Constantino André, que não poupou palavras ao alertar para o que considera ser um dos maiores perigos que afetam a juventude moçambicana: a sua instrumentalização por parte de políticos gananciosos.

Com voz firme, André sublinhou que existem atores políticos que veem os jovens não como parceiros para o desenvolvimento do país, mas como ferramentas descartáveis para cumprir agendas pessoais, muitas vezes obscuras e divorciadas do interesse nacional. “Há políticos que usam a juventude como escudo. Usam os jovens para sustentar projetos de poder que, em nada, respondem às necessidades reais do nosso povo”, disse, perante olhares atentos dos participantes.

O dirigente da OJM reforçou que, mais do que nunca, os jovens precisam estar conscientes do seu papel histórico e não se deixar manipular. “O nosso apelo é simples e direto: concentremo-nos em desenvolver Moçambique. O jovem não deve ser instrumento de quem quer que seja. Não deve ser usado para criar desordem, nem para destruir infraestruturas públicas e privadas. Porque, no final, os maiores prejudicados seremos nós próprios, os jovens, e o desenvolvimento do país fica comprometido”, afirmou.

Num discurso em que a crítica se mesclou com o apelo à consciência coletiva, Constantino André lembrou que os jovens sempre desempenharam um papel central nas grandes viragens da história de Moçambique. “Os jovens de ontem sacrificaram-se. Deram a sua vida para que conquistássemos a independência depois de 500 anos de jugo colonial. Hoje, nós somos os continuadores naturais dessa luta. Mas a nossa missão já não é pegar em armas. É lutar com a nossa energia, a nossa vitalidade e a nossa criatividade para construir o país que sonhamos”, declarou, despertando fortes aplausos.

Para o secretário-geral da OJM, os desafios da atualidade exigem a mesma coragem e determinação que orientaram a luta pela libertação, mas aplicadas a um novo campo de batalha: o desenvolvimento económico e social. “A independência económica não vai cair do céu. Não será fruto de casualidades. Será o resultado de muito trabalho, de esforço coletivo, de sacrifício e da conjugação de sinergias. Só assim poderemos celebrar novas conquistas e alcançar as chamadas novas independências, que são tão urgentes quanto a que alcançámos em 1975”, vincou.

Durante a interação, Constantino André não se limitou a apontar os problemas. Procurou também inspirar os jovens a assumir a liderança das soluções. “Nós, como juventude, temos de ser os protagonistas do futuro. Não podemos ficar à espera que outros definam o nosso destino. Temos de participar, de propor ideias, de inovar, de usar o nosso conhecimento e criatividade para transformar as comunidades onde vivemos”, sublinhou, acrescentando que a juventude deve ocupar espaços de decisão em todos os níveis — da política à economia, da ciência à cultura.

A mensagem foi recebida com atenção por jovens que, reunidos em torno da fogueira, aproveitaram o momento para partilhar as suas angústias e aspirações. Muitos expressaram preocupações relacionadas com o desemprego, a exclusão social e a falta de oportunidades, desafios que, segundo eles, contribuem para a vulnerabilidade da juventude à manipulação política.

André reconheceu essas dificuldades, mas insistiu que a juventude não deve deixar-se paralisar por elas. Pelo contrário, deve transformá-las em combustível para a mudança. “É verdade que há carências, é verdade que há dificuldades, mas isso não pode ser desculpa para nos deixarmos arrastar por projetos que só servem interesses obscuros. Precisamos usar essa mesma energia de inconformismo para criar alternativas, para construir soluções que sirvam Moçambique”, disse.

O secretário-geral da OJM aproveitou ainda para recordar que a juventude é a força mais numerosa do país e, por isso mesmo, tem uma responsabilidade proporcional na construção do futuro. “Mais de metade da população moçambicana é jovem. Isso é uma vantagem enorme, mas também é uma responsabilidade. Se os jovens se distraírem, todo o país perde. Mas se os jovens se focarem no essencial, todo o país avança”, frisou.

A visita de Constantino André a Inhambane insere-se numa série de encontros de trabalho com jovens de vários distritos da província, onde o objetivo é ouvir, dialogar e, sobretudo, incentivar a participação ativa da juventude na vida política, económica e social de Moçambique. “Queremos que os jovens sintam que são parte da solução, e não apenas espectadores ou instrumentos. É essa a essência da OJM: mobilizar a juventude para construir o futuro”, concluiu.

Num tempo em que o país enfrenta múltiplos desafios — desde a crise económica até aos elevados índices de desemprego juvenil — o apelo de Constantino André ganha uma relevância especial. Mais do que uma crítica à classe política, é um chamado à consciência da juventude para não deixar que a sua força seja desviada de um propósito maior: o de construir um Moçambique mais justo, mais próspero e verdadeiramente independente.

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