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“Se eu tivesse pago os MZN 1000, teria voltado para casa com a minha bebé”

Foto: O País

Uma mulher de 26 anos acusa os profissionais de saúde do Hospital Provincial da Matola de a terem cobrado 1000 Meticais, para que a ajudassem a dar parto. Uma vez que a mulher não tinha o valor, acredita que, por isso, não teve a devida assistência e acabou por perder a bebé.

O caso deu-se na quinta-feira, 26 de Outubro. A mulher de nome Hortência Francisco deu entrada no Hospital Provincial da Matola por volta das 14 horas. Quando chegou, diz que pagou os 100 Meticais na recepção, valor pago por lei; após isso, foi encaminhada para uma sala onde foi observada por um médico.

Após o procedimento normal, a mulher ficou com as profissionais de saúde. Conta que era uma enfermeira e duas estagiárias, que a questionaram se precisava de ajuda, tendo ela respondido positivamente.

“Então, disseram que, se eu quisesse ajuda, devia pagar 1000 Meticais e respondi que não tinha o valor. Daí, elas perguntaram se o meu marido não tinha como arranjar e eu respondi que não, que ele começou a trabalhar fazia pouco tempo e que ainda não tinha dinheiro, daí levaram-me para sala de parto e uma delas disse às colegas que eu estava à espera do meu marido, fiquei espantada, porque não estava a entender o que meu marido tinha a ver com o meu parto e com aquelas senhoras?, desabafou a mulher, chorando.

Ali, começava o pesadelo de Hortência. Ela conta que as contracções ficaram fortes e as dores não davam tréguas, pedia ajuda, mas a única resposta que obtinha das parteiras eram insultos e palavras como “se estás a sentir dor, onde é que nós entramos?!”. Hortência diz que o pior não aconteceu porque, horas depois, o médico voltou, foi nesse momento em que as parteiras começaram a “mexer-se”, já às 19 horas.

Conforme conta, a bebé nasceu viva, mas com complicações de saúde, por isso foi encaminhada para a Sala de Reanimação, mas não terá resistido e perdido a vida horas depois. Entretanto, Hortência duvida que a sua filha esteja morta.

“No dia seguinte, por volta das oito horas, vieram-me informar que o bebé falecera às 23 horas, chorei muito… Horas depois, chegou a minha cunhada e fomos à morgue ver o cadáver; quando lá chegámos, vimos que o bebé era gordo e tinha cabelo, e logo vi que não era o meu, pois o meu tinha cabelo e era magrinho, não acredito que, das 23 horas que morreu para as 14, ele tenha inchado”, lamentou.

Outro facto que diz ser estranho é que a criança não tinha nenhuma identificação e que, no momento em que teve alta, lhe deram um documento que indicava que, para além dos comprimidos que devia tomar, sete dias depois devia levar a criança para o primeiro peso e isso a fez questionar: “Como levar uma criança morta para o peso?!” E, acrescentou: “Eu tenho certeza de que tudo isso aconteceu porque eu sou pobre, não tenho dinheiro e não sou daqui de Maputo (Hortência é natural de Nampula), porque, se tivesse pago os 1000 Meticais, teria voltado para casa com a minha bebé”.

Hortência conta que partilhou o quarto com sete mulheres, que igualmente foram vítimas de cobranças ilícitas e todas pagaram valores que partiam de 300 até 2000 Meticais, conforme relataram durante uma conversa com as colegas de quarto.

A mulher pede apoio, para que os responsáveis sejam responsabilizados criminal e disciplinarmente, pois acredita tratar-se de um crime que tem feito muitas mulheres vítimas.

O jornal O País entrou em contacto com o Hospital Provincial de Maputo, que não aceitou nem negou as acusações, mas prometeu investigar o caso e pronunciar-se em uma semana.

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