O País – A verdade como notícia

Sandra Tamele distingue-se no concurso de tradução com livro de Carlos Paradona

A tradução de português para inglês de Tchanaze, a donzela de Sena, da autoria de Carlos Paradona, feita por Sandra Tamele e Jethro Soutar, é uma das distinguidas no Prémio PEN Translate, na Inglaterra.

 

A primeira edição de Tchanaze, a donzela de Sena foi lançada em 2009, pela Associação dos Escritores Moçambicanos. Ao fim de 11 anos anos, Jethro Soutar, da editora Dedalus África, interessou-se em traduzir o romance de Carlos Paradona, cujo enredo místico investe no enaltecimento da mulher e do espaço geográfico do Vale do Zambeze.

Jethro Soutar importou-se em traduzir do português para o inglês a obra literária do escritor moçambicano porque percebeu que merece ser apresentada aos leitores britânicos. Na impossibilidade de realizar esse trabalho sozinho, Soutar convidou Sandra Tamele. Assim, a tradutora moçambicana garantiria a legibilidade de aspectos inerentes a essa donzela de Sena que ultrapassa a dimensão racional da realidade. Já a Soutar caberia afinar aqueles aspectos técnicos que um falante não nativo ignora. “Por isso começamos a colaborar”, afirmou Sandra Tamele.

Com o acordo firmado, os dois tradutores concorreram ao Prémio PEN Translates, cujos vencedores foram anunciados esta quinta quinta-feira, na página online da English PEN.

Para que Tamele e Soutar fossem reconhecidos pelos membros do júri, bastaram alguns capítulos traduzidos, conforme ditaram as regras do concurso – a isso chama-se amostra de tradução –, o que significa que o trabalho de traduzir o romance de Paradona continua e deverá durar até dois anos. “Estaremos a colaborar em diversos moldes e em contacto constante para que, de facto, a tradução seja publicada num período de 24 meses definidos pelo Prémio PEN”.

Quando a tradução estiver concluída, Tchanaze deixará de ser apenas a donzela de Sena para se tornar, como se pretende, a donzela do mundo.  A responsabilidade de tornar a personagem famosa será da Dedalus, comprometida em propor ao seu público autores e narrativas diferentes do que a tradução literária britânica tem geralmente privilegiado.

Apesar de o processo de tradução estar no princípio, Sandra Tamele confessou, esta quinta-feira, que não é fácil traduzir Tchanaze porque há coisas que se lhe escapam, apesar de ser moçambicana. Ainda assim, não vê nisso um constrangimento insuperável. Pelo contrário, tem uma solução:  “Há coisas que serão resolvidas pelo colectivo de tradução e com a colaboração do autor”.

Para Sandra Tamele, ser uma das vencedoras do PEN Translates é positivo porque há anos que essa instituição tem-se focado à criação de programas de estímulo à tradução de literatura de outras partes do mundo, tendo em conta que o panorama literário britânico só lança, conforme explicou, 3% de autores que não sejam britânicos ou que não escrevam em inglês. “Portanto, para tentar enriquecer a diversidade bibliográfica e oferecer aos leitores uma visão mais ampla do mundo fora do contexto inglês, eles criaram um programa que financia tradutores”.

As boas práticas de tradução ditam que um tradutor deve traduzir de uma língua estrangeira para a sua língua materna, e não o inverso. Por isso mesmo, um dos objectivos de Sandra Tamele é descolonizar essa noção de tradução. E promete: “Todos os termos em cicena, do romance Tchanaze, serão mantidos”. Com tal procedimento, os tradutores pretendem valorizar a língua e a cultura moçambicanas”. E promete mais: “Queremos abolir as notas do tradutor e os glossários, que, de certa forma, tornam a nossa criação literária como se fosse um objecto sem o mesmo peso que uma escrita originalmente feita numa determinada língua”. Reforçando: “Para mim, é uma honra constar na lista de vencedores, com tradutores muito mais experientes do que eu”.

Reagindo à novidade, Carlos Paradona afirmou que é com muita satisfação, alegria e orgulho que soube que a tradução da sua obra distinguiu-se no estrangeiro. “A Sandra está de parabéns! Isso significa que nós, moçambicanos, unindo forças, podemos chegar muito longe”.

No Prémio PEN Translates foram distinguidos 21 títulos provenientes de 19 países, com centenas de candidatos de todo o mundo. Além de conferir prestígio aos laureados, o prémio inclui apoio à tradução e possibilita a edição do texto traduzido pela Dedalus.

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos