Xi-Cau Cau – Sec de Estado
De Ministério dos Desportos, passa-se para Secretaria de Estado. O desporto sairá a ganhar ou a perder? O importante, nesta altura, é “acertar o passo” com o Mundo. É cedo para endereçar felicitações ao novo titular, Gilberto Mendes.
Importa porém referir que a visão do PR, que o nomeou, aponta para o caminho de um maior realismo, numa área que, se fôr bem conduzida, poderá trazer múltiplos benefícios aos cidadãos e ao país.
Para mim que vivi e vivo com fervor, ao longo de décadas, as incidências do desporto no país, é preferível esperar – activamente como sempre – para depois elogiar ou criticar… conforme as circunstâncias. CAIR NA REAL e acertar o passo com o mundo, deverá ser o passo a seguir.
Isto porque, “municiado” pelo então MJD – perdoem-me a ousadia – não gostaria de voltar a ouvir do mais alto magistrado da nação, a asserção feita em 2019, de que este ano foi o de melhores resultados no desporto pós-Independência.
Aferição com base em que dados? As dezenas de medalhas conquistadas em modalidades que, juntas, não passarão de “uma mão cheia de nada” quando comparadas com o ouro olímpico de Lurdes Mutola, em Sidney, algo em que nenhum país dos PALOP chegou ao bronze?
Os números, lidos com pés bem assentes no chão, levam-nos à constatação de que os outros países não estão a dormir. Há que lê-los através dos “rankings”, que só nos interessam quando nos são favoráveis…
DESAFIOS COM BARBAS
Encontrar formas de passar das intenções à prática o “slogan” investir no futuro, pois matéria-prima não nos falta;
Chegar a um “casamento real” entre o desporto escolar, que só tem acção e visibilidade de dois em dois anos, nos Jogos Escolares, com o competitivo;
A partir de um estudo profundo dos prós-e-contras, definir as modalidades prioritárias, tendo em conta, o bio-tipo do nosso cidadão, o histórico do desporto nacional e também se… queremos ser dominadores onde os outros não investem ou tudo fazer para sermos competitivos entre os fortes;
Não nos basearmos nos “rankings” só quando nos são favoráveis. Ex: no futebol, já estivemos no lugar 68 da FIFA e agora quedamo-nos abaixo do 110. Se é que evoluímos, então os outros avançaram a níveis bem superiores;
Passar a “estrelar” os craques que no terreno marcam as diferenças, aos vários níveis e modalidades, diminuindo a mediatização dos dirigentes, aquando das eleições nos clubes, associações e federações;
Priorizar – e se possível iluminar – os poucos recintos desportivos para a prática desportiva, evitando que os mesmos sejam regularmente “bloqueadas” para cultos religiosos ou espectáculos musicais;
Inculcar na criançada, a partir de acções concretas – revistas, cromos, concursos, etc., – o gosto também pelas estrelas nacionais, contrabalançando com o que “importamos” de Messi, Ronaldo & companhia;
Transformar a final da Taça de Moçambique em futebol, no símbolo da maior festa desportiva nacional, com a presença do Chefe de Estado, à semelhança do que acontece em muitos países.
CADA MACACO NO SEU GALHO
Tem sido recorrente a teoria de que um Ministro não precisa de ser conhecedor de uma determinada área para a dirigir bem. Basta ser um bom gestor. Será?Uma das “vítimas” disso tem sido o desporto. Tivemos Mateus Kathupa, Pedrito Caetano, Nkutumula ou Nheleti Mondlane, que passaram pelo Ministério para cumprir uma missão (ou acomodação?) como autênticos meteoros.
A partir do dia em que foram desafectados, raríssimas vezes os vemos nos campos ou noutras acções da área que antes dirigiam. Onde mora(va) a paixão por algo tão apaixonante?
Perante esta constatação, algo sempre me intrigou:
Ministério das Finanças, Saúde, Justiça, Transportes… porque é que não me vêm à memória, nomes de titulares de um destes ministérios (re)conhecidos como importantes, ter sido dirigido por alguém, com carreira de fora dessas áreas?